Para ser menos pessimista a situação da siderurgia brasileira é grave, perturbadora, preocupante ou outros adjetivos que se queira dar para descrever o momento que ela vive.
Em setembro a China chegou com tudo no mercado brasileiro e segundo dados publicados pelo Instituto Aço Brasil, entraram nos portos brasileiros só em setembro, 549 mil toneladas de aço representando 133,8% a mais do que ocorrera no mesmo mês do ano passado.
Já os distribuidores de aços planos, representados pelo Inda, apresentaram no mesmo mês um quadro em que mostram que na sua modalidade (aços planos) foram 209,788 mil toneladas representando um crescimento de 184,9% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Evidentemente cerca de 90% deste número teve como origem a China. Em seguida vem a Coréia do Sul, também no extremo oriente.
O que se sabe lendo os noticiários internacionais é que há uma crise na construção civil chinesa que reduziu drasticamente o consumo de aço naquele país e todo este excedente tem de ser colocado em algum lugar. Parece que o Brasil foi escolhido para desempenhar este papel.
Cabe lembrar que segundo os dados apresentados pela Worldsteel em setembro a China produziu 82,1 M/T que representa cerca de 55% da produção mundial. E ainda na mesma nota há uma explicação que houve queda na produção de 5,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. Só para efeito de comparação no mesmo mês de setembro o Brasil produziu 2,4 M/T. A China atualmente produz em 10 dias a produção nacional do Brasil de um ano. Não é difícil entender que quem possui este poder pode tomar as decisões que melhor lhe aprouver.
Mas o problema não para aí. A questão é que o aço está sendo colocado no mercado com preços irreais e menores do que os praticados aqui.
Há algumas explicações das fontes envolvidas. Por exemplo, Marco Pollo de Melo Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil, diz que as assimetrias entre o aço importado e o aço nacional são diferentes. A indústria brasileira não consegue competir, nem no mercado interno porque o Custo Brasil, muitas vezes falado e discutido em nossas publicações é cruel para as empresas nacionais. Se não forem corrigidas estas assimetrias, vamos amargar muitos prejuízos no futuro e não temos competitividade.
Já Carlos Loureiro, analisando no mercado internacional dos preços dos insumos empregados na fabricação do aço, afirma que o aço que está sendo colocado aqui carrega cerca de US$150.00 de prejuízo por tonelada. Ou seja, fica claro que há um subsídio embutido nesta composição de preços. Quem banca este subsídio?
O Instituto Aço Brasil, por seu presidente Jefferson de Paula, manifestou no Congresso recém terminado e em todas as declarações que tem feito a sua grande preocupação com a siderurgia no Brasil. Segundo ele a entidade vem fazendo gestões junto aos Governo Federal para que o Brasil estabeleça de forma emergencial e transitória uma elevação na alíquota de importação de 18 produtos siderúrgicos para 25%. Este é o mesmo patamar que já está em vigor nos Estados Unidos, no Reino Unido e em 27 países da União Europeia e no México. Atualmente a alíquota majoritária no Brasil é de 9,6%
A pergunta que atormenta é a seguinte: Há espaço político para uma decisão deste tipo?
Segundo Ricardo Amorim que pronunciou uma Conferência Magna no recente Congresso Aço Brasil, esta é uma decisão difícil de ser implementada, pelo governo, pois além da questão da siderurgia, a relação com a China é muito mais complexa, uma vez que eles são os maiores compradores mundiais de vários itens do agronegócio brasileiro. A China hoje é o maior parceiro comercial do Brasil.
Ainda que ela tenha uma população imensa que precisa ser alimentada e o Brasil é o grande fornecedor de parte destes alimentos o conferencista alertou de que não será uma questão fácil de ser resolvida.
E os problemas não param por aí. A partir de 1º de outubro passaram a valer na União Europeia as regras da primeira fase do Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), ou, traduzindo, Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono que tem como objetivo igualar o preço do carbono de importações provenientes de fora do bloco ao preço pago caso fossem produzidos em território europeu e, consequentemente, sujeitos ao Regime de Comércio de Licenças de Emissão, em inglês, Emissions Trading System (ETS).
A nova regra que foi decretada unilateralmente está prevista para entrar em vigor a partir de 2026, mas no último dia 1º de outubro, começaram a valer as regras de um período de transição, que vai durar até o dia 31 de dezembro de 2025, no qual em que os importadores da UE terão de reportar o total de emissões de carbono embutidas nos produtos que importaram.
No entanto todos os especialistas em mercado internacional entendem que na verdade esta é mais uma barreira comercial protecionista, visando impedir a entrada de produtos não fabricados na UE, inclusive os produtos brasileiros.
Vamos esperar os próximos capítulos, mas o horizonte está muito nebuloso e com certeza vai exigir muito desgaste dos envolvidos.