Embora ainda abalada com os impactos da crise da COVID-19, a indústria siderúrgica brasileira faz boas projeções para 2021, em reunião com o presidente Jair Bolsonaro.
Acompanhados por conselheiros do Instituto Aço Brasil, Marcos Faraco e Marco Polo de Mello Lopes – respectivamente, o presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, e o presidente executivo da entidade –, estiveram em Brasília/DF, no dia 27 de novembro, para uma reunião com o Presidente da República, Jair Bolsonaro, para apresentar o quadro atual do setor siderúrgico no ano de 2020, ano marcado pela crise da COVID-19.
No encontro, a governança do Aço Brasil transmitiu ao presidente o reconhecimento em relação às precisas e corajosas medidas adotadas pelo governo no enfrentamento da pandemia que permitiram a retomada rápida e vigorosa da economia. Ao mesmo tempo, enfatizou as linhas mestras das ações da indústria do aço brasileira, que agiu com eficiência e agilidade, principalmente nos momentos mais duros da pandemia, a partir de um trabalho sintonizado tanto com as autoridades quanto com os clientes, graças à existência de um parque industrial moderno e plenamente atualizado que mesmo na crise, seguiu e seguirá investindo para atender a todas as necessidades do país.

presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, Marcos Faraco –
presidente executivo da entidade e demais Conselheiros
Embora alguns setores da economia, como construção civil e segmentos de máquinas e equipamentos venham reportando problemas no abastecimento de aço no mercado interno, executivos do Aço Brasil afirmaram que o fornecimento está caminhando para a normalidade e que não existe risco de faltar o insumo no país.
“Deixamos claro ao presidente que, contrariando as narrativas equivocadas amplamente divulgadas pela Imprensa e, infelizmente, também alimentadas pela distribuição, não houve desabastecimento por parte de nosso setor, e, sim, apenas ajustes relacionados à forte queda de consumo por parte de nossos clientes, o que, entre outras coisas, levou às usinas a abafar altos-fornos e a paralisar outras unidades de produção, como algumas laminações e aciarias. Como resultado disso, o país enfrentou um esgotamento dos estoques durante a pandemia e, quando a atividade econômica voltou a crescer, o consumo interno de aço foi exacerbado pela necessidade de reposição desses estoques, situação que está caminhando para a normalidade. Assim, reiteramos ao presidente Bolsonaro que existe zero possibilidade de desabastecimento, e que nossa prioridade, agora, está sendo abastecer o mercado interno”, destaca Lopes, revelando seguramente a parte mais importante do conteúdo da audiência com o líder do Executivo em Brasília.

Tais fatos, associados aos prognósticos de queda do PIB – que, como se sabe, eram sombrios não só para o Brasil, como também para a grande maioria dos países – fizeram com que o setor chegasse a operar com apenas 42% de sua capacidade instalada no mês de abril. “Contudo, logo que os sinais de recuperação da demanda de aço surgiram, o setor do aço religou seus equipamentos e reativou sua produção, para atender ao retorno dos pedidos dos clientes. Hoje, a utilização da capacidade instalada já atingiu 68,4%, ultrapassando a de janeiro deste ano, o que ainda está longe do nível ideal, que é de 80%. Até porque é fato de que essa diferença de 11,6% representa nada menos do que uma defasagem de nada menos do que 6 milhões de toneladas. Em outras palavras, ainda temos muito trabalho pela frente”, sublinha, por sua vez, Faraco.
RELATIVA ESTABILIDADE
Com efeito, no auge dos impactos das medidas de isolamento social, em abril, o setor siderúrgico chegou a esperar que as vendas de aço no Brasil despencassem 19% em 2020. Mas com a flexibilização da quarentena em vários estados e o retorno da atividade econômica, a entidade foi melhorando as expectativas ao longo do ano.
Dessa forma, a constante recuperação do mercado interno permitiu que as estimativas do Instituto Aço Brasil para este ano ante 2019 também fossem periodicamente revistas, atingindo um estágio titulado pela entidade como de “relativa estabilidade” nas vendas internas (0,5%), atingindo 18,9 milhões de toneladas, com queda de apenas 1% no consumo aparente, que deve atingir 20,8 milhões de toneladas.
No tocante à produção, de acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Aço Brasil, a indústria brasileira do setor deve decrescer 5,6%, atingindo 30,7 milhões de toneladas este ano. E, no que tange às importações, a previsão é de que elas caiam 17,4% em relação a 2019, totalizando 2 Mt, enquanto as exportações devem ter queda de 16,3%, atingindo 10,7 Mt. Já em termos de previsões para 2021, a aposta do Instituto é de um crescimento – embora modesto – nas vendas no país, com expansão de 5,3%, e de 5,8% no consumo de produtos siderúrgicos no próximo ano em comparação com 2020. Tal otimismo se baseia essencialmente na expectativa de um maior consumo de aço na construção civil, nas obras de infraestrutura, e uma maior participação da indústria nacional no setor de óleo e gás e energia renovável.
REAJUSTES PREOCUPAM
Ponto importante da reunião do dia 27 de novembro em Brasília foi a reafirmação feita pelos interlocutores do Instituto Aço Brasil no que diz respeito à necessidade de a indústria de transformação – nela inserida, naturalmente, a indústria do aço – de recuperar a sua competitividade, tanto na concorrência dos produtos importados quanto nas exportações.
“Para tanto é necessário que a abertura comercial da economia brasileira seja vinculada à correção das assimetrias competitivas (Custo Brasil), assim como sejam tomadas medidas de isonomia de tratamento entre o produto nacional e o importado. Na exportação, é preciso que a indústria tenha pelo menos ressarcimento de seus resíduos tributários (Reintegra)”, pontua Marco Polo de Mello Lopes, repetindo um discurso que, embora recorrente e bastante conhecido pelos operadores da cadeia do aço, infelizmente e de maneira inexplicável, ainda parece distante de ecoar de forma consistente e positiva aos ouvidos do governo.
Por outro lado, nesse cenário continua ser preocupante para os clientes e consumidores do aço a sucessiva escalada dos preços da matéria-prima no Brasil. Com efeito, os reajustes no mercado interno – algo que, no acumulado do ano, chegou a cerca de 40% de incremento em alguns tipos de ligas, segundo informam alguns fabricantes – fez com que a paridade entre o produto importado e o produzido no país ficasse praticamente nula, fato para qual também contribuiu a manutenção do câmbio em alta, uma vez que, ao se tornar o aço importado mais caro, abre-se espaço para tais aumentos, a fim de se chegar à paridade dos preços. O mais recente aumento, no começo de novembro, foi de cerca de 10%, e os analistas, de forma geral, esperam por outro, que pode acontecer ainda este ano. O tema dos preços do mercado interno, entretanto, não estiveram na pauta da reunião com Bolsonaro.