Dados da Alacero confirmam que os problemas no desempenho da indústria siderúrgica brasileira são praticamente os mesmos daqueles observados em toda a América Latina.
Marcus Frediani
Embora certo grau de otimismo persista, os resultados da indústria siderúrgica brasileira registrados no 1º Semestre deste ano ficaram longe de serem animadores. Somada à conhecida “cesta de desventuras” ocasionada pela queda no consumo aparente interno – que encolheu 0,5%, chegando a 13,6 milhões de toneladas – em face ao marasmo do mercado, e às dificuldades enfrentadas pelos setores-clientes, a produção de aço bruto também despencou. Segundo dados do Instituto Aço Brasil relacionados ao acumulado de 2023 ela caiu 8,6% nos sete primeiros meses do ano, fechando em 18,6 milhões de toneladas.
Em paralelo, nos seis primeiros meses do ano, as vendas internas registraram queda de 5,2% no mesmo período, atingindo 11,3 milhões de toneladas. As importações, notadamente aquela da China, saltaram 48,4%, para 2,7 milhões de toneladas, enquanto as exportações recuaram 6,2%, para 7,1 milhões de toneladas.
Ato contínuo, o Índice de Confiança da Indústria do Aço, calculado pelo Aço Brasil, fechou em 44,6 pontos em agosto, alta de 0,5 ponto em relação a julho, abaixo da faixa que aponta falta de confiança dos CEOs da indústria do aço, especialmente em relação ao cenário econômico brasileiro, configurando o décimo mês seguido em que o indicador se encontra abaixo dos 50 pontos.
PERRENGUE COLETIVO
Embora nem de longe isso sirva de conforto, os dados da Asociación Latinoamericana del Acero (Alacero) atestam que tais problemas se “coletivizaram” para o âmbito do bloco de atenção da entidade, a partir da constatação de sensíveis impactos e quedas na produção de aço na América Latina no 1SM2023, em face à lenta recuperação nos setores consumidores.
Segundo o mais recente relatório da instituição nos primeiros seis meses de 2023 a produção de aço bruto ficou 8,9% abaixo do mesmo período do ano anterior. Já a produção de laminados, no acumulado do período ficou 4% abaixo do 1º Semestre de 2022. Quanto ao comércio de laminados, nos primeiros cinco meses de 2023, as importações ficaram 0,3% abaixo do mesmo período do ano anterior, movimento também visto nas exportações, que registraram queda de 26,2%. E quando analisado por trimestres, o segundo de 2023 ficou 10,4% abaixo daquele registrado em igual período de 2022, e 0,3% abaixo dos três primeiros meses do corrente ano, ocasionando a maior queda no intervalo desde o terceiro trimestre de 2020.
“Incertezas globais e problemas estruturais marcam o cenário da economia na América Latina. A produção caiu, mas o consumo continua perto de 0 a 1% e há duas explicações para isso: um ajuste de estoque com plantas produzindo menos e exportações fracas. Esses indicadores nos mostram que o resto do ano será igual, a recuperação definitiva está prevista para 2024. As indústrias continuam a se desenvolver, mas, cada vez mais se faz essencial o nearshoring para seguir a recuperação dos setores consumidores de aço”, opina Alejandro Wagner, diretor executivo da Alacero.
TERMÔMETRO SETORIAL
Quanto aos setores consumidores de aço na América Latina, o comportamento dos principais deles, registrados pela Alacero em maio de 2023, envolve alguns mostrando sinais modestos de melhoria e outros permanecendo em terreno negativo. No entanto, em comparação com os registros de abril, há uma melhoria geral em todos os segmentos.
Nesse contexto, o setor da construção se recuperou em maio e saiu do vermelho. A atividade avançou 2,2% a/a durante o quinto mês do ano, o primeiro registro positivo desde agosto de 2022. A melhoria na região foi impulsionada pelo bom desempenho do México (+9,2% a/a) e da Colômbia (+2,1% ao ano). No entanto, os demais países retrocederam na comparação anual: Peru e Chile lideraram as quedas, com 11% e 8,5%, respectivamente (em ambos os casos com contrações mais profundas do que em abril de 2023), seguidos por Argentina (-2,9%) e Brasil (-2,5%).
Por sua vez, apesar da leve melhoria apresentada durante maio de 2023, a produção industrial permanece em um contexto de estagnação desde setembro de 2022. A atividade manufatureira cresceu 1% a/a no quinto mês do ano e não consegue sair da sequência de altos e baixos pela qual passa desde o início do ano. O desempenho regional foi impulsionado pelo México e Brasil (ambos com avanços de 1,9% a/a) e, em menor medida, pela Argentina (+1,1%). A expansão desses países foi contraposta pelos recuos do Peru (-15,6% ao ano), Chile (-1,2%) e Colômbia (-1%).
ALTOS E BAIXOS
Já no âmbito da indústria, o setor automotivo continua sendo o mais dinâmico, embora tenha se desacelerado recentemente. A produção avançou 3,7% a/a em junho de 2023, moderando seu desempenho em relação à taxa de crescimento de dois dígitos de maio de 2023 (+16,7% a/a); no sexto mês do ano, México e Argentina cresceram (+16% a/a e +10,6%), mas a expansão foi reduzida pela queda do Brasil (-7,1% a/a, acumulando 8 meses de altos e baixos na comparação anual).
A seu turno, a produção de máquinas e equipamentos permaneceu no vermelho, embora tenha reduzido o ritmo de queda anual (-0,3% em maio de 2023, em comparação com -5,5% em abril de 2023) devido ao bom desempenho do Chile (+13,6%), México (+3,5%), Peru (+2,9%) e Colômbia (+2,2%). E, finalmente, a fabricação de aparelhos de uso doméstico também reduziu sua contração (-1,5% a/a em maio contra -4,3% a/a no mês anterior), embora não tenha conseguido sair do terreno negativo no qual está praticamente imersa de forma contínua desde agosto de 2021. E, nesse cenário, ainda de acordo com a Alacero, nem mesmo a expansão de 7,7% ao ano no Brasil não foi suficiente para compensar a queda nos demais países.
*NOTA DO EDITOR: A revista Siderurgia Brasil, firmou compromisso com a Alacero, e tornou-se uma das apoiadoras oficiais do evento “Alacero Summit 2023”, que será realizado em São Paulo nos dias 8 e 9 de novembro de 2023.