Apesar das previsões de desaceleração a curto prazo da indústria, o aço está forte e se mostra o protagonista dos desafios do futuro.
Marcus Frediani
Desafios não faltam. Mas também não falta a garra e a vontade de vencê-los. Esta foi a mensagem deixada aos participantes do ALACERO SUMMIT 2022, evento promovido pela Associação Latino-Americana do Aço (Alacero), que este ano aconteceu nos dias 16 e 17 de novembro, em Monterrey, no México, com a participação de tomadores de decisão de empresas como ArcelorMittal, DeAcero, Gerdau, Ternium, Vale, Autlán, Primetals, Danieli, ENEL e Russula, entre outras.
A conferência representou uma oportunidade ímpar de se estabelecer networking entre os principais nomes do setor, personificando intensos debates sobre ideias transformadoras que envolvem esses atores – incluindo temas como megatendências, mercados e geopolítica e sustentabilidade –, posicionando a indústria do aço como protagonista dos desafios do futuro.
Entretanto, estes não serão pequenos. Dados da entidade mostram que as perspectivas de crescimento do setor na América Latina para o final de 2022 e início de 2023 são moderadas, em função do contexto de inflação global e da política monetária contrastiva, com bancos na América Latina e nos Estados Unidos apertando suas políticas monetárias. “A previsão é impulsionada pela menor demanda externa, enfraquecida por altas taxas de juros e queda do poder de compra. O mundo vive um processo inflacionário sem precedentes, amplamente distribuído entre os países”, analisou na ocasião Alejandro Wagner, diretor executivo da associação, que gera dados para o setor na região e atua como porta-voz da indústria.
Ainda segundo os dados apresentados por Wagner durante o ALACERO SUMMIT 2022, a desaceleração deverá se espalhar pela América Latina, somada aos desafios externos da conjuntura global – como a crise energética na Europa e a guerra na Ucrânia – àqueles de natureza local, como a inflação. O acumulado dos primeiros nove meses do ano registrou expressiva redução de 4,1% na produção de aço bruto, em relação ao mesmo período do ano anterior, registrando 46.862,5 mil toneladas. Os laminados apresentaram redução de 3,7% no mesmo período, com 41.033,8 mil toneladas.
ASPECTOS POSITIVOS
Contudo, ainda, segundo ele, alguns índices podem ser considerados inspiradores. Embora baixa, a previsão de crescimento para 2023 está acima do que é esperado na China e nos Estados Unidos, principais parceiros comerciais da região. Some-se a isso o fato de que a produção segue relativamente estável, impulsionada pelo expressivo volume das exportações da AL.
Em relação ao desempenho do setor entre janeiro e agosto de 2022, as exportações de aço no acumulado registraram alta de 47,3%, totalizando 7.740,7 mil toneladas. Assim, as exportações aumentaram 10,7% em agosto em relação ao mês anterior. As importações, por sua vez, sofreram redução de 12,5% no acumulado de 8 meses de 2022, em relação ao mesmo período de 2021, totalizando 16.871,1 mil toneladas. Em agosto, o valor foi 25,4% superior ao de julho.
“Apesar das previsões de desaceleração a curto prazo da indústria, o aço está forte e se mostra o protagonista dos desafios do futuro, não somente pela importância do material na transição energética, mas também pelas condições vantajosas da região da América Latina”, resumiu o diretor executivo da Alacero.
E QUAL O CENÁRIO NO BRASIL?
Durante o ALACERO SUMMIT 2022, dados da Alacero mostraram uma tendência de sobe-e-desce no Brasil. Em 2021, o país cresceu 4,6%, sendo que a expectativa de avanço é de 2,7% para 2022 e a estimativa para 2023 é de 0,6%. Dos setores demandantes de aço no Brasil, a construção retraiu 5,7% de junho a agosto de 2022, enquanto o setor automotivo cresceu 32% de junho a setembro do mesmo ano, máquinas mecânicas diminuíram 4% de junho a agosto de 2022 e uso doméstico caiu 16,7% no mesmo período. Em relação aos insumos demandados na produção de aço, o petróleo diminuiu 1,2%, o gás -0,1% e a energia 2,8%, todos os dados de junho a agosto de 2022.
Quanto às perspectivas de médio prazo, para a construção, o esperado é a recuperação: o setor privado deverá aumentar o investimento no próximo ano, em um contexto de inflação mais estável. Enquanto isso, o automotivo registra possível desaceleração no ritmo de crescimento da produção, devido a menores vendas locais e queda nas exportações para Argentina e Colômbia, sendo que o setor poderá ter um superávit de unidades em estoque.
Quanto à maquinaria mecânica, o esperado é o crescimento da demanda por máquinas agrícolas. Na mesma toada, o Brasil caminha para mais uma safra recorde de 200 MTn em 2023-2024, o que deverá continuar impulsionando a produção desse tipo de equipamentos. Já no uso doméstico, a expectativa é que o governo promova uma política de redistribuição de renda, estimulando a demanda e impulsionando a produção.