Sistema inteligente de atualização de máquinas responde à pergunta que todo empresário da indústria siderúrgica vive se fazendo: “Preciso me modernizar: e agora?”.
Marcus Frediani
Ultimamente, muito se tem falado sobre os benefícios e as vantagens da utilização do retrofit no processo de modernização de máquinas. E além de transitar por várias áreas – tais como a construção civil, a arquitetura e a engenharia –, o processo, em sua versão industrial, vem chamando cada vez mais a atenção do setor siderúrgico ao longo de toda a sua cadeia, compreendendo nesse espectro desde usinas até os processadores, distribuidores e transformadores da liga.
O retrofit industrial é o sistema de atualização das máquinas, substituindo ou modernizando peças e softwares por modelos com versões mais recentes. O método implementa correções e novas funcionalidades a partir das características básicas do produto.
Ele surgiu em função do fato de que a velocidade frenética com que a tecnologia evolui e lança no mercado novas ferramentas produtivas acaba rapidamente tornando os equipamentos ultrapassados. E como a obsolescência fabril prejudica a competitividade e, consequentemente, a lucratividade das empresas, fazer uso do retrofit é uma solução extremamente viável para evitar o alto custo para a indústria que vive o dilema: “Preciso me modernizar: e agora?”.
Para responder essa e outras perguntas, a revista Siderurgia Brasil foi conversar com o engenheiro de Automação Ricardo Krombauer, responsável pela área na TECNICON, um dos profissionais envolvidos nos projetos de inovação da empresa gaúcha especializada na oferta de soluções completas quando o assunto é retrofit. Boa leitura!
Siderurgia Brasil: No que consiste, efetivamente, o processo de retrofit industrial de equipamentos?
Ricardo Krombauer: O retrofit industrial é uma estratégia aplicada na atualização das máquinas e equipamentos industriais de um negócio e tem por objetivo modernizar a infraestrutura e permitir uma integração digital com softwares de gestão, como é o caso do TECNICON Business Suite, por meio do sistema ERP. Essa integração permite aos gestores a automação e a otimização de processos de produção. A equipe pode eliminar todo e qualquer gargalo que impede a produtividade, agilidade, padronização de produção e redução de custos. Com o retrofit industrial, é possível aplicar correções e novas funcionalidades que, sem a conectividade da linha de produção, não seriam possíveis. Esse é o processo ideal para os gestores que buscam um caminho mais rápido para entrar na Indústria 4.0. No final, os dados gerados em tempo real pelas máquinas e equipamentos vão permitir que decisões mais conscientes sejam tomadas.
Existe diferença entre o processo de retrofit e aquilo que podemos chamar de uma simples reforma da máquina?
O retrofit é um processo feito para modernizar uma máquina industrial, exatamente quando a empresa sente necessidade. Ele é exequível, por exemplo, devido a eventuais mudanças de produtos a serem fabricados, em função de, eventualmente, a máquina não apresentar mais uma boa capacidade de realizar tal operação, ou pela necessidade de a linha de produção aumentar sua eficiência e agilidade, entre outros motivos, porque empresas realmente inovadoras buscam sempre a melhoria contínua, alinhando uma boa gestão com um sistema ERP integrado e boa funcionalidade das máquinas.
Então, trata-se de um processo mais complexo?
É verdade. Realizar o processo de retrofit é muito mais complexo do que apenas o de uma reforma, porque ele exige maior aprofundamento para entender as principais necessidades do maquinário e da indústria. Reformar um maquinário consiste em reconstruir ou corrigir algo que não está funcionando, ou até mesmo, fazer as devidas correções para que uma máquina volte a funcionar. Já o retrofit consiste em melhorar a qualidade da máquina, mesmo que ela esteja funcionando perfeitamente, pois seu estado não irá impactar tanto, é muito mais uma mudança feita para colher resultados melhores ou superiores do que os já são entregues. Assim, quando o processo de retrofit é realizado, os benefícios resultam em melhorar as condições e os processos do ambiente de trabalho da empresa.
Com o retrofit é possível, por exemplo, substituir ou modernizar peças e softwares por modelos com versões mais recentes, notadamente no que diz respeito à atualização do equipamento para atender às novas legislações de segurança? E, ainda nesse sentido, de que forma o método pode, além de correções, implementar novas funcionalidades à máquina a partir de suas características básicas?
Sim. Com o retrofit é possível fazer tais substituições, sempre pensando em alavancar resultados e potencializar o maquinário. É claro que algumas modificações podem ser mais certeiras que outras, e que nem sempre o retrofit possa ser a melhor opção. Em outras palavras, pode ser que, às vezes, a compra de uma nova máquina seja efetivamente necessária. Mas, em todo processo no qual o objetivo é implementar novas funcionalidades, as oportunidades são inúmeras. E é válido lembrar que o processo pode trazer um avanço em um maquinário e seu setor ou empresa. Porém, o acelerador para ver os resultados é a análise de dados e a eficiência da máquina. E, para isso, é importante ver inovações que visam a apresentar essas informações. Em nossa empresa temos o TecMiner, uma das ferramentas que vem ajudando as indústrias a darem o passo certo em direção a Indústria 4.0 e automatizarem todo seu chão de fábrica.
Dentro do segmento de siderurgia e de transformação de aço, que tipos de máquinas ou equipamentos são “elegíveis” a passar por ele? Em outras palavras, toda máquina pode ser “retrofitada”?
Todos os tipos de máquinas ou equipamentos podem passar pelo processo de retrofit, uma vez que um de seus principais objetivos consiste em ser a porta de entrada para a indústria 4.0. Os gestores podem fazer um levantamento das máquinas e, a partir disso, adicionar melhorias que tornam os dispositivos inteligentes, sem necessariamente comprar novas máquinas. Mas isso só pode acontecer com planejamento. Estudar e depois aplicar o plano do jeito certo, vai evitar trabalho em excesso. Então, é importante ter um propósito estratégico para o retrofit, que envolve segurança, custos, qualidade e rendimento.
Como saber quando, e se é possível “retrofitar” uma máquina, para abrir a possibilidade de não ter que comprar uma máquina nova? Ainda nesse sentido, que pontos uma empresa deve analisar antes de atualizar suas máquinas por meio desse processo?
A palavra retrofit e suas variações podem ser entendidas como aperfeiçoamento, atualização, modernização e revitalização. Ou seja, esse conceito significa que o objeto, no caso a máquina ou equipamento, recebe algo que lhe confere uma nova funcionalidade ou o aperfeiçoamento de suas funções atuais. Portanto, o retrofit é uma excelente opção para quando a máquina não está com muitos problemas e precisa somente de pequenas adequações. Claro, é possível reformar uma máquina ou peça, mas o objetivo principal do retrofit é melhorar a performance de produção.
Assim, para uma empresa analisar a possibilidade de realizar o processo, é importante levar em conta o ROI e o payback que o processo irá envolver. E quando falamos sobre as vantagens do retrofit vale ressaltar aspectos como o ganho de produtividade, o baixo investimento comparado ao adquirir uma nova máquina, a redução de riscos, a manutenção facilitada e a maior segurança. Dessa forma, o processo estruturado sobre quando aplicar o retrofit é vantajoso, porque permite a avaliação do equipamento, o desenvolvimento do projeto, a compra de materiais, a implementação do projeto e os testes.
Em síntese, então, o retrofit para a atualização de máquinas é a solução ideal para empresas manterem a produtividade alta sem ter que arcar com grandes investimentos. Mas qual o prazo para colher esses frutos quando a empresa opta por adotá-lo, principalmente no que diz respeito ao retorno financeiro?
O retorno financeiro acontece no curto e médio prazos é um dos principais motivadores para optar pelo retrofit de máquinas industriais. Além disso, os benefícios desse processo são muitos, tais como os já mencionados aumento da produtividade e da complexidade de uma máquina, a atualização da performance que ela pode oferecer, o aumento de segurança para os funcionários e a possibilidade que o maquinário esteja conectado a um sistema como o ERP e à funcionalidade TecMiner. Isso, sem falar de outras vantagens bastante tangíveis, como a redução de período de inatividade, a disponibilização de sobressalentes para longos períodos de atividade, e a facilidade para a manutenção e para supervisionar os equipamentos.
E qual a garantia ou duração média conferida a uma máquina que passa pelo processo de retrofit? Ou seja, qual é, em termos de média, o aumento da vida útil que ele pode proporcionar a um equipamento utilizado na indústria siderúrgica?
Aí, temos que considerar algumas coisas. O processo de incluir novas funcionalidades, ou soluções tecnológicas, em máquinas antigas aos padrões de indústria 4.0 garante aos gestores mais tempo para economizar e trocar por dispositivos modernos. Além do viés econômico, os equipamentos não precisam ser substituídos, sendo necessário apenas a adição de sensores que podem melhorar sua qualidade, produtividade e eficiência. Dessa forma, as indústrias do setor siderúrgico que optarem pelo processo, podem se manter competitivas no mercado. E, voltando ao que também já foi dito, as máquinas com ciclos de vida longos são compradas para operar durante décadas. No entanto, os equipamentos antigos não são compatíveis com as tecnologias recentes. Então, o retrofit faz com que esses equipamentos “defasados” possam continuar operando.
Você tem exemplos de sucesso nesse tipo de operação?
Sim, temos muitos. Um grande exemplo que vale a pena citar é o da digitalização de um equipamento histórico da Robert Bosch, empresa fundada há mais de 100 anos na Alemanha, em seu salto para a Indústria 4.0. O dispositivo passou por uma implementação de sensores, softwares, controladores industriais e IoT. Apesar dessa atualização, entretanto, o equipamento não voltou a operar, porém, foi usado como exemplo de que é possível implementar tecnologias modernas às máquinas antigas para melhorar seu processo.
Com relação à manutenção, uma máquina “retrofitada” exige atenção ou cuidados especiais diferenciados em relação a uma máquina nova ou simplesmente reformada?
A máquina “retrofitada” deve ser monitorada, assim como qualquer equipamento. A diferença é que esses dispositivos não foram originalmente projetados para desempenhar essas funcionalidades adicionais. Assim, o TecMiner é uma solução que executa a função de monitoramento e acompanhamento dos processos e dados gerados pela máquina, atualizando o gestor em tempo real sobre o seu funcionamento e possíveis manutenções, o que garante maior segurança para a produção.
E uma máquina “retrofitada” pode, eventualmente, passar por um novo processo de retrofit? Ou há um limite técnico (e, possivelmente, econômico) para que esse tipo de atualização continue sendo viável?
Enquanto o maquinário for capaz de receber os upgrades, é possível fazê-lo. É papel da gestão da empresa levar em consideração que o equipamento não foi desenvolvido para desempenhar essas novas funcionalidades. E é bom frisar mais uma vez que, além de muitas outras coisas, o objetivo do retrofit é melhorar seu custo-benefício, durabilidade do equipamento, confiabilidade dos dispositivos e capacidade de conexão. E nosso histórico demonstra que os sensores modernos e sistemas de controle eletrônico conectados às máquinas antigas podem, sim, melhorar o processo de produção e sua eficiência.
Finalmente, caso uma empresa, após fazer a análise criteriosa das eventuais vantagens do retrofit, opte por realizá-lo em uma de suas máquinas, quais são, em termos gerais, as etapas técnicas do processo?
As fases de implementação do retrofit podem variar de uma empresa para outra. Tudo vai depender das suas necessidades, recursos e tempo. Porém, é possível seguir um processo simples, com apenas quatro etapas: 1) Avaliação da linha de base, na qual é feito o levantamento e análise das máquinas que precisam passar por um processo de atualização; 2) Planejamento de retrofit, na qual é desenvolvido o plano de melhoria para que a produção possa melhorar seu desempenho e integração à indústria 4.0; 3) Execução de retrofit, com implementação de sistemas e sensores para integração ao novo software ou outras plataformas de gestão; e 4) Monitoramento, para acompanhar todo o processo de implementação das máquinas ao processo de produção novamente, e realizar os ajustes necessários para que elas não apresentem falhas na operação. Em suma, é um processo relativamente simples, que pode ser realizado, naturalmente, com o devido critério.