Quando o assunto é confiança, o empresariado brasileiro encontra-se bem dividido quanto às projeções relacionadas ao ano de 2023. Se por um lado, alguns players do mercado se mostram animados com as perspectivas de recuperação da credibilidade da política econômica e do controle inflacionário, somadas à esperança da simplificação das regras tributárias sinalizadas pelo novo governo eleito, que, aparentemente, está se esforçando para e reinserir e reintegrar às cadeias globais de valor, por outro há muita gente preocupada com alguns aspectos convergentes advindos da mesma fonte, tendo como foco a conjuntura macroeconômica. Exemplos disso são o persistente estágio de endividamento das famílias, a manutenção das taxas de juros na estratosfera e, ainda, o polêmico posicionamento do governo no sentido de furar o tetos dos gastos públicos para beneficiar um projeto social de enorme amplitude que, a bem da verdade, ninguém sabe exatamente onde irá parar.

Por conta da complexidade do quadro e das dúvidas a jusante dele, no sentido de saber se tudo isso vai dar resultados práticos e satisfatórios, todas essas variáveis continuam apontando para um quadro de incertezas na economia. E os números da confiança empresarial, é óbvio, acompanham essa dinâmica, porém, gerando dicotomias, no presente caso, relacionadas ao futuro das empresas em 2023.

CONFIANÇA VERSUS DESCONFIANÇA
Exemplo concreto do que estamos falando é o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que acaba de voltar a ficar positivo, interrompendo uma sequência de quatro meses de queda na confiança na indústria. O indicador avançou dois pontos entre janeiro e fevereiro e registrou 50,6 pontos. Ao cruzar a linha dos 50 pontos, o índice passou de um cenário de desconfiança para um de confiança. Foram consultadas 1.372 empresas, sendo 564 de pequeno porte, 482 de médio porte e 326 de grande porte, entre 1º e 7 de fevereiro de 2023.

A recuperação do ICEI ocorreu devido à melhora de um dos seus componentes: o Índice de Expectativas aumentou 4,1 pontos para 52,9 pontos. Esse indicador trata da percepção dos empresários para os próximos seis meses em relação à economia e a sua empresa. Em relação das condições atuais, o indicador recuou 2,4 pontos para 45,9 pontos e demonstra uma percepção de piora mais forte e disseminada da indústria sobre as condições atuais da economia brasileira e das empresas.

De acordo com o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, apesar da recuperação, o avanço de dois pontos não foi suficiente para reverter a queda de confiança de 14,2 pontos no índice de confiança acumulada entre setembro de 2022 e janeiro de 2023. “Mesmo assim, o resultado de fevereiro é muito importante, pois interrompeu a sequência de quedas significativas e, mais do que isso, mostra que o empresário voltou a ter confiança. Caso essas expectativas mais positivas se confirmem, a confiança tende a se fortalecer. E a melhora no ânimo sugere uma disposição maior para investir e contratar”, projeta o executivo.

Não tão otimista, e na contramão da percepção manifestada pelos empresários ouvidos na pesquisa da CNI, o Indicador de Confiança da Indústria do Aço (ICIA), do Instituto Aço Brasil, referente ao mês de janeiro de 2023, registrou queda, pelo terceiro mês consecutivo, e recuou 5 pontos e atingiu 37,6 pontos, o que cravou o quarto menor patamar da série histórica do indicador, iniciada em abril de 2019.

O ICIA Valores acima da linha de 50 pontos indicam confiança dos CEOs da indústria do aço, enquanto valores abaixo de 50 pontos apontam falta de confiança. A queda do ICIA, mais uma vez, ocorreu de forma generalizada, com queda tanto nos indicadores de percepção atual quanto nos indicadores de expectativas para os próximos seis meses.