“Embora obviamente tenham existido grandes perdas econômicas e empresariais frente ao caos ocasionado pela COVID-19, graças à revisão consciente de projeções, todas as empresas conseguiram – em maior ou menor grau de assertividade, porque foram impactadas de formas diferentes – atingir os valores estimados e suas metas em 2020.” A análise é de Ricardo Martins, presidente da Associação Brasileira da Indústria Processadora de Aço (ABIMETAL) e do Sindicato Nacional das Indústrias de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos (SICETEL).
Mas, ainda segundo ele, isso, de forma alguma, é coisa para se comemorar: “A indústria siderúrgica teve problemas sérios com a paralisação de vários fornos e laminadoras, o que, naturalmente, impactou seriamente o faturamento das usinas. Ato contínuo, a indústria metalmecânica não teve – continua não tendo – tempo para respirar. E além dos efeitos da pandemia relacionados à queda do faturamento e à ausência de reposição de custos, tivemos que enfrentar diversos outros problemas no período, tais como o endividamento das companhias, o aumento estratosférico dos preços e do dólar, a acentuada falta de matéria-prima no final do ano… Tudo isso junto, como era de se esperar, acabou abalando nossa competividade”, registra o executivo
Para piorar esse cenário, o apoio e a defesa institucional do governo à indústria face a todos esses entraves foram pífios e insuficientes, o que fez com que sua participação no PIB nacional despencasse ainda mais, situação essa agravada pela alardeada agenda liberal do Ministério da Economia e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) no sentido de abrir o país ao comércio internacional, que redundou em teratologias incompreensíveis para o momento atual do Brasil, tais como a decisão unilateral da CAMEX de diminuir as alíquotas de importação, tomada sem a devida transparência sobre quais foram os critérios técnicos utilizados para norteá-la.
E, enquanto isso, as reformas estruturais que o país tanto precisa para desatolar a economia permaneceram paralisadas, notadamente no último trimestre do ano, em função da votação dos novos líderes da Câmara e do Senado. E parece que nem mesmo a definição das eleições no Congresso terão musculatura para alimentar e estabelecer o clima de “agora vai” na economia em 2021.
“Embora, no início deste ano, haja algum otimismo cauteloso com a importante chegada da vacina contra a COVID-19 e no que diz respeito à evolução positiva e à retomada de alguns setores – como o da construção civil e o do saneamento básico –, continuamos sem horizontes e perspectivas claras para a indústria e para a atenuação do gravíssimo problema do desemprego, que já atinge 14 milhões de trabalhadores”, avalia Martins, da ABIMETAL/SICETEL.