No comando do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil e da ArcelorMittal Brasil, Jefferson De Paula fala sobre a importância da data, e ainda, sobre a atualidade, estratégias e planos da empresa e da siderurgia brasileira rumo a um futuro cada vez mais promissor.

Marcus Frediani

Em abril, mês em que se comemora o Dia Nacional do Aço, a liga, que, ao longo de praticamente toda a história da Humanidade, merece uma homenagem especial. Quer pela versatilidade, quer sustentabilidade e conforto que promove por meio de suas múltiplas e virtualmente infinitas aplicações nos utensílios domésticos, na Medicina, nas edificações, nos meios de transporte e nas mais modernas tecnologias que utilizamos, a liga está em todos os lugares, marcando presença constante na vida da sociedade. E, naturalmente, essa homenagem também se estende aos milhões de brasileiros que trabalham em sua produção e distribuição nos quatro cantos do país.

Como forma singela de celebrar a data, a revista Siderurgia Brasil foi conversar com Jefferson De Paula, presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil, e presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração LATAM, empresa-líder nacional na produção de aços. Confira, a seguir, a entrevista exclusiva que ele, gentilmente, nos concedeu, em meio à sua atribulada agenda!

Siderurgia Brasil: Jefferson, recentemente, a Unidade Vega da ArcelorMittal, em São Francisco do Sul/SC, recebeu a certificação mundial ResponsibleSteel. O que significa para vocês a conquista dessa distinção, principalmente neste momento em que a sustentabilidade, inserida na proposta da ESG, vem ganhando cada vez mais destaque no setor siderúrgico global, assim como em todos os outros?
Jefferson De Paula: Para a ArcelorMittal, a certificação ResponsibleSteel é o reconhecimento tanto do alto padrão dos nossos processos de produção quanto da série de ações realizadas em prol da transformação social, sustentabilidade, diversidade e inclusão. A certificação também reforça o principal propósito da ArcelorMittal, de fabricar aços inteligentes para as pessoas e o planeta.

Essa não foi a primeira vez que vocês a receberam aqui no Brasil, não é mesmo?
Verdade. Esta foi a terceira unidade brasileira da ArcelorMittal Brasil a receber a certificação ResponsibleSteel. A certificação dos sites no país iniciou-se com a conclusão do processo, em janeiro de 2022, na Unidade de Tubarão/ES, que foi a primeira planta industrial nas Américas e fora da Europa a obter o certificado. Em seguida foi a vez da certificação da unidade de João Monlevade/MG. E a meta da empresa é que todas as unidades do grupo no Brasil sejam certificadas nos próximos anos.

Dentro da proposta da ESG, como a sustentabilidade está inserida na atual realidade da ArcelorMittal?
A ArcelorMittal tem a sustentabilidade como um de seus valores, e procura incorporar constantemente a excelência do desempenho ambiental à sua estratégia de negócios. Por atuar em uma atividade que demanda o uso intenso de recursos naturais, como é o caso da produção de aço, o Grupo ArcelorMittal possui uma estratégia de sustentabilidade baseada nas dez Diretrizes do Desenvolvimento Sustentável (DDS), estabelecidas a partir dos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Essas dez diretrizes estão fundamentadas nas melhores práticas e tendências da gestão de questões sociais, econômicas e ambientais relacionadas ao nosso negócio. A empresa tem consciência de que a jornada da sustentabilidade é complexa e necessária. Por isso, estamos fazendo esforços para implementar soluções e buscar alternativas. Sabemos quão complexa é essa jornada, e nossa empresa está seriamente engajada e comprometida com metas realistas de redução das emissões de carbono e com ações concretas.

E especificamente no que se refere ao “S” da ESG: quais são os principais destaques e a cifra de investimento?
Bem, na verdade temos muitos destaques. Na área social, atualmente a Fundação ArcelorMittal é uma das maiores investidoras da cultura e a maior do esporte em Minas Gerais. São 35 anos de atuação em três eixos prioritários – educação, cultura e esporte –, gerando benefícios para mais de dez milhões de pessoas. Em 2022, foram investidos R$ 73 milhões nessas áreas, entre recursos próprios e Leis de Incentivo. E isso também confirma o propósito de a ArcelorMittal produzir Aços Inteligentes para as pessoas e o planeta, e explicita a agenda ESG no centro da nossa estratégia de negócios.

Ainda nesse sentido, como se manifesta na empresa a questão da cultura de inclusão?
Estamos movendo o nosso time na direção da cultura que desejamos, desafiando os padrões históricos da indústria. Queremos ter a sociedade refletida no nosso corpo de empregados e na cadeia do aço e abrir cada vez mais espaço para as pessoas com equipes mais plurais e diversas. Desde 2019 temos trabalhado nos grupos em quatro dimensões: Equidade de Gênero, Diversidade Racial, Pessoa com Deficiência e LGBTI+. Um dos desdobramentos, é alcançar 25% de mulheres entre as lideranças até 2030, numa indústria com presença predominante de homens, historicamente.

Voltando ao tema da sustentabilidade ambiental, o que a ArcelorMittal Brasil está fazendo para cumprir o compromisso com a redução das emissões de CO2?
A empresa está comprometida em liderar a descarbonização na indústria do aço. Globalmente, o Grupo ArcelorMittal foi pioneiro no setor ao lançar a meta de ser carbono neutro até 2050 e, como passo intermediário, reduzir em 25% suas emissões específicas até 2030. Entre as iniciativas a serem desenvolvidas e implementadas pelas unidades da ArcelorMittal no Brasil estão o aumento do uso de sucata como matéria-prima, a utilização de gás natural e a otimização do uso do carvão vegetal e a biomassa nas unidades, além da melhoria da eficiência energética dos processos. Até 2030, a empresa trabalhará com melhoria dos processos existentes e, depois disso, empregará tecnologias disruptivas, que tornarão a ArcelorMittal carbono neutra até 2050.

A ArcelorMittal assumiu recentemente o controle da CSPCE. Qual a importância dessa negociação, e de que forma ela deverá influenciar a operação de vocês no Brasil?
A incorporação da usina instalada no Ceará permitirá que a ArcelorMittal esteja à frente nas tendências de tecnologia em aços planos e sustentabilidade. Adquirimos um negócio moderno, eficiente, estabelecido e que irá agregar valor à ArcelorMittal. A planta produtiva da antiga CSP, hoje ArcelorMittal Pecém, tem boa localização e sinergias com o nosso negócio. Isso traz opções para desenvolvimento presente e futuro. A usina possui instalações de última geração, dispõe de um alto-forno com capacidade de 3 milhões de toneladas/ano de placas de aço e tem acesso ao Porto de Pecém, no Ceará, localizado a dez quilômetros da usina. Assim, a compra da unidade ampliará a competitividade global da ArcelorMittal, com o potencial de fornecimento de placas dentro do próprio grupo e vendas para clientes no Brasil e outros países.

A questão do crescimento do setor siderúrgico no Brasil em 2023 continua a ser uma preocupação do setor, fato, inclusive, reiterado por você durante a recente Coletiva de Imprensa de abril do Instituto Aço Brasil, na qual foram apresentados os resultados do 1º Trimestre do ano. Você acredita na possibilidade de “virada” dessa situação ao longo deste ano?
Sim. Estamos confiantes no cenário de médio e longo prazos do país e na perspectiva de aumento do consumo do aço. Há perspectiva de aumento do consumo do aço, uma vez que no Brasil há uma enorme oportunidade de investimentos em infraestrutura, saneamento básico, estradas, portos, aeroportos, parques industriais, dentre outros, que deverão entrar na agenda de prioridades dos setores públicos e privados.

A retomada do crescimento nacional, passa necessariamente pelo crescimento internacional. No entanto, os números e os sinais que vêm sendo dados pelos Estados Unidos e pela Europa não são nada animadores. Tem jeito de contornar esse problema?
As perspectivas de crescimento de importantes economias do mundo melhoraram no 1º Trimestre de 2023, na comparação ao que se projetava no fim do ano passado. Os riscos para crescimento econômico global são inflação persistente, estresse nos mercados financeiros, Guerra Rússia e Ucrânia e o aumento das tensões comerciais e geopolíticas entre Estados Unidos e China. O ano de 2022 foi positivo para a indústria do aço, embora, na base de comparação, 2021 possa ser considerado atípico, uma vez que nele foram registradas as maiores vendas da história da indústria siderúrgica brasileira. Então, a queda nas vendas internas já era esperada para o início do presente ano. Estamos retornando aos patamares normais de consumo de aço no mercado interno, mostrando, mais uma vez, que nossa indústria siderúrgica tem plena capacidade para atendê-lo. E como contornar o problema que você mencionou? Bem, é imprescindível implementar uma agenda robusta de investimentos em infraestrutura voltados para estradas, portos, ferrovias e energia, além da universalização do saneamento básico e do combate ao déficit habitacional, na qual a indústria se engaje e contribua com geração de empregos, aumento da arrecadação, aquecimento da economia e a retomada do círculo virtuoso de crescimento.

Quais são as metas de crescimento da ArcelorMittal Brasil previstas para este ano de 2023 no Brasil e na América Latina?
Estamos investindo mais de R$ 7 bilhões para a expansão de unidades produtivas no Brasil (em MG, RJ e SC) e R$ 11,4 bilhões (US$ 2,2 bilhões) para a aquisição da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), totalizando cerca de R$ 20 bilhões. Conforme mencionado anteriormente, outros R$ 4,2 bilhões vão ser destinados para a construção do Complexo Eólico Babilônia Centro, no Sul da Bahia, o maior contrato corporativo de energia renovável do Brasil e um dos maiores complexos eólicos do país, que acabamos de anunciar. Trata-se do maior aporte da indústria do aço em andamento no Brasil, reforçando a posição de liderança da empresa no mercado brasileiro. Esses investimentos nos auxiliarão a aumentar nossa participação de mercado. Atuaremos com nossos parceiros para trazer as melhores soluções em aço, com qualidade, inovação, sustentabilidade e inclusão.

Em função de seus contatos com a classe política e as autoridades brasileiras, o senhor acredita que a Reforma Tributária que o Brasil tanto precisa tem chance de ser aprovada ainda este ano?
Torcemos e trabalhamos para que isso ocorra. O Brasil tem enorme potencial, por isso os setores público e privado precisam trabalhar juntos para ampliar as oportunidades e impulsionar um crescimento sustentável, que combine avanço econômico com os pilares social e ambiental. É necessário adotar medidas firmes e urgentes – como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal – para destravar a economia nacional. O nosso sistema tributário é complexo e ultrapassado e estimula a crescente informalidade. Já a reforma administrativa otimizaria a máquina pública e possibilitaria a oferta de serviços públicos de qualidade, principalmente nas áreas da saúde e educação.

Como é para você estar à frente da maior produtora nacional de aço e da entidade responsável por uma atividade que representa uma significativa parcela do PIB brasileiro?
Sem dúvida, esse é um orgulho e uma grande responsabilidade estar na vida das pessoas, sejam dos nossos de 16 mil colaboradores na operação Brasil, nas casas, no estádio de futebol, nas pontes, edifícios. participamos de grandes marcos da história do nosso país como a construção de Brasília, ponte Rio-Niterói, Cidade Administrativa, Mineirão, agora a Arena MRV. São obras icônicas e referências do Brasil no exterior. Isso demonstra que, mesmo depois de 100 anos, a empresa continua buscando oferecer as melhores soluções em aço para as mais diversas construções da indústria pesada e para o dia a dia. A ArcelorMittal continuará contribuindo para o desenvolvimento do país. Buscamos soluções inovadoras e formas mais inteligentes de produzir e utilizar o aço, elemento imprescindível na construção de um futuro melhor para as pessoas e o planeta. Destaco nosso investimento de mais de R$ 7 bilhões para a expansão de unidades produtivas no Brasil e mais R$ 11,4 bilhões para a aquisição da Companhia Siderúrgica do Pecém, totalizando R$ 19,2 bilhões, o que demonstra a confiança do Grupo ArcelorMittal no país. E o fato de sermos líderes não nos acomoda. Liderar não é sobre ser o maior ou o pioneiro, é estar no centro da mudança, inspirar e criar soluções juntos, para que cada vez mais pessoas façam parte deste movimento. Queremos construir o futuro da indústria do aço, confiantes de que estaremos lá. Vamos com os pés no chão e os olhos no futuro.

Por fim, você poderia deixar uma mensagem sobre a comemoração do Dia Nacional do Aço?
É uma data muito especial para todos nós que fazemos parte da indústria do aço. Somos 120 mil colaboradores, controlados por 11 grupos empresariais. A indústria do aço no Brasil ocupa a nona posição no ranking da produção mundial. Temos importância econômica, relevância social e responsabilidade ambiental. E vamos avançar para continuar contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e sustentável do Brasil.