Especialista aponta quais serão as tecnologias fundamentais para as empresas no pós-pandemia.

Marcus Frediani

Uma coisa é certa: o uso de tecnologias já está consolidado como o denominador comum no mundo corporativo. De acordo com pesquisa divulgada no último mês do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), 34% dos entrevistados preveem que a pandemia terá uma consequência positiva: uma onda de investimentos em Tecnologia da Informação (TI) e a pandemia como um catalisador de processos que, se fossem por “vias naturais”, iriam demorar mais para acontecer.

Segundo Rogério Soares, diretor de Pré-Vendas e Serviços Profissionais da Quest Software, fornecedora global de soluções de software para simplificar demandas da TI corporativa, os pilares de sustentação dessa nova estratégia de infraestrutura estará calcada no uso em ferramentas específicas para aprimorar ou até mesmo iniciar seus processos de Transformação Digital. Conheça algumas das principais delas nesta entrevista exclusiva que o executivo da Quest concedeu à revista Siderurgia Brasil.

Siderurgia Brasil: Rogério, como a pandemia do novo coronavírus impactou o ritmo da Transformação Digital nas empresas ao redor do planeta, e em que medida deve impulsioná-la no futuro?

Rogério Soares: Podemos dizer, sem dúvida, que a pandemia impôs a necessidade de uma súbita Transformação Digital. A grande maioria das empresas ao redor do mundo tinham políticas muito restritas sobre acesso externo ao seu ambiente de TI, e muitas delas tinham no modelo físico seu principal canal de trabalho com seus clientes. Tudo isso gerou essa mudança para as relações digitais com parceiros, funcionários e clientes. Mesmo após o fim da epidemia, estará evidente que grande parte das atividades virtuais devem permanecer e, portanto, as empresas que tiveram o primeiro impulso de mudança devem fazer da Transformação Digital uma melhoria contínua e ter nisso seu diferencial nas relações comerciais.

Quais são os principais vetores que você identifica nesse processo, mais precisamente relacionados à Transformação Digital no “Novo Normal”?

O primeiro vetor que impulsionou este processo foi o da comunicação. Com isso veio a demanda por tecnologias que permitissem reuniões de forma prática, segura e acessível por qualquer meio digital (como computador, notebook, celular, tablet) e todos se comunicando ao mesmo tempo. Outro vetor importante é o da segurança. As empresas tiveram que incrementar ainda mais sua segurança digital, dado que agora os usuários acessam dados de sua empresa a partir de sua casa. Outro ponto importante é a gestão de identidades. Como as empresas permitem acesso de seus funcionários a partir de qualquer ponto de internet, hackers estão tentando roubar a identidade digital das mais diversas formas. Assim, uma gestão rígida do controle de identidade permite conhecer o que cada colaborador deve ou não acessar. Qualquer comportamento estranho, como o de um hacker que roubou uma identidade digital e está tentando roubar dados é identificado rapidamente com inteligência artificial e é evitado que o comportamento estranho prossiga. Um último vetor, mas não menos importante, é o de aumento de consumo de internet das pessoas. Dentro das casas podem haver pessoas trabalhando, outras estudando e até mesmo vendo filmes/séries e se divertindo na internet. Isto requer equipamentos e conexão mais estáveis, maior consumo de banda e maior quantidade de dados em cada casa.

Em termos de tendências, como você analisa os caminhos que deverão ser seguidos a partir de agora com relação à ferramenta de Armazenamento em Nuvem, a chamada Cloud Computing?

Cada vez mais as empresas identificam o Cloud Computing como a opção mais economicamente viável e segura para armazenar seus dados. Utilizar serviços de nuvem para armazenamento permite que as empresas não mais precisem se preocupar com aquisição/renovação de equipamentos e softwares de armazenamento, podendo contratar um serviço em que saibam exatamente quanto vai custar e como deverá ser pago. É importante ressaltar que as empresas não precisam decidir sobre guardar dados em sua infraestrutura ou na nuvem, muitas empresas podem trabalhar no chamado modelo híbrido, decidindo quais partes de seus dados que deseja armazenar em cloud e quais partes desejam manter em ambiente local.

Nesse âmbito da Inteligência Artificial (IA) uma das tecnologias que vêm cada vez mais ganhando corpo é a Inteligência Digital de Gestão de Fornecedores (ID). Por que ela é tão importantes?

Porque ela consegue explorar toda a riqueza de dados e informações que as empresas já tenham sobre seus fornecedores e clientes, permitindo cruzá-los para formatar estratégias de negócios. Isso significa que as empresas conseguirão conectar a capacidade de seus fornecedores com o comportamento e necessidade de seus clientes. É importante que ID de gestão de fornecedores não sendo visto apenas como forma de agilizar, melhorar eficiência e preço, mas sim, como forma de gerar nova experiência a seus clientes. Isso significa gestão e automação de toda a cadeia dos stakeholders de uma empresa.

E quais os principais desafios que as empresas deverão enfrentar a partir de agora na trilha da Transformação Digital, a fim de garantir sua eficiência e competitividade?

O principal desafio que as empresas já estão enfrentando é definir qual sua estratégia para o mundo pós-pandemia. Muitos players impuseram transformações digitais para que pudessem continuar operando durante a pandemia e o lockdown em muitos locais. A partir de agora, as empresas sabem que não podem simplesmente retornar ao estado anterior, quando seus cliente e funcionários viveram a experiência do virtual. Sobre a eficiência, muitas empresas perceberam o aumento de produtividade de seus colaboradores que não precisam se deslocar de sua casa até sua empresa, muitas vezes de forma demorada, para que possam trabalhar. Também é percebido que muitos custos de viagens e deslocamentos podem ser evitados com ambiente virtuais altamente eficazes e cada vez mais capazes de emular uma presença física. Conforme falado em vários pontos acima, a melhoria da eficiência está tocando em todos os pontos da empresa, com gestão digital e inteligência artificial para ajudar desde a relação com os seus fornecedores, a forma de trabalho de seus colaboradores e a experiência do cliente final. Estar pronto para melhorar a forma da Experiência do Usuário (do inglês “Usuary Experience”, ou, simplesmente, “UX”) será o grande diferencial de competitividade das empresas, criar modelos de inovação constante e capacidade de adaptação será o ponto que permitirá às empresas demonstrarem que estão aptas a atender seus clientes e proporcionar experiência única.

Com a aceleração do processo e o subsequente aumento da complexidade da gestão da infraestrutura das organizações, quais os principais pontos sobre os quais elas deverão se debruçar? Existe uma estratégia específica ou um “passo a passo” para se fazer isso?

Veja bem, não existe uma estratégia única para que as empresas sigam, mas há passos importantes que devem seguir independente do modelo que adotem. O primeiro passo é que os departamentos de Tecnologia da Informação (TI) tenham clareza da capacidade atual de sua infraestrutura e qual o crescimento planejado para a empresa. Esse conhecimento permite que os executivos de TI possam colocar em uma linha do tempo o seu planejamento de atualização e crescimento. Assim, este primeiro passo já pode ajudar em definições estratégicas, tais como contratação de parceiros, nuvem ou outras formas de expansão de acordo com o tempo requerido pelo negócio e com custos gerenciados de forma eficiente. Outro passo importante é estar atento às legislações e regulamentações, leis como a Lei Geral de Proteção de Dados que estão a caminho geram um grande impacto na infraestrutura de TI e atende-las não é opcional. Neste caso, as empresas podem contar com parceiros especialistas para ajudá-los a planejar e se preparar para entender de forma segura a legislação.