Os resultados estatísticos de junho de 2020 do INDA atestam a recuperação acelerada do setor de Distribuição de Aço no Brasil.

Marcus Frediani

No dia 21 de julho, o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (INDA) divulgou os dados do setor para o mês de junho, celebrados com otimismo pela entidade. E os dados foram considerados “bons” em termos de recuperação pelo presidente executivo do INDA, Carlos Jorge Loureiro. “No geral, o desempenho da Distribuição de Aço no Brasil em junho de 2020 apresentou números superiores àqueles computados no mesmo mês do ano passado”, comemora ele.

Por um lado, essa performance foi muito influenciada pela diminuição de oferta das usinas, como resultado da grande queda que elas tiveram em março e abril, com o subsequente anúncio antecipado feito pelas siderúrgicas de que haveria aumento dos preços do aço, o que realmente se concretizou nos primeiros dias de julho. “E assim, sem grandes pressões para colocar o material de qualquer maneira no mercado, ambos os fatores, é claro, acabaram criando um clima positivo para os negócios dos distribuidores”, explica Loureiro.

Nesse cenário, ainda segundo o presidente executivo do INDA, outro fator que contribuiu para os bons resultados de junho de 2020 foi a variação do câmbio do dólar e os preços do aço no mercado global, que estão em vetor de alta, o que fez com que os preços dos produtos importados ficassem até 15% mais caros, dependendo do tipo de aço. “E vale repetir, como sempre fazemos, que o INDA não consome absolutamente nada: ele representa a revenda e participa dessa forma da oferta. Então, o que regula a compilação de nossos dados tem muito a ver com o consumo aparente”, complementa.

DISTRIBUIÇÃO POR SETORES

Entretanto, a boa evolução dos resultados da Distribuição de Aço em junho revelada pelo INDA não foi generalizada. Enquanto setores ligados à Construção Civil, ao Agronegócio, à Energia Eólica e Solar, bem como ao de Bens de Capital venham se recuperado razoavelmente bem – e, por conta disso, turbinado grande parte do crescimento dos distribuidores do produto –, a Indústria Automotiva continua não dando sinais consistentes de reação.

“Assim, embora segmentos como o de Caminhões e de Implementos Rodoviários estejam conseguindo fazer isso, o de Automóveis ainda está amargando sérios percalços. E, logicamente, o desempenho dos distribuidores de aço está atrelado a essa equação. No caso emblemático da Construção Civil, que está caminhando para normalidade, outros índices ratificam essa realidade, como é o caso da Indústria de Cimento, que, pelos dados preliminares, cresceu 24% em relação a julho do ano passado, e cerca de 5% em relação ao 1º semestre de 2019, Na prática, ela sofreu muito pouco, em que pese o fato de que, nos dois primeiros meses de 2020, essa Indústria tenha registrado uma leve queda em suas operações”, destaca Carlos Loureiro.

De maneira geral, no entanto, a Distribuição de Aço não passou incólume aos impactos da COVID-19. Houve certo “encolhimento” nas operações, muito mais focado em adequações estratégicas de técnicas e de gestão, do que propriamente em ações como dispensa de pessoal, que foram relativamente pequenas e trocadas por férias, reduções de salários, diminuição de turnos e soluções como o home-office para o pessoal administrativo. “E nosso setor não sofreu sequer com aumentos dignos de nota no que diz respeito à inadimplência, que, como se sabe, foi um ‘medo’ e um problema sério para muitos outros”, faz questão de registrar o presidente executivo do INDA.

PERCEPÇÃO DOS OPERADORES

Aliás, as opiniões de quem está à frente do negócio da Distribuição de Aço, com menor ou maior impacto e graus de otimismo em relação ao futuro, deixam claro que os danos causados pela pandemia do novo coronavírus deixaram marcas profundas em suas organizações.

Isso fica claro, por exemplo, no depoimento de Paulo Zacharias, diretor comercial da Multiaços, empresa com matriz localizada em Mauá, na Região do ABC Paulista, e que atua no fornecimento de aço e alumínio para praticamente todos os segmentos da Indústria. “Falando com sinceridade, tivemos uma queda significativa no nosso faturamento, generalizada por todos os clientes que atendemos. Trabalho na área comercial desde 1978, e nunca passei por algo semelhante. Estamos retomando à normalidade bem devagar, torcendo para que não haja uma segunda onda da pandemia, porque, se isso acontecer, a distribuição terá sérios problemas, até mesmo de sobrevivência”, pontua.

“Sentimos os maiores impactos em nossas vendas no mês de abril. Mas, já há partir de maio observamos uma leve tendência de retomada, que vem crescendo gradualmente: junho foi melhor que maio, e julho está sendo melhor do que junho. Mesmo assim, acredito que não deveremos voltar ao normal até o final de 2020. No máximo, os resultados deste ano atingirão 80% do faturamento que registramos em 2019”, projeta, por sua vez, João Luís Groth, diretor da Nacional Tubos, de Limeira, no interior de São Paulo, que trabalha com uma vasta gama de produtos de aço baixo carbono de altíssima resistência, cada vez mais usados pelos fabricantes de implementos agrícolas, e toda linha de materiais de fina frio e fina quente e que, a exemplo de Multiaços, já calcula uma queda de 20% de seus negócios em 2020.

O mês de abril também foi bastante ruim para os negócios da Paulifer, empresa com sede em Itapecerica da Serra, município localizado na Região Metropolitana de São Paulo, e forte atuação no fornecimento de laminados de aço carbono e chapas grossas para uma ampla gama de segmentos, entre os quais os de Agroindústria, Sucroalcooleiro, Construção Civil, Energia, Metalúrgico, Naval e Petróleo & Gás, além de inúmeras indústrias de base e de bens de capital. “Contudo, também estamos sentindo uma retomada mês a mês desde de maio, processo que, esperamos, poderá reconduzir nosso patamar de vendas à normalidade já no 1º semestre de 2021”, pondera Antônio Gurgel Neto, diretor comercial da Paulifer