Mesmo enfrentando desafios titânicos, a indústria e a distribuição do aço se mobilizam para tentar mitigar ao máximo os terríveis impactos das chuvas no estado gaúcho.
Marcus Frediani
O desastre climático que se abateu sobre o Rio Grande do Sul infelizmente parece não ter fim. À parte da triste e assombrosa perda de vidas e da destruição que ela já causou, um sentimento de medo, insegurança e de incerteza com relação ao futuro ainda paira por lá, em função da continuidade das chuvas, que seguem elevando os níveis dos cursos d’água ao longo de muitos municípios gaúchos atingidos, o que mantém um compreensível, porém sufocante, estado de atenção entre a população e os empresários que tiveram as operações de suas empresas paralisadas.
Claro, a mobilização de apoio que o Brasil inteiro está dando aos habitantes tem sido absolutamente fundamental para tentar mitigar os efeitos do desastre, assim como as manifestações dos Governos Estadual e Federal. Mas a pergunta é: diante de um desastre de dimensões e implicações tão titânicas, será que tudo isso vai bastar? E outra ainda: quanto tempo vai demorar para que o alerta vermelho se apague, e a vida dos moradores e a atividade econômica do RS ingresse em estágio de “normalidade”, algo que, na prática, ainda é impossível de se prever? Ambas, naturalmente, difíceis de responder.
AÇÕES DE CONTINGÊNCIA
Porém, enquanto se contabilizam os impactos e, erroneamente, muita gente ainda insiste em “achar culpados” que negligenciaram seus papéis diante do ocorrido, outros, mais sabiamente, encontram uma saída mais produtiva e lógica neste momento tão difícil, que é fazer a sua parte e… “AGIR”. E é o que estão fazendo diversas empresas daquele estado, ligadas ao setor siderúrgico, seriamente afetadas nas regiões em que atuam no Rio Grande do Sul, em prol da população, de seus clientes e da economia locais.
Um exemplo disso é o que foi dado hoje pela gigante Gerdau, companhia que tem seu berço no estado gaúcho. Ato contínuo ao início da tragédia das enchentes, a empresa comunicou em nota oficial que estava mobilizando esforços para priorizar a proteção das pessoas naquele momento delicado, razão pela qual estava paralisando suas operações no RS, até que fosse possível retomá-las com total segurança. Além disso, informou que estava oferecendo apoio a todos os colaboradores, e vinha realizando doações de itens para as comunidades próximas, tais como cestas básicas, kits de higiene e outros artigos, bem como mobilizando helicópteros para apoiar na logística das regiões afetadas. E a Gerdau encerrou a nota com uma mensagem de esperança: “Nos manteremos ao lado dos gaúchos, com a convicção de que iremos superar mais esse momento juntos.”
Por sua vez, a Usiminas, que mantém em Porto Alegre uma planta industrial da Soluções Usiminas, destacou, também em comunicado oficial, que estava temporiamente paralisada em função das fortes chuvas no estado, dando todo o suporte aos colaboradores da unidade, e que ainda havia iniciado uma campanha de arrecadação voltada a seus funcionários, e, em paralelo, estava atuando para minimizar eventuais impactos de atendimento aos clientes, ajustando entregas ou redirecionando pedidos para as demais unidades da Usiminas desde o início do desastre climático. “A Usiminas expressa sua solidariedade a toda a comunidade, clientes, colaboradores e parceiros do Rio Grande do Sul e segue oferecendo o suporte necessário”, finaliza o texto.
CENÁRIOS DE CALAMIDADE
Quem também está envidando esforços semelhantes é a Divimec. Embora sua unidade localizada em Glorinha, município da Mesorregião Metropolitana de Porto Alegre, não tenha sido diretamente afetada pelas enchentes, a empresa está se desdobrando entre tentativas de regularizar, dentro do possível, o fornecimento de seus produtos aos clientes, e ações de doação de alimentos, roupas e itens de higiene aos moradores das comunidades locais, e até mesmo realizando resgates destes com o auxílios de barcos e jet-skis, mesmo correndo riscos pessoais, porque a ocorrência incompreensíveis de atos de violência, como roubos e saques, o que, infelizmente, continua a ser uma absurda realidade por lá. “Hoje, até mesmo em função da continuidade das chuvas, ainda é impossível avaliar a extensão total dos impactos dessa tragédia, o que somente poderá ser feito quando as águas baixarem. Mas, o prioritário para nós é a questão humana, mesmo com o temor de que, quando isso acontecer, se constate que o número de mortes seja bem maior do que aquele que está sendo anunciado”, lamenta, com muita tristeza, Maicon Flor, diretor comercial da empresa.
Localizada em Canoas, uma das cidades mais atingidas pela calamidade das chuvas no RS, a sede da PS Zamprogna vive uma situação semelhante à da Divimec. Sua unidade industrial, felizmente não sofreu impactos diretos com inundações, porque as águas “estacionaram” a cerca de 300 metros de sua planta. Porém, ela não ficou livre de problemas correlatos, como, por exemplo, a queda de energia logo no início das tempestades. E como sua unidade fica no entroncamento de várias rodovias de acesso a vários polos industriais, sua logística foi duramente atingida. “Sem alternativas, tivemos que paralisar totalmente as nossas operações, dando férias coletivas aos nossos funcionários, e passando a atender a população local nas operações de resgate, além de organizarmos campanhas emergenciais de doações. A proteção às vidas das pessoas é, agora, a nossa maior preocupação. Os prejuízos materiais, a gente contabiliza, e resolve depois”, enfatiza Clebsen Pereira, gerente comercial da companhia.
Menos sorte, entretanto, teve a Cofercan, também situada em Canoas. “Desde 1941, a cidade não havia passado por uma tragédia ambiental como essa. Nosso depósito, no qual mantínhamos 5.000 toneladas de aço, ficou com 3,5 metros de água. Com muita dificuldade, conseguimos entrar no segundo piso, que não foi muito afetado, para pegar alguns equipamentos, como nosso servidor e alguns computadores, porque os saques estão ocorrendo com muita frequência por aqui. E, com relação aos materiais, a única coisa que podemos fazer agora é lavar os laminados com uma lavadora a jato de alta pressão, e colocar alguns ventiladores para secá-los. Já com relação aos tubos, produtos com os quais também trabalhamos, a alternativa será lavá-los por dentro e por fora, e dar-lhes um banho de óleo, e, infelizmente, vendê-los como material de segunda linha, porque os tubos oxidam muito fácil”, registra Daniel Cobalchini, diretor da empresa.
SOLIDARIEDADE ACIMA DE TUDO
Porém, sem falar dos impactos à população, problema mais grave com relação aos estoques, é o que está sendo vivenciado pela Dalleaço, sediada no município de São Leopoldo, que até agora está com cerca de 76.000 toneladas de aço totalmente submersas em seus depósitos, juntamente com vários caminhões. “Ainda estamos ‘hipnotizados’ com o que aconteceu, sem energia elétrica e sem saber direito o que fazer. Há muitas dúvidas se nossos sistemas informatizados vão voltar a funcionar, e se os painéis de nossas máquinas e equipamentos de produção voltarão a operar”, relata Luiz Carlos Dallemole, diretor da empresa. E mesmo quando a chuva para, logo começa de novo, o que gera uma tremenda incerteza na companhia, uma vez que a água do rio dos Sinos demora cerca de dois dias para chegar às instalações da Dalleaço. Tudo, realmente, aconteceu muito rápido. Para se ter uma ideia, cerca de 40 funcionários nem conseguiram sair da empresa quando as chuvas começaram, e ficaram “ilhados” nela por 15 dias, deixando-os aflitos com o destino de suas famílias e de suas casas, que também estão debaixo d’água, sendo que em algumas delas, nem os telhados aparecem. “A sociedade leopolidense está muito mal, mas, ao menos feliz com a solidariedade e a ajuda de todo o país, porque, afinal de contas, este não é um problema só nosso, mas, sim, de todos os brasileiros. De nossa parte, nós, como empresários, estamos ‘abraçando’ a situação com coragem e determinação, na certeza de que iremos nos recuperar rapidamente, uma vez que já nascemos ‘loucos’ por termos a ousadia de manter negócios no Brasil”, consegue, apesar de tudo, se animar e mostrar seu otimismo Luiz Dallemole.
E o mesmo sentimento é compartilhado por Renan Donelli, sócio-proprietário da gaúcha Superaço, empresa que não foi afetada pelas inundações em sua matriz e parque fabril em Caxias do Sul, porém está sofrendo com elas em suas filiais em Bento Gonçalves e em Canoas. “Estimamos que, em ambas, a perda dos estoques foi de 80%, o que fez as vendas da companhia caírem pela metade. Particularmente em Bento, as interrupções nas estradas e quedas de pontes está prejudicando muito nossas operações de logística, enquanto que em Canoas, onde registramos um pico de 2 metros de água em nossas instalações, tivemos que paralisar a atividade da fábrica, e dar férias coletivas para manter nossos funcionários em segurança. E, provavelmente, só vamos poder contabilizar os estragos por lá em meados de junho, porque acreditamos que somente até lá poderemos ter acesso àquela unidade”, destaca. “Mas temos que manter a moral em alta, porque estamos cientes da nossa responsabilidade no processo de reconstrução do estado do Rio Grande do Sul, que vai precisar de muito aço para fazer isso. E o mesmo comprometimento também vai ser demandado de outras empresas que, como a nossa, são bem estruturadas financeiramente, e que, juntas, terão que encarar esse desafio gigantesco e sem precedentes”, conclui Donelli.
Com tudo isso, o sentimento que fica é de que, mesmo diante de tanta destruição, o povo forte, valente e valoroso do Rio Grande do Sul pode ter a certeza de que contará com os mais diligentes esforços do setor de siderurgia do estado, e do Brasil também, para fazer a situação voltar, o mais rapidamente possível, ao seu estágio ideal de normalidade.
O Portal e a revista Siderurgia Brasil se solidarizam com todas as pessoas que estão passando por este drama, expressando nossa tristeza, independentemente da sua condição de empresário ou não, de sua classe social ou de suas preferências. Ainda que distantes de tamanha calamidade, daqui estamos enviando nossos votos e vibrações de carinho, e nos colocando ao inteiro dispor de todos, para colaborarmos no que for possível, e para a retomada da vida normal e da operacionalidade pessoal e empresarial de cada um. Confiamos em Deus, e sabemos que tudo isso vai passar. E ainda que muito difícil, a recuperação será possível, com a coragem e a força de cada um de nós.