Otimista com as perspectivas para o mercado financeiro da mineração e siderurgia em 2022, sócio da WFlow Investimentos acredita que se o mundo é um ambiente em desenvolvimento, é natural que ele siga em frente se desenvolvendo.
Marcus Frediani
Notadamente em função dos impactos da pandemia, o ano de 2021 foi marcado por um cenário de volatilidade e bastante conturbado e cheio de altas e baixas nas Bolsas de Valores. Para complicar ainda mais esse quadro, tivemos a escalada da inflação ao longo do 2º Semestre, e seguidas altas da Selic, hoje fixada em 10,75%. E, ao que tudo indica, a coisa não vai parar por aí.
Para fazer uma análise do cenário atual e das perspectivas do mercado financeiro para 2022, o Anuário Brasileiro da Siderurgia convidou Paulo Saad, sócio da WFlow Investimentos, empresa credenciada à XP Investimentos, especializada em assessoria no setor. Confira a entrevista exclusiva que ele nos concedeu.
Anuário Brasileiro da Siderurgia: Depois de fechar o ano com um acumulado de queda de quase 12%, o Ibovespa teve um janeiro bem diferente, fechando o primeiro mês de 2022 com alta acumulada de quase 7%. Contudo, a continuidade do alto risco fiscal, a perspectiva de sucessivos aumentos da taxa de juros e, ainda, o fato de este ser um ano de eleições, aparecem como complicadores para a manutenção desse desempenho. O que esperar, então, do mercado financeiro nos próximos meses no Brasil?
Paulo Saad: Sem dúvida, temos um cenário desafiador, com eleições, inflação, a questão fiscal e conflitos políticos no cenário de curto prazo, No entanto, temos que olhar para frente. Os movimentos de mercado costumam ser cíclicos. No Brasil, estamos assistindo um ciclo de alta na taxa Selic, com perspectiva de fechar o ano com taxa próxima a 12%, mas o mercado já dá sinais de enfraquecimento da inflação, o que pode colocar um fim no ciclo de alta. E, após um ciclo de alta costuma se seguir um ciclo de baixa, porque, afinal, Selic em alta não é favorável ao crescimento.
Nesse cenário, especialistas do mercado alimentam a ideia de que 2022 deverá ser um ano de grandes oportunidades para as empresas de mineração e siderurgia, tomando como base um possível crescimento da economia global no pós-pandemia, principalmente em função da aceleração do crédito e dos estímulos monetários da China. Você se alinha entre eles?
Sim, concordo com essa visão. A China é o motor do mundo, e continua crescendo. Para isso, ela vai precisar de matéria-prima, grande parte importada do Brasil, o que pode favorecer a siderurgia e a mineração nacionais.
Em termos de timing, você acredita que as compras de minério de ferro brasileiro pela China tendem mesmo a começar a se normalizar após as Olimpíadas de Inverno por lá? Na outra ponta, a recente queda dos preços do aço terá fôlego para impactar positivamente a performance dos resultados das siderúrgicas e o apetite dos investidores das Bolsas em 2022 por aqui?
Difícil definir uma data. Mas a China, como a maior produtora de bens duráveis no mundo, sempre vai precisar de minério de ferro, e vai tentar de toda forma pagar menos e usar o que puder para trabalhar preços. Mas, como eu disse, vai precisar comprar. Por isso, os investidores deverão usar o tempo a seu favor, não se apavorando com movimentos temporais negativos e, pelo contrário, utilizá-los como oportunidades.
Sendo assim, há fulcro suficiente para acreditar em um quadro de normalização ou de, no mínimo, menos desequilíbrios à frente no mercado de ações por aqui?
Entendo que o mercado é um organismo com vida própria, evidentemente suscetível a oscilações. Mas muitos segmentos e empresas estão muito descontados e, em algum momento, retomam seu preço e valor. Por isso, é importante avaliar que áreas da economia podem não se abalar ou até se beneficiar dos movimentos atuais. Ações são conhecidas como investimentos de longo prazo, exatamente porque oscilam junto com o mercado, mas tendem a se corrigir positivamente se as empresas emissoras continuarem crescendo e entregando valor.
Enquanto o setor Automotivo brasileiro deverá continuar a sofrer – pelo menos no 1º Semestre, em função da escassez de componentes –, e outros, como o da Infraestrutura, deverão permanecer em compasso de espera por conta das eleições, você acredita na expectativa de que, em 2022, a demanda de produtos siderúrgicos no Brasil deverá se beneficiar da recuperação gradual notoriamente liderada pelo setor de Construção Civil?
Sou otimista por natureza. Entendo que todo organismo respira e expira. E, se o mundo é um ambiente em desenvolvimento, é natural também que haja esse movimento de continuar seguindo em frente e se desenvolvendo. Não sei se em alguns anos estaremos pilotando automóveis ou de drones tripuláveis. Mas, certamente, estaremos nos movimentando e buscando qualidade em moradias. E para que tudo isso seja produzido, será necessário termos matéria-prima.