Mesmo em proporções menores, a produção mundial de aço continua em ritmo de crescimento, elevando ainda mais o excedente mundial do produto.
Henrique Patria
O mês de julho mostrou que a indústria mundial do aço, está se acomodando em um novo patamar, acima de 160 milhões de toneladas mensais e com a China liderando a produção com larga margem, pois agora em julho produziu 86,8 milhões o que dá perto de 55% do total.
A produção mundial em julho dos 64 países que a World Steel Association representa foi de 161,7 milhões de toneladas com um crescimento de 3,3% sobre o mês anterior e 12,4% sobre os sete primeiros meses do ano passado. A América do Sul produziu 3,8 milhões de toneladas sendo o Brasil o grande protagonista com cerca de 3 milhões de toneladas.
No entanto, autoridades governamentais da China vêm colocando restrições à indústria siderúrgica naquele país, visando reduzir a poluição atmosférica e tentando cumprir as metas de redução de carbono além de controlar as variações de preço da commodities. Segundo informações veiculadas no site https://www.infomoney.com.br e colhidas junto a agência internacional Bloomberg — A indústria siderúrgica da China corre risco de significativa “retração da oferta guiada por políticas internas” no segundo semestre, já que o governo chinês leva a sério o objetivo de reduzir a produção para cumprir suas metas de carbono, segundo a consultoria Mysteel.
A China havia estipulado que a produção de aço no ano passado, que superou 1 bilhão de toneladas, seria um teto para o setor que contribui com mais de 15% das emissões do país. Mas essa meta está em risco, pois a produção nos primeiros cinco meses totalizou 473 milhões de toneladas impulsionada pelos preços recordes, o que incentivou usinas a produzir ainda mais metal.
Com isso, a China, maior produtora de aço do mundo, precisa cortar a produção em mais de 50 milhões de toneladas nos últimos seis meses, segundo o relatório mensal mais recente da empresa de pesquisa com sede em Xangai.
Ainda, segundo o informe o risco é que os preços do aço, que desaceleraram desde o pico de maio, voltem a subir e ameacem o esforço do governo chinês para frear os preços das commodities. É provável que o país precise de menos aço no segundo semestre devido à típica queda da atividade de construção durante o verão na China. A retirada gradual das medidas de estímulo da pandemia, que ajudaram a elevar a demanda, também deve pesar.
Anhui, uma das províncias de menor produção, recebeu ordem do governo central para reduzir o volume produzido, de acordo com Mysteel, uma solicitação que também deve ter sido encaminhada para polos de aço maiores.
Neste mês não colocar o gráfico, mas o Table 1
No Brasil
A produção brasileira de aço bruto, em julho/2021, continuou acima de 3 milhões de toneladas, mas recuou pouco mais de 100 toneladas em relação àquela registrada no mês anterior. Ainda assim se manteve em 14,5% a mais do que em julho do ano passado. Quando consideramos o período de janeiro a julho de 2021, a produção alcançou 21 milhões de toneladas, representando um aumento de 22% frente ao mesmo período do ano anterior.
No mês de julho, as vendas internas atingiram 2 milhões de toneladas, representando crescimento de 11,2% frente ao apurado no mesmo mês de 2020. O consumo aparente de produtos siderúrgicos, em julho, foi de 2,4 milhões de toneladas, apresentando crescimento de 23,9% em relação ao verificado no mesmo período de 2020. Neste consumo aparente estão inclusas as importações que chegaram em julho. No entanto, todos os indicadores mostram retração em relação ao mês anterior.
As vendas internas, nos primeiros sete meses deste ano, foram de 14,1 milhões de toneladas, representando uma alta de 38,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. O consumo aparente de produtos siderúrgicos, nos primeiros sete meses deste ano, foi de 16,4 milhões de toneladas, acumulando alta de 44,9% frente ao registrado no mesmo período de 2020. Tais números são ressaltados pelo presidente executivo do Aço Brasil, demonstrando que o mercado interno está totalmente abastecido, não havendo qualquer razão para que alguns setores venham reivindicar redução nas taxas de imposto de importação do produto.
Este desempenho levou o Aço Brasil a rever as previsões de crescimento do consumo aparente em 2021 de 15% para 24%, devendo atingir 26,6 milhões de toneladas.
Com as estatísticas demonstrando ligeiras quedas no mercado interno as usinas começaram a se voltar para a exportação. Já se tem noticias de vários negócios fechados, que aumentarão a presença do aço brasileiro em várias partes do mundo.
Na distribuição
Este é o segmento que mais sofreu com a avalanche de aço importado chegado ao Brasil no mês de junho.
As vendas de aços planos em julho foram 12,8% menores quando comparadas ao mês passado com um montante de 261,4 mil toneladas contra 300 mil que haviam sido vendidas em junho.
Para justificar esta queda, Carlos Loureiro, presidente do Inda disse que o problema é que chegaram ao Brasil, vindo de diversos países, nada menos do que 211,3 milhões de toneladas, o que é só em torno de 20% a menos do que a rede toda vendeu de aço nacional.
Ainda segundo Loureiro, o maior problema está no preço, pois o aço que está chegando agora, vem com os preços de janeiro, fevereiro ou março, que foram os meses da compra, enquanto no Brasil a rede de distribuição contabiliza aumentos de cerca de 65% em relação a 1º de janeiro deste ano. E ele não vê como este quadro possa mudar enquanto não chegar ao Brasil, todo o aço que foi importado por preços menores, exatamente naquele momento em que a demanda era maior do que se podia atender.
Por falar em preços Loureiro mostrou que os preços internacionais, principalmente nos Estados Unidos continuam altos e subindo ainda mais, dando como referência a BQ ele cita que de um mês para outro subiu US$67.00. Por isso não a expectativa de redução nos preços para o curto prazo. Ele acredita que as usinas irão ajustar a questão da oferta ao mercado interno, deslocando para a exportação o que não for consumido aqui no Brasil. O aço brasileiro tem boas perspectivas no mercado internacional, a despeito do excedente mundial.
Além disso mesmo com os preços do minério de ferro caindo, os preços dos outros componentes na produção do aço, como a sucata e principalmente o carvão dispararam neste último mês.
Com este novo quadro o Inda está novamente revisando suas projeções e já se fala que caso não haja uma rápida virada no quadro atual, não se pode esperar nenhum crescimento para o setor em 2021.
Henrique Patria
Editor Chefe
Portal e revista Siderurgia Brasil