Otimista, Marcos Faraco, novo presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, faz a sua leitura do momento atual do mercado siderúrgico brasileiro.
Em setembro, Marcos Eduardo Faraco, vice-presidente da Gerdau Aços Brasil, Argentina e Uruguai, assumiu o posto de presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil. Conforme prevê o estatuto da entidade, ele permanecerá no cargo pelos próximos dois anos, substituindo Sergio Leite de Andrade, presidente da Usiminas.

Faraco assumiu o cargo num momento emblemático e delicado de 2020, no qual as projeções de fechamento da produção brasileira de aço bruto no ano, agravada pela COVID-19, se encontra em vetor de queda, como também demonstram os indicativos de consumo aparente, vendas internas e exportações.
Contudo, na leitura do executivo, o pior já passou. “O fundo do poço para o setor foi em abril. No ápice da pandemia no Brasil, houve forte queda de consumo e a indústria brasileira do aço teve que adequar suas produções, chegando a operar com apenas 45% de sua capacidade instalada. Os prognósticos de queda do PIB eram então sombrios não só no Brasil como na grande maioria dos países. Felizmente, a retomada da atividade econômica vem sendo mais rápida do que o previsto. Logo que os primeiros sinais de retomada da demanda de aço surgiram, o setor do aço começou a reativar sua produção, para atender com brevidade ao retorno dos pedidos dos clientes. Atualmente, a utilização da capacidade instalada é de 68,4%”, detalha ele.

FOCO NO MERCADO INTERNO
Embora os números atualizados do setor não possam ser comemorados, vítimas da forte queda de demanda que se observou como reflexo da paralisia entre seus setores consumidores – com todos os setores atendidos pela indústria do aço priorizando a preservação do caixa, reduzindo ou efetivamente eliminando seus estoques –, o que se viu em seguida foi uma inesperada, mas positiva, recuperação em “V”, no contraponto das expectativas mais conservadoras, em função de evidentes problemas conjunturais e estruturais anunciados mesmo antes da pandemia, que fizeram com que a indústria do aço operasse com nível de ociosidade ainda maior, cenário este agravado pelo grande excesso de capacidade de produção de aço no mundo.
Dessa forma, respondendo à retomada, o setor siderúrgico no Brasil vem agindo de forma célere no restabelecimento e ampliação de sua capacidade de produção de forma a atender às necessidades de seus clientes. “O foco do setor é o abastecimento do mercado interno. Acreditamos que em poucos meses o abastecimento do mercado interno estará normalizado, com os estoques das cadeias normalizados e com a demanda natural de mercado sendo atendida”, pontua o novo presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil.

MUDANÇAS MAIS DO QUE NECESSÁRIAS
E é exatamente por conta disso que, olhando mais adiante, é fundamental que a siderurgia brasileira consiga criar os meios para ampliação da demanda de aço, prioritariamente e estruturalmente no mercado interno, mas de maneira conjuntural, reestabelecendo as bases competitivas do setor para poder exportar enquanto isso não acontecer.

“Só que, para isso acontecer, é importante que o uso da capacidade instalada esteja em patamares superiores a 80% para gerar sustentabilidade econômica aos negócios do aço. A diferença entre essa cifra e a da capacidade instalada atual é de 11,6%, o que representa nada menos do que 6 milhões de toneladas. Daí, mais do que o destravamento dos programas de infraestrutura, incentivo a construção imobiliária, é vital que também seja corrigido o famigerado ‘Custo Brasil’ e removidas as barreiras impostas às nossas exportações”, enfatiza Faraco. “Por exemplo, o restabelecimento da alíquota do Reintegra no patamar de 3% possibilitaria que a indústria de transformação também fosse mais competitiva no mercado internacional, aumentando a oferta de empregos qualificados no país. Trata-se de medida de caráter transitório até que ocorra o fim da cumulatividade de impostos, preconizada na reforma tributária, ora em discussão”, complementa, rezando por uma cartilha já bastante conhecida pelos associados do Aço Brasil.
PERFEITO ALINHAMENTO DE OBJETIVOS
Em função de manifestações como essas, é legítimo concluir que o recém-empossado presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, com vigor renovado, dará continuidade à dinâmica de ações da gestão anterior. Porém, considerando o fato de que como experiente e bem-sucedido executivo do setor, é justo também esperar que Marcos Faraco imprima uma assinatura própria à sua gestão. Só que ele, conhecido estrategista, não dá pistas de qual será esta.

Em vez disso, prefere passar ao setor uma mensagem perfeitamente alinhada com os objetivos e propostas de valor da entidade, tais como facilitar aos associados o acesso às pessoas e informações por ela geradas e/ou compiladas, disseminar a cultura de respeito, consideração e civilidade entre eles, bem como entre todos os interlocutores da cadeia do aço, e, ainda, prezar pela transparência, praticando atos com visibilidade plena, comprometidos com a divulgação de ações e resultados.
“O Instituto Aço Brasil tem como missão defender e representar a indústria brasileira produtora de aço, atuando para melhoria da competitividade e seu desenvolvimento sustentável. Como presidente do Conselho Diretor, reforço meu compromisso e colaboração nessa missão”, deixa nesse registro simples a síntese e as linhas gerais de como vai ser sua recém-iniciada gestão à frente do Conselho Diretor da entidade.