Trabalhando incessantemente na pesquisa de novos produtos, a Usiminas ganha em proatividade e protagonismo na materialização das tendências para a cadeia siderúrgica brasileira.
Marcus Frediani
Segundo os dados recentemente divulgados pelo Instituto Aço Brasil, a produção brasileira de aço bruto em abril foi a maior desde outubro de 2018, e atingiu a marca de 3,1 milhões de toneladas. Com isso, no acumulado de janeiro a abril de 2021, atingiu 11,8 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 15,9% frente ao mesmo período do ano anterior. O bom desempenho do setor, que se reflete no crescimento do consumo da liga metálica é atribuído a alguns fatores bastante alvissareiros, que vão desde a recomposição da demanda até o aumento do índice de produção e da manufatura dos setores a jusante, em um movimento no qual a recomposição dos estoques – tanto dos consumidores finais quanto da cadeia de distribuição – tem exercido papel fundamental.
Nesse cenário, vem ganhando força também a tendência de demanda de novos produtos em aço, a fim de mais bem atender às especificidades cada vez mais pontuais do mercado, o que tem levado os centros de pesquisa das usinas a se desdobrarem na busca de soluções inovadoras para preencher as novas lacunas (leia-se oportunidades de comercialização) atreladas a essa dinâmica, cujo periélio, entretanto, está longe de ser recente.
É o que atesta, por exemplo, a trajetória de gigantes como a Usiminas, que, apenas nos últimos cinco anos, fez nada menos do que 35 lançamentos de novos produtos em aço para o mercado brasileiro, uma cifra impressionante, ainda mais quando se considera que o desenvolvimento de uma única solução desse tipo requer, pelo menos, um período de um ano para sair do papel e ganhar forma em aplicações não menos inovadoras nos setores altamente demandantes por novidades, como é o caso do automobilístico, o da construção civil e o de mineração.
“Temos uma equipe multidisciplinar muito sólida e competente, ligada diretamente à Vice-presidência de Tecnologia & Qualidade da empresa e, também, subordinada à Área de Atendimento a Clientes & Qualidade, responsável por toda a gestão do processo de desenvolvimento de novos produtos siderúrgicos dentro da Usiminas. Ela acompanha desde a parte inicial de captação de ideias e novas demandas dos clientes, passando pela análise do mercado para subsidiar decisões, a fim de identificar se a proposta de lançamento está alinhada à estratégia da empresa, sempre com a interface de nossas usinas, até chegar aos testes em escala-piloto e industrial, nos quais contamos com a participação também de alguns dos grandes clientes da companhia, que nos retroalimentam com informações importantíssimas no que diz respeito às aplicações in loco, antes de fazermos o lançamento oficial do novo tipo de aço”, explica o Engº Guilherme Brito Menegaz Junior, especialista da área de Produtos na companhia.
LIDERANÇA NACIONAL
Foi exatamente o que aconteceu, por exemplo, quando, entre os anos de 2016 e 2017, a Usiminas desenvolveu e lançou a moderna linha especial de chapas antiabrasivas e resistentes a impactos e desgastes batizada de RAVUR 450, especialmente desenvolvida para encarar os trabalhos mais difíceis, pesados e sujeitos a impactos na área de mineração, com aplicação em equipamentos como máquinas de movimentação de terra, caçambas basculantes e básculas de caminhões fora de estrada, oferecendo, entre outras coisas, alta durabilidade e maior vida útil – em função da homogeneidade da dureza desde a superfície até o centro da espessura – e com excelente capacidade de conformação a frio e ótimo desempenho em soldabilidade.
“No âmbito do abastecimento de produtos para o segmento de mineração, o Brasil conviveu muito tempo com a dependência de aços importados. E a Usiminas enxergou aí uma grande oportunidade. Assim, entre 2014 e 2015, empreendemos um grande esforço de aprimoramento e melhoria dos produtos já existentes em nossa linha, e obtivemos sucesso, conseguindo chegar à oferta de uma solução 100% nacional, totalmente customizadas às necessidades reais e condições de utilização no Brasil. E o RAVUR 450 foi só o começo: a partir dele, lançamos uma família de produtos com outras variáveis de aços de alta dureza superficial, e chegamos à liderança de mercado na categoria. Em um levantamento recente fizemos com foco no recorte de chapas grossas, que são aquelas acima de 6mm até 90mm de espessura, constatamos que a participação de mercado da Usiminas já é de 63%, enquanto, em 2017, era apenas de 29%”, comemora o Engº Leonardo de Oliveira Turani, especialista em Marketing de Produtos na Usiminas.
LEVEZA COM RESISTÊNCIA
Outro setor bastante demandante pela oferta de novos aços é o automobilístico. Só que diferentemente do setor de mineração, a pegada que dá direcionamento à pesquisa de soluções, embora tenha a ver com maior resistência, encontra-se agregada à busca de chapas mais finas, para deixar os veículos mais leves, potentes e energeticamente mais econômicos – isto é, gastando menos combustível –, sem, contudo, abrir mão da segurança para seus ocupantes na proposta eco-friendly. E isso, como se sabe, não é de hoje: do velho aço manganês utilizado como material construtivo na década de 1970 para cá, muita água rolou por baixo dessa ponte, ou melhor, por cima dessa estrada.
Um dos marcos mais importantes ao longo dessa trajetória foi a criação de um comitê especial de impulsionamento e fomento à pesquisa de soluções convergentes para tais finalidades pela Worldsteel Association, em meados da década de 1990, do qual a Usiminas participou. Além de garantir à utilização do aço o protagonismo entre os materiais construtivos de automóveis e afins – suportando a pressão por sua substituição por outros, como o alumínio e as mais diversas composições de fibras e resinas –, de lá para cá, os estudos desse comitê redundaram no desenvolvimento e oferta ao mercado de perto de 50 novos tipos de aços leves e de alta resistência de 1 Giga Pascal, dos quais algo em torno de 70% encontram-se integrados ao portfólio atual da Usiminas.
Mas, com a iminente ampliação da tendência de utilização dos carros elétricos, muita coisa ainda promete vir por aí. “Hoje, os veículos mais premium e modernos dessa categoria à disposição no mercado contam com uma participação construtiva de 16% a 20% de aços de 1 Giga Pascal. Mas, a expectativa é de que essa participação possa chegar muito em breve a 50% de uso desses aços. E como esses veículos atualmente têm um custo bastante elevado para a população, com o uso substitutivo do aço – mais barato, porém não menos eficiente –, as montadoras poderiam eventualmente passar a oferecê-los a preços mais acessíveis ao mercado. E a Usiminas também está empenhada no desenvolvimento de soluções em novos aços e produtos para atender a essa demanda”, sublinha Guilherme Menegaz.
ENERGIAS RENOVÁVEIS
Em constante evolução, outro campo que vem se revelando bastante promissor para o desenvolvimento de novos produtos na Usiminas é o de atendimento ao mercado de energias renováveis. O uso delas no Brasil coloca o país em uma posição de destaque no cenário regional e global. De acordo com dados recentemente divulgados pelo Ministério de Minas e Energia, as fontes renováveis atingiram uma demanda de participação de 46,1% na atual matriz energética nacional, o que representa três vezes o percentual mundial.
De olho nesse imenso potencial de oportunidades, a empresa vem se empenhando de maneira muito especial na busca de soluções em aço compatíveis com a demanda do futuro. No caso da energia eólica, a grande aposta são novos produtos voltados à construção das torres de sustentação dos aerogeradores, cada vez maiores e mais pesados em busca do aumento da capacidade de geração de energia.
“Para essa finalidade específica, hoje a nossa grande ‘briga’ tem sido com o concreto, também utilizado nas torres de sustentação. Porém, a diferença em termos de viabilidade técnica e econômica, dentro da equação do custo x benefício, é acachapante a favor do aço. E os benefícios e vantagens dele no aspecto construtivo e funcional são múltiplos, partindo dos apelos estético, prático e funcional no âmbito da instalação, até chegar aos aspectos mais relevantes de resistência mecânica – permitindo aos clientes reduzir a espessura das paredes das torres –, bem como de durabilidade em termos de vida útil desses equipamentos”, salienta Leonardo Turani.
Ainda segundo ele, a Usiminas, que já oferece um amplo portfólio de aços a esse mercado, integrado por chapas grossas de 12mm a 50mm de espessura, está desenvolvendo uma solução específica para torres eólicas offshore. Utilizando a experiência e a excelência de seus aços já utilizados nas torres inshore, que “plantadas” em terra firme, a companhia passará a disponibilizar para as torres instaladas no mar uma linha de aços de alta resistência à corrosão atmosférica, que dispensa até cuidados especiais de manutenção. “Pegamos essa ideia de um tipo de aço utilizado na construção de pontes metálicas, e o transformamos em uma solução que dispensa até a necessidade de pintar regularmente as torres eólicas com tintas anticorrosivas, o que as deixa muito mais ecossustentáveis e amigáveis ao meio ambiente”, destaca o engenheiro.
Já no âmbito da energia solar, a Usiminas já fornece grandes volumes de aços galvanizados para os principais parques solares do Brasil, sob a forma de kits montados para instalação – com peças dobradas, furação, hastes, trackers e todo o sistema de movimentação –, fornecidos prontos diretamente pela Soluções Usiminas, braço de transformação e distribuição dos materiais fabricados pelas usinas do grupo, agregando a eles serviços como corte e solda, logística e a adaptação de volumes às necessidades de cada negócio, seja qual for o porte.
Porém, além dos galvanizados, a companhia lançou recentemente um aço que também não precisa de pintura: ele vai escurecendo com o tempo, ficando com um tom amarronzado bastante estético, e tem uma vida útil de 20 a 25 anos. Até o momento, a Usiminas já comercializou 15 mil toneladas desse novo produto para dois grandes parques solares brasileiros. E como a pesquisa não para nunca, a empresa adianta que já tem outras soluções para o mercado de energias renováveis sendo desenvolvidas a todo vapor.
E a capacidade de inovação da Usiminas parece realmente inesgotável. De acordo com Menegaz e Turani, até o final de 2021, a companhia deverá colocar no mercado mais cinco novos produtos, entre aços de 3ª Geração para o setor automotivo, chapas grossas de desgaste da série API e, ainda, aços elétricos. “Os clientes não perdem por esperar”, finalizam ambos, em uníssono.