Especialista em inovação mostra como otimizar processos e produtos com criatividade e pensamento crítico.
Marcus Frediani
Com a missão de contribuir para o alcance da excelência na indústria, a revista Siderurgia Brasil foi conversar com o jovem e antenado especialista em Inovação de Processos e Produtos Cesar Eduardo da Silva, engenheiro com MBA em Gestão Empresarial, que hoje atua na Learn, consultoria com mais de 2.500 projetos de otimização em empresas de grande porte, tais como a WEG, a Electrolux e a BMW, e ainda autor do best-seller “Cientista Industrial”, um novo tipo de profissional que combina o pensamento crítico, à criatividade lógica e ao rigor do método científico para a conquista de resultados excepcionais. Confira o que ele nos ensinou!
Siderurgia Brasil: Cesar, para começo de conversa, o que é a figura do “Cientista Industrial”, que dá título ao seu livro?
Cesar Eduardo da Silva: Bem, a gente pode começar a explicar essa figura a partir da essência da definição do que é o aprendizado da Ciência, que é tomar conhecimento do que ainda não se sabe, com o ímpeto de buscar de colocá-lo na prática e fazê-lo funcionar com o objetivo bem claro de tornar algo melhor a serviço da sociedade. Isso significa positivar a ação de buscar soluções para se turbinar a eficiência da indústria, permitindo a entrega de produtos para satisfazer seus clientes, por meio da execução mais eficiente de seus processos.
Isso, então, significa fazer com que esse profissional da indústria consiga ir além dos meros processos padronizados.
Isso mesmo. Processos padronizados e eficientes, qualidade de produto, entrega no prazo, melhoria contínua, são requisitos básicos a toda indústria. A grande questão é como fazer o profissional que atua no setor se diferenciar em um mercado padrão. Para isso, é essencial o desenvolvimento da capacidade de encontrar maneiras inovadoras de otimizá-los, tornando-os mais eficientes, econômicos e sustentáveis por meio de experimentação, gerando uma mudança de perspectiva que resulta em economia de recursos, redução de desperdícios e maior competitividade no mercado.
E como isso afeta a tomada de decisões?
Tomar decisões corretas é o default de quem trabalha, administra ou gerencia uma indústria. Em outras palavras, é algo que faz parte do dia a dia desses profissionais. Nesse contexto, algumas decisões são mais simples de serem tomadas. Mas existem algumas que são um pouco mais difíceis, como aquelas que envolvem investimentos, como é o caso de um gestor ou diretor de indústria, que tem que ler dados específicos mais no sentido do negócio. Por sua vez, um cientista industrial – normalmente da área Técnica –, pode ser instado a encontrar soluções para operar um molde mais eficiente, ou usar a criatividade para que um produto consuma menos energia, envolvendo embasamento em dados específicos, com o uso do raciocínio crítico.
OK! Mas como lidar com tais divergências de propostas?
Esse é um dilema da Indústria 4.0. Muitas vezes um cientista industrial 4.0 tem que lidar com pessoas 0.4, em ambientes que não estimulam a criatividade ou mesmo a inovação preventiva, uma vez que ótimos gerentes nem sempre são bons líderes de negócios. Assim, não adianta você ter um baita sistema de aquisição de dados ou uma máquina toda sensorizada, com Inteligência Artificial se quem vai trabalhar com eles é um profissional 0.4, que não sabe o que fazer ou tomar decisões com todo esse aparato. E esse é um exemplo de desbalanceamento que, infelizmente, ainda costumo ver em muitas indústrias.
Como é possível fazer isso?
Basicamente, por meio daquilo que eu chamo de “criatividade lógica, que é a adoção de uma série de critérios que podem ser seguidos para melhorar os processos na indústria, como, por exemplo, a ter um hobby bastante diferente daquilo que ele faz em seu trabalho. Pode parecer estranho, mas é só pesquisar a história dos grandes gênios da Humanidade para notar que eles tinham muito diferentes de sua atividade principal, como é o caso de Einstein, que foi um físico fantástico, mas, nas horas vagas, gostava de tocar violino. Assim, pode acreditar: ter um hobby “diferentão” ajuda qualquer profissional da indústria a ser mais criativo, fazendo-o “sair da caixinha”, da sua zona de conforto, para que ele consiga enxergar o mundo de forma diferente, transformando-se em um verdadeiro cientista industrial.
E qual expertise precisa ser desenvolvida para tal?
Basicamente, difundir a habilidade de fazer boas perguntas. Aumentar a qualidade delas é o que abre a visão do profissional, e desenvolve o pensamento crítico. É como aquele sujeito que, ao entrar na área de produção, sempre tropeça em um degrauzinho mal colocado no pavimento: a pergunta errada é como criar um padrão para não tropeçar, e a correta é “será que a gente precisa daquele degrau ali?” E a mesma coisa se aplica à já tão famosa Inteligência Artificial. Para usar com eficiência um ChatGPT da vida, não adianta só fazer um cursinho básico: você tem que saber exatamente o que perguntar para ele.
Ou seja, o foco tem que ser outro.
Exatamente. Como eu coloco no meu livro, o foco da pergunta tem que ser no fundamento, e não na ferramenta. Por exemplo, no processo industrial você tem uma peça que precisa ser fixada na outra, e esse é o fundamento. Aí, o cientista industrial tem que pensar e perguntar: bom, hoje essa fixação é feita por meio de um parafuso, e precisa de um operário só para apertá-lo. Mas será que isso precisa ser assim? Por que a gente não pode fazer isso com um encaixe plástico ou um engate rápido, ou colocando um robozinho para fazer essa fixação?
E qual é o ganho real no investimento para a formação de cientistas industriais?
Bem, posso falar da experiencia da Learn. Com o ciclo do “Cientista Industrial” que a gente faz nas indústrias, temos obtido para elas um retorno sobre investimento superior a 34 para 1 em um ano. E esse investimento não é uma máquina, mas, sim, no seu profissional, o que, obviamente, tem impacto positivo na retenção de talentos, o que é muito bom para garantir o crescimento das empresas.