Para seguir com desenvoltura rumo ao futuro, a indústria brasileira precisa de soluções alternativas mais eficientes para atender à sua demanda, e corrigir déficits ainda cruciais relacionados ao seu abastecimento. Conheça as mais relevantes.
Marcus Frediani
O setor industrial responde por uma parcela significativa do consumo de energia do Brasil. Segundo os dados mais recentes do Balanço Energético da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) – que presta serviços ao Ministério de Minas e Energia (MME) na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético – tabulados em 2022, ele foi responsável por cerca de 32% do consumo final de energia, e quase 40% da eletricidade consumida no Brasil. E as projeções do Plano Decenal de Expansão de Energia para o horizonte de 2032, feitas pela mesma agência, indicam um aumento nessa participação, alcançando 45% do consumo energético nacional, o que torna prioritário o estudo emergencial de estratégias e políticas públicas direcionadas a implementar ações voltadas ao incremento da eficiência energética industrial do país.
Entre elas, se destacam aquelas constantes no Plano Nacional de Energia (PNE 2050), cujas novas recomendações e diretrizes foram aprovadas em dezembro de 2020, contemplando o aumento da demanda brasileira final e crescente de energia, cuja necessidade pode subir 2,2 vezes. E, quando se trata especificamente da demanda de energia elétrica, a estimativa de evolução cresce para 3,3 vezes.
PESQUISA DE PONTA
Na terceira posição em termos de capacidade instalada entre as nações do planeta, com 14.000 mil MW de potência instalada, a Itaipu Binacional é líder mundial na geração de energia limpa e renovável, tendo produzido, desde 1984, 3 bilhões de MWh. Em 2023, foi responsável por cerca de 10% do suprimento de eletricidade do Brasil e 88% do Paraguai.
Porém, muito mais do que sucessivos recordes de desempenho operacional na produção de energia, ela é reconhecida globalmente pela pesquisa acadêmica, o que vem contribuindo de forma significativa para atender à “Agenda 2030” da Organização das Nações Unidas (ONU), um plano global que prevê atingir em seis anos um mundo melhor para todos os povos e nações, atuando nos 17 desafios dos “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” propostos pela ação global.
“Itaipu é um grande laboratório transdisciplinar e fonte de inspiração para a pesquisa científica e a inovação, sendo que um dos principais eixos de seu trabalho diz respeito à concepção da gestão ambiental do reservatório e o desdobramento de vários processos aperfeiçoados e inovadores de gestão do território e de seus recursos hídricos e energéticos”, explica Ariel Scheffer da Silva, superintendente da Universidade Corporativa Itaipu (UCI), área dona de um grande currículo de soluções voltadas à produção de energia limpa e renovável.
DOMANDO A FORÇA DO SOL
Em paralelo, o Brasil acaba de fortalecer sua posição de destaque na transição energética global, ao atingir agora a marca histórica de 40 GW de potência instalada operacional da fonte solar fotovoltaica, reporta a Associação Brasileira de Energia fotovoltaica (ABSOLAR). Segundo mapeamento da entidade, a participação da fonte solar equivale atualmente a 17,4% da matriz elétrica brasileira e contribui cada vez mais para o protagonismo do Brasil na geopolítica de descarbonização das economias. Adicionalmente, pelos cálculos da ABSOLAR, o setor fotovoltaico já evitou a emissão de 48,9 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade, graças à geração limpa e renovável dos atuais 40 GW da fonte solar em atividade no país. E, de acordo com a entidade, desde 2012, a fonte solar trouxe ao Brasil mais de R$ 189,4 bilhões em novos investimentos.
“A evolução da tecnologia fotovoltaica contribui fortemente para o desenvolvimento social, econômico e ambiental, em todas as esferas da sociedade. Além de acelerar a descarbonização das atividades econômicas e ajudar no combate ao aquecimento global, a fonte solar tem papel cada vez mais estratégico para a competitividade dos setores produtivos, independência energética e prosperidade das nações”, ressalta o CEO da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia. “E tal situação melhora a cada dia com o surgimento de várias soluções técnicas inovadoras voltadas ao setor, tais como a agregação de novas tecnologias de baterias solares – que ampliam a segurança do sistema elétrico em casos de alterações climáticas –, e a da galvanização de metais, para proteger as estruturas de ferro e aço das usinas fotovoltaicas da corrosão, por que esta se funde ao metal, e não deixa espaço para a ferrugem se estabelecer. E isso, sem falar na abertura de novas linhas de crédito para o setor”, acrescenta o executivo.
USANDO A FORÇA DOS VENTOS
E quando o assunto é crescimento da geração de energia elétrica no Brasil, bons ventos também vêm da recente divulgação dos 421,2 MW acrescidos à capacidade instalada do país pelas 18 novas usinas eólicas em território nacional, sete delas apenas no Rio Grande do Norte. Adicionalmente, no mês de dezembro de 2023, durante a COP28, se deu a adesão do Brasil à Global Offshore Wind Alliance (GOWA). A iniciativa é da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) e do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC).
O objetivo dessa é reunir governos, setor privado, organizações internacionais e outras partes interessadas para acelerar a implantação de energia eólica offshore no país, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento da fonte e enfrentar as crises climáticas e de segurança energética no mundo. “O Brasil reconhece a necessidade de acelerar a transição para uma matriz energética mais limpa. Neste contexto, a energia eólica offshore faz parte do portfólio de soluções viáveis e a GOWA é uma iniciativa necessária. Em colaboração, estamos removendo as barreiras ao desenvolvimento desta nova e promissora fronteira de energia renovável”, afirma Thiago Barral, secretário nacional de Transição Energética e Planejamento do MME.
“No Brasil já estamos com mais de 78 projetos em análise pelo IBAMA, o que representa mais de 182 GW de capacidade. O potencial brasileiro para eólica offshore é de 700 GW, isso significa não só um avanço rumo ao NetZero em 2030, como também o impulsionamento de novas tecnológicas que demandam por energia renovável, como o hidrogênio verde”, destaca Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica, para quem a adesão do Brasil é um marco para o avanço da regulamentação das eólicas offshore no país.
A parceria pleiteada pela ABEEólica junto ao MME garantirá ainda a eficaz implementação da Política Industrial Verde no Brasil”, sublinha a executiva. E só lembrando: a geração eólica representa atualmente cerca de 15% da matriz elétrica brasileira, com 30 mil MW de potência instalada, distribuída por mais de 1.000 parques em 12 estados, e é responsável por abastecer mais de 40 milhões de residências, empresas e indústrias no território nacional.
HIDROGÊNIO E BIOGÁS
Juntamente com a ABSOLAR, a ABEEólica, a Associação Brasileira de Biogás (ABiogás) e a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK), a Associação Brasileira de Hidrogênio e Amônia Verdes (ABHAV) aderiu ao Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável no mês de fevereiro de 2024.
Segundo Leandro Borgo, presidente do Conselho de Administração da ABHAV, a união destas cinco entidades irá fortalecer o desenvolvimento do mercado brasileiro de hidrogênio renovável (H2R) e tornará mais preciso o debate nacional em torno do assunto. “Serão muitos temas convergentes e pouquíssimos divergentes, nos quais cada um seguirá com seu mandato, autonomia e bandeiras. O importante é que o futuro da energia renovável e sustentável com segurança e disponibilidade depende fortemente desta iniciativa, visando a impulsionar a descarbonização e a competitividade da indústria e da economia brasileira, no nosso caso, a partir do incentivo ao uso do hidrogênio de baixo carbono como vetor energético limpo e versátil. Sua produção a partir de fontes renováveis, como a energia solar e eólica, contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para a construção de um futuro mais sustentável”, pontua.
Por sua vez, Renata Isfer, presidente da Associação Brasileira de Biogás (ABiogás), afirma que a iniciativa se encaixa perfeitamente na pauta de uma série de projetos de lei em nível federal que a associação está acompanhando de perto pela importância e possibilidade de destravar investimentos no setor do biogás e do biometano. “Para que a produção de biogás no setor elétrico avance, é imprescindível o reconhecimento de seus atributos que ele agrega ao sistema, tais como armazenabilidade, despachabilidade, renovabilidade, serviços ancilares, capacidade de modulação, postergação de investimentos em localidades fins de linha, entre outros. E as perspectivas são positivas quanto a novos investimentos. A ABiogás mapeou entre os seus associados os projetos que já estão nos seus planos, chegando a números expressivos, em que a produção de biometano deve saltar de 470 mil m³/dia para mais de 7 milhões de m³/dia nos próximos cinco anos, passando de seis para 90 plantas comerciais e industriais, o que representa investimentos de cerca de R$ 7 bilhões de reais”, enfatiza a executiva.