Desaceleração de setores consumidores e perspectivas não muito animadoras para os próximos meses fazem o Instituto Aço Brasil rever a previsão de consumo aparente e vendas internas para 2023.
Marcus Frediani
Em abril, o Índice de Confiança da Indústria do Aço (ICIA), pesquisa mensal de mercado realizada pelo Instituto Aço Brasil, atingiu 41,7 pontos. Apesar do crescimento de 9 pontos ante o mês anterior, o indicador ainda se encontra 8,3 pontos abaixo da linha divisória de 50 pontos, o que caracteriza a persistência de baixa confiança dos CEOs da indústria brasileira do aço.
A cifra, que reflete a dinâmica da menor produção registrada nos primeiros meses do ano, somada à expectativa de maiores incertezas em relação à atividade econômica para os próximos trimestres, levou a entidade a reduzir em 1 e 0,7 pontos percentuais, respectivamente, as projeções do consumo aparente e das vendas internas do setor em 2023. A revisão se deu ante às previsões anteriores, feitas em novembro de 2022, que apontavam para alta de 1,9% e 1,5%, respectivamente.
No 1º Trimestre de 2023, a produção de aço no Brasil caiu 6,8% ante igual período de 2022, de 8,629 milhões de toneladas para 8,043 milhões de toneladas. As vendas internas aumentaram 2%, de 4,886 milhões de toneladas para 4,982 milhões de toneladas. Por sua vez, as exportações caíram 6,1%, de 3,405 milhões de toneladas para 3,195 milhões de toneladas, e as importações subiram 22,2%, de 847 mil toneladas para 1,035 milhão de toneladas. Enquanto isso, o consumo aparente cresceu 3,4%, de 5,724 milhões de toneladas para 5,917 milhões de toneladas, porém, como visto, não de acordo com a dinâmica necessária e suficiente para sustentar maiores voos no que tange a seu crescimento anual.
Contudo, o Aço Brasil manteve, pelo menos por enquanto, algumas projeções de alta. A produção deve crescer 2%, para 34,655 milhões de toneladas em 2023, assim como as importações, que deverão atingir +2,5%, saltando para 3,432 milhões. Enquanto isso, a previsão de exportações subiu 7,5%, para 12,845 milhões de toneladas. E o mesmo aconteceu com a projeção de investimentos do setor, que deverá ser de R$ 40,6 bilhões de 2023 a 2026, conservando a média dos últimos anos e o aporte de R$ 11,9 bilhões realizado em 2022.
CENÁRIO DE INCERTEZAS
A contração do crédito e a consequente redução no consumo de bens duráveis vêm afetando o desempenho de setores consumidores de aço, o que já trouxe impactos para a produção do setor no trimestre passado. O recuo do consumo desses setores lança incertezas sobre o desempenho da indústria do aço nos próximos meses, o que embasa a revisão das expectativas.
E nem mesmo a previsão de crescimento apresentada pela indústria automobilística deve criar alento para a situação atual do aço. “A tendência da economia brasileira e da siderurgia é de queda nos próximos meses, acompanhando a expectativa de retração dos setores da construção civil e de máquinas e equipamentos”, pontua Jefferson De Paula, presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil, e presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração LATAM.
Tais preocupações se acentuam com o que ocorre no cenário externo, com previsão de desaceleração da economia global, por efeito da continuação do conflito entre Rússia e Ucrânia, inflação persistente e estresse nos mercados financeiros em um ambiente de continuação de elevação de juros em alguns países.
“Infelizmente, não temos, no momento, algum indicador que mostre otimismo para 2023. Com os dados do 1º Trimestre do ano, não vemos perspectivas de que haverá crescimento. Mas esse cenário poderá vir a ser revertido, se as questões que consideramos prioritárias forem enfrentadas”, afirma Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil, alinhando entre elas a retomada do crescimento econômico, com o ajuste fiscal, a Reforma Tributária e o destravamento das obras de infraestrutura, além de outras medidas, como a recuperação da competitividade sistêmica, com a redução do “Custo Brasil”, e a transição energética, a partir de investimentos em novas matrizes.
De Paula reforça o discurso de Mello Lopes, ressaltando a existência de uma série de preocupações no cenário que, no momento, impedem a manutenção de uma perspectiva predominantemente otimista para o ano de 2023. “A reversão do quadro doméstico nos próximos meses depende fundamentalmente da melhora da perspectiva conjuntural e da sinalização de avanços na agenda de competitividade do país. Dentre esses avanços esperados e necessários, a reforma tributária é o principal. Se aprovada, trará um efeito positivo para toda a economia, no caminho da retomada do crescimento sustentado”, enfatiza.
Em função de tudo isso, o “resumo da ópera” nas previsões atuais para 2023 do Instituto Aço Brasil é o seguinte. Em volumes, a produção de aço bruto será de 34,665 milhões de toneladas. As vendas internas de 20,082 milhões de toneladas (ante 20,605 milhões de toneladas na previsão anterior). O consumo aparente de 23,187 milhões de toneladas (ante 23,782 milhões de toneladas). As exportações de 12,845 milhões de toneladas (12,191 milhões de toneladas na previsão anterior). Por sua vez, as importações deverão ser de 3,432 milhões de toneladas. E para 2024, projeta-se consumo aparente de 23,883 milhões de toneladas, o que representa uma alta de 3% sobre o consumo aparente estimado para 2023.