Enfrentando desafios e conquistando pequenas vitórias, a distribuição independente de aço segue em frente no Brasil, adaptando-se às novas realidades.
Marcus Frediani
Em face ao quadro de dificuldades atualmente vivenciados pela indústria siderúrgica brasileira, a distribuição de aço independente no Brasil continua firme em seus propósitos. E embora a queda do consumo aparente persista obstaculizando a conquista de resultados mais robustos, suas operações seguem regulares, e sem grandes problemas. É o que sublinha o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (INDA), Carlos Jorge Loureiro, nesta entrevista exclusiva à revista Siderurgia Brasil. Confira!
Siderurgia Brasil: Loureiro, como você avalia o atual estágio da indústria siderúrgica nacional em 2023? E como está a situação da distribuição do aço?
Carlos Jorge Loureiro: Bem, não é segredo para ninguém que o ano realmente está muito ruim para a indústria siderúrgica, notadamente em função da redução do consumo aparente do aço no Brasil – que deve apresentar um tímido aumento de 1% em 2023 –, e cujo desempenho de vendas, segundo as fontes especializadas, deve fechar este ano com resultado negativo em torno de 3%. Entretanto, embora as usinas devam registrar essa queda, a distribuição do aço deverá manter sua performance de vendas, apresentando um crescimento de pouco mais de 1%.
A crescente entrada de aço importado no país tem prejudicado a operação dos distribuidores independentes?
Bem, em primeiro lugar não vejo problema algum relacionado ao futuro do nosso setor, porque você pode ter a distribuição eventualmente abastecendo mais o mercado brasileiro com produtos importados do que com aços produzidos localmente. Ou seja, a distribuição de aço sempre vai existir. Assim, não estamos perdendo mercado com o material importado que está entrando em maior quantidade. Basicamente, caminhamos no mesmo ritmo do que o mercado brasileiro está consumindo, dentro da equação do consumo aparente. Por tudo isso, não vejo problema algum relacionado ao futuro da distribuição, na qual, como eu já disse, você de repente pode estar trabalhando com um componente maior de fornecimento de material importado, do que com aço produzido localmente, algo que, aliás, não vem acontecendo nos últimos meses.
Como assim?
A importação de aço, que foi muito grande em setembro, caiu bastante em outubro, o que para nós até foi uma surpresa. Tirando placas e algumas importações que as usinas fizeram diretamente atingiu 170Mt em planos, o que não é nenhum número assustador. Quer dizer, continua sendo grande, mas a penetração do material importado também caiu. O número de setembro foi muito forte, mas com a retirada, a partir de 1º de outubro, daquelas pequenas vantagens que a entrada de aços importados tinha, quem estava em posição de poder nacionalizar, nacionalizou, a fim de evitar o aumento do imposto.
Mesmo assim, a briga com o aço importado continua assombrando as usinas.
Sem dúvida. Isso continua criando um grande problema para elas, principalmente em função da necessidade de, nesse processo, as usinas terem que baixar os preços para deixar seu aço competitivo, o que continua gerando resultados ruins. Por exemplo, se você pegar o resultado da Usiminas no 3º Trimestre, vai ver que ele foi muito ruim, assim como o de outras companhias siderúrgicas.
Um panorama nada saudável para a realização de novos investimentos, não é?
Sim. Principalmente nessa conjuntura em que se tem que injetar grandes recursos nos processos de descarbonização, para cumprir as metas globais. Mas se a sua atividade não estiver dando resultado, fica difícil entrar dinheiro de fora no negócio para fazer isso. Nesse aspecto, o grande dilema vivido pela siderurgia brasileira hoje é o da rentabilidade que ela necessita para descarbonizar, problema que é irrecorrível, e que as usinas vão precisar encontrar caminhos para resolver.
Diante dessa situação, há riscos de elas fecharem ou sair do Brasil?
Não. O que pode acontecer é algumas delas diminuírem suas operações, interromperem temporariamente as atividades de algumas de suas unidades. Então, não é algo, digamos, tão “dramático”. Mas a manutenção do quadro atual é ruim, porque a ausência de resultados diminui muito a possibilidade de elas fazerem investimentos por aqui.
Existe atualmente algum movimento de concentração da distribuição do aço em curso no Brasil, com a compra de algumas empresas menores por algumas maiores?
Não. Podemos dizer que algumas poucas empresas do segmento fecharam suas portas no passado, mas não há movimento recente nesse sentido. Continua tudo do mesmo jeito, como é o caso do número de associados ao INDA, que permanece praticamente o mesmo.
E com relação à tendência de, nos últimos tempos, muitas usinas siderúrgicas passarem a operar suas próprias distribuidoras: isso têm interferido na competividade das independentes?
Bem, esse não é um movimento novo, uma vez que é algo que já vem acontecendo há 30 anos. Na realidade, isso até impactou a operação do nosso segmento no passado. Mas agora já existe um convívio muito bom entre a distribuição independente e a distribuição ligada às usinas. Ambas se acomodaram e encontraram seu lugar em seus campos de trabalho, muitas vezes até se complementando na hora da compra. Trata-se de uma dinâmica que deve ter continuidade, porém que não tem potencial algum de instalar um cenário catastrófico na distribuição independente, porque estas continuam firmes, sem problemas maiores, exceto no que diz respeito àquilo que eu já disse, que os resultados continuam ruins.
Em face ao quadro atual, haverá alguma mudança na forma de atuação das distribuidoras ligada às usinas?
Acredito que, como a dinâmica de as usinas passarem a ter suas próprias redes de distribuição vai ter naturalmente continuidade, elas vão ter que se adequar cada vez mais à realidade do mercado, trabalhando nela com lucros menores e preços lá embaixo, em função do fato de que se tiverem que brigar muito com esse material importado a preços aviltados, elas não terão como escapar disso.