Após assumir o comando da empresa, em março de 2023, a ArcelorMittal cria mecanismos e define investimentos no campo da sustentabilidade, que já resultam no reaproveitamento de 99,7% dos resíduos sólidos gerados em sua operação principal.

Henrique Patria

Em março de 2023 a ArcelorMittal concluiu as negociações e adquiriu o controle acionário da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no estado do Ceará – Brasil, em uma operação que totalizou, aproximadamente, US$ 2,2 bilhões.

A Usina Siderúrgica de Pecém que na época contava com operação de pouco mais de 6 anos produz placas de alta qualidade a um custo globalmente competitivo. Ela possui um alto-forno com capacidade de 3 milhões de toneladas e tem acesso ao Porto de Pecém via correias transportadoras. Este é um porto de águas profundas de grande escala, localizado a 10 quilômetros da usina.

Segundo nota da empresa na época do fechamento do negócio: “A aquisição oferece sinergias operacionais e financeiras significativas e um potencial para futuras expansões, como a opção de adicionar capacidade primária de fabricação de aço (incluindo processo de redução direta) e capacidade de laminação e acabamento. Dada a sua localização, a CSP também apresenta uma oportunidade para criar um novo centro de produção de aço de baixo carbono, capitalizando a ambição do Estado do Ceará de desenvolver um centro de hidrogênio verde de baixo custo em Pecém”.

Em nota à imprensa o CEO da empresa, Aditya Mittal, se manifestou: “Existe um potencial significativo para descarbonizar o ativo, dada a ambição do Estado do Ceará de desenvolver um hub de hidrogênioverde de baixo custo e o enorme potencial que a região tem para a geração de energia solar e eólica”.

Após assumir o comando, a empresa que completou 7 anos de operação em 10 de junho, a ArcelorMittal Pecém anunciou que vem adotando processos e incorporando equipamentos de última geração para que os coprodutos da operação principal tenham a gestão e a destinação adequada, gerando inclusive recursos adicionais em seu faturamento. O resultado deste esforço se traduz no reaproveitamento de 99,7% dos resíduos sólidos gerados, incluindo reciclagens internas e externas, coprocessamento e estocagem interna. Em 2022, a empresa alcançou um faturamento de US$ 46 milhões, o equivalente a R$ 239 milhões, com a comercialização desses materiais.

Entre as novas alternativas, uma delas é utilizar o agregado siderúrgico. “Hoje, 100% do agregado siderúrgico não metálico gerado na produção de aço e processado na estação de granulação (BSSF) é vendido para as empresas cimenteiras. O nosso objetivo é desenvolver novas aplicações sustentáveis, diversificando ainda mais as destinações”, afirmou Carlos Guimarães, especialista de Aciaria da CSP.

Os usos sustentáveis de agregados siderúrgicos da CSP são fruto do investimento da usina na aquisição da unidade BSSF (Baosteel Slag Short Flow), uma tecnologia que granula a escória de aciaria.

A empresa também firmou parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade Federal de Viçosa e a Biosfera, empresa especialista em soluções sustentáveis e juntas desenvolveram soluções para o uso de todos os resíduos gerados na siderúrgica que passaram a comercializar como lama, pós, resíduos refratários e resíduos metálicos (sucatas) para cimenteiras, cerâmicas, indústrias químicas e outras.

Confirmando o que foi dito na sua aquisição a empresa imediatamente tratou de participar ativamente da criação do HUB de Hidrogênio Verde, pelo Governo do Estado do Ceará. Já foram anunciadas pelo governo as assinaturas de vários memorandos de intenção sendo que três empresas entre elas a Casa dos Ventos que pertence ao Grupo ArcelorMittal é uma das três que já estão interagindo diretamente no desenvolvimento do novo polo. São previstos investimentos de US8 bilhões neste empreendimento.

Há um compromisso da indústria siderúrgica mundial, firmado em 2015 no Acordo de Paris, onde o Brasil está presente, tendo como Target ou meta a redução das emissões de gases do efeito estufa em até 37%, em relação aos níveis de emissão de 2005, até 2025 e redução de 43% na emissão até 2030. Desta forma com a urgência da descarbonização e da busca por novas fontes de energia na Europa por causa da guerra da Ucrânia, a criação de um mercado global de hidrogênio verde tornou-se prioridade para algumas das maiores economias do mundo.

Além disso a região conta com sol, ventos abundantes e permanentes e uma indústria que está engajada no processo já estabelecida, o que coloca o Brasil e potencialmente o Estado do Ceará e o Porto de Pecém na dianteira de todos os projetos em andamento.

Inclusive neste sentido em maio de 2023 o Governo do Estado Ceará assinou acordo para a criação do Corredor de Hidrogênio Verde – Green Hydrogen Corridor, entre o Porto do Pecém e o Porto de Roterdã, e da Parceria de Portos Verdes – Green Ports Partnership, entre o Ceará e os Países Baixos. Por este protocolo firmado o Complexo do Pecém e o Porto de Roterdã criam um corredor de ponta a ponta da cadeia de suprimentos para hidrogênio verde, incluindo produção no Pecém e recebimento e distribuição no Porto de Roterdã, para atender à demanda nos Países Baixos e em outros países da Europa. Assinaram a criação deste corredor o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, AES Brasil, Casa dos Ventos (ArcelorMittal), Nexway, Havenbedrijf Rotterdam, Fortescue e EDP.

O Porto de Pecém oferece a rota mais curta entre o Brasil e os pontos onde deve ser consumido o hidrogênio produzido por aqui.