Troca Rápida de Ferramentas encontra amplas aplicações no chão de fábrica, com o objetivo de reduzir o desperdício e o tempo da produção.

Marcus Frediani

Talvez você não seja uma pessoa assim tão apaixonada por corridas de Fórmula 1, mas se já assistiu alguma, com certeza deve ter ficado impressionado com a rapidez absurda que os mecânicos dos boxes fazem aquelas trocas de pneus ou de alguma peça da carenagem danificada dos bólidos para que os pilotos não percam posições na pista quando precisam, às vezes obrigatoriamente, fazer um pit stop .

Pois é, o que você assistiu nessas ocasiões foi simplesmente a aplicação do Sistema SMED, um método de trabalho cuja sigla, vinda do inglês significa, e que talvez também sugira uma operação extremamente complexa. Contudo, ele traduz um conceito muito simples, sob a forma de um conjunto de técnicas associadas ao lean no campo da gestão de processos, e idealizado para minimizar o setup das configurações e ajustes de um equipamento quando a necessidade assim o exige. Em outras palavras, ela nada mais é do que a famosa Troca Rápida de Ferramentas, que encontra amplas aplicações no chão de fábrica, com o objetivo de reduzir o desperdício e o tempo da produção.

REDUÇÃO DOS TEMPOS DE SETUP
Isso tudo tem a ver com o fato de que o mercado industrial tem passado por grandes mudanças de crescimento, trazendo consigo uma concorrência acirrada, que o torna cada vez mais competitivo.

Nesse sentido, a redução dos tempos de setup está relacionada à possibilidade de dotar com maior flexibilidade os sistemas produtivos, o que remete à necessidade de se realizar o nivelamento da produção. Isso implica produzir uma grande variedade de itens durante um determinado período – diário, semanal ou mensal, por exemplo –, o que normalmente leva à produção deles em pequenos lotes.

Assim, é necessário o perfeito balanceamento da linha de produção, para que a preparação das máquinas – quer seja esta uma simples regulagem, quer uma operação mais complexa, como a efetiva troca das ferramentas de fabricação desses lotes – seja efetivamente mais rápida, considerando-se o fato de que, em um processo industrial, o tempo decorrido entre o momento final e o início de outra produção é aquele transcorrido na preparação do equipamento para reiniciar o novo ciclo de fabricação.

O SEGREDO DA COISA
Em função de tudo isso, a correta implementação do SMED nas empresas exige o cumprimento de um protocolo bastante específico, cujo primeiro passo – e, na verdade, o “pulo do gato” da coisa toda – é identificar e separar as operações de troca externas das internas.

Mas como saber qual é qual? Aí vai a explicação: no SMED as trocas são compostas de etapas definidas por dois tipos de elementos: os “internos”, que são aqueles cujos procedimentos podem ser feitos enquanto a máquina está parada; já os “externos” são aqueles que podem ser concluídos enquanto o equipamento está em funcionamento. Para melhor entendimento, vale ilustrar essa definição com dois exemplos: preparar externamente um molde para uma máquina em plena operação facilita o setup de um produto, sem parar a produção. Já interromper o processo para instalar o novo molde conta com uma operação de troca interna.

PADRONIZAÇÃO DE FERRAMENTAS
E, segundo os especialistas, a boa notícia a essa altura é que se pode transformar operações internas, mais complicadas, em externas, bem mais fáceis de fazer, começando pelas de maior impacto no tempo de parada e atraso de trabalho do processo. Muitas vezes, isso significa investir em novo maquinário ou postos de trabalho extras, com o objetivo de organizar as peças substituíveis fora de suas ferramentas de destino. Levando em consideração a economia de tempo e o aumento de produção que essa ação pode gerar, geralmente é um investimento que vale a pena.

Paralelamente, uma boa dica é aperfeiçoar os demais processos de fabricação. Isso pode ser feito simplificando a relação entre os elementos substituíveis e os fixos do maquinário, incluindo eliminar ajustes excessivos ou evitáveis do equipamento, reduzir o tempo de espera e os movimentos, bem como o transporte e as verificações de controle desnecessários. Uma restrição aceita neste passo é a padronização de ferramentas e máquinas utilizadas, de modo a reduzir o número de elementos variados e utilizados no geral, o que tem potencial para reduzir significativamente a necessidades de reequipamentos.

ENVOLVIMENTO DA EQUIPE
Finalmente, vale registrar que grandes melhorias no processo industrial a partir do repensar como cada máquina lida com as mudanças dos modos de operação. Assim, para deixar a troca de peças mais fácil, uma boa dica é criar estações de trabalho funcionando em paralelo umas com as outras, além de modularizar os equipamentos para uma melhor integração de peças compartilhadas, o que pode ajudar, e muito.

Neste ponto, vale lembrar aqui que como qualquer iniciativa de melhoria, o sucesso da implementação da Troca Rápida de Ferramentas depende de planejamento, comunicação, execução e observação meticulosos. Assim, é de fundamental importância envolver toda a equipe no processo e, sobretudo, ouvir o feedback dela, principalmente para criar um consenso entre os funcionários associados ao processo quanto à escolha dos equipamentos-alvo do SMED.

E uma vez que o equipamento de destino for selecionado, os especialistas desse conjunto de técnicas recomendam o registro de um tempo que será a linha de base para o projeto. O tempo de mudança deve ser medido com o tempo entre a produção da última peça “boa” e a produção da primeira peça “boa” do novo ciclo, ambas à velocidade máxima, usando sempre os dados anteriores para o baseline do tempo de transição.

BENEFÍCIOS DA APLICAÇÃO DO SMED NO AMBIENTE INDUSTRIAL

  • Aumento da velocidade de produção, com uma potencial redução no tamanho do estoque.
  • Redução nos custos de produção.
  • Maior flexibilidade e agilidade para atender às demandas variáveis do cliente e a possibilidade de produzir lotes menores.
  • Condições de trabalho mais seguras.

Fontes: kanban tool | FM2S | Revista Científica Núcleo do Conhecimento