Os aços trefilados possuem maior resistência mecânica. Além das propriedades mecânicas, a tolerância dimensional também é um aspecto significativo na seleção dos aços trefilados, para que atendam às especificações de cada utilização.
Marcus Frediani
O aço trefilado é um produto siderúrgico resultante da trefilação, um processo de conformação plástica de metais no qual a matéria-prima (fio-máquina) é estirada por meio de uma matriz conhecida como “fieira”. Nele, uma força de tração e uma força de compressão se combinam para fazer com que o material se alongue e reduza na área da seção transversal, oferecendo diversas vantagens em sua utilização industrial, pelo fato de que o processo modifica as propriedades do material. Entre as principais estão a alta precisão dimensional (produtos com diâmetros precisos e tolerâncias estreitas); melhores propriedades mecânicas (maior resistência e dureza); e superfície de alta qualidade (melhor acabamento superficial).
“Embora o aço seja considerado um material versátil, possuindo propriedades interessantes, nem todos os tipos de aço são adequados para o processo de trefilação, pois nem todos possuem as propriedades necessárias, como ductilidade e conformabilidade/trefilabilidade. Além disso, alguns fatores podem influenciar a trefilabilidade, tais como a composição química, a microestrutura e o tratamento térmico. Assim, os aços de baixo e médio carbono, além dos aços inoxidáveis e mola são os mais comuns para a realização do processo”, explica Lucas Bahia, diretor de Negócios de Trefilação da ArcelorMittal, empresa que mantém uma robusta estrutura, com quatro unidades no Brasil para o atendimento aos clientes de segmentos específicos do mercado.
“As trefilarias de Juiz de Fora/MG, de Resende/RJ e São Paulo/SP são dedicadas ao suprimento da Construção Civil, produzindo pregos, arame CA60, telas padrão, telas especiais, telas-rolo e treliças. Já a trefilaria de Sabará/MG, produz barras endireitadas, descascadas e trefiladas para o setor Automotivo, com aplicação em molas, barras estabilizadoras e sistemas de suspensão, entre outros itens, e ainda para a indústria em geral, com aplicação em componentes fixadores, eixos de motor, eixos-agitadores e ferramentaria, entre outros”, relaciona Lucas.
ATENÇÃO ÀS ESPECIFICIDADES
Outro esclarecimento importante dado pelo diretor diz respeito às propriedades das soluções oferecidas pela ArcelorMittal a esses clientes, pontuando que um material trefilado e de um material laminado a quente podem diferir significativamente, devido aos distintos processos de fabricação envolvidos em cada um deles. Dessa forma, por exemplo, os aços trefilados apresentam maior resistência mecânica, principalmente em função do encruamento resultante da deformação a frio, e, em geral, possuem uma ductilidade ligeiramente menor, causada pela deformação a frio, que pode endurecer o material. Enquanto isso, os aços laminados a quente apresentam menor resistência mecânica. devido à estrutura de grãos mais grosseiros, e comumente em maior ductilidade, ocasionada pela deformação plástica ocorrida em altas temperaturas.
Assim, Lucas Bahia sublinha que, para a seleção do aço trefilado ideal para aplicações específicas nos já citados segmentos, é preciso considerar diversos fatores, tais como as propriedades mecânicas e tolerância dimensional. Isso porque as propriedades mecânicas do aço trefilado – como resistência à tração, tenacidade e dureza são fundamentais para garantir que o material atenda às exigências de cada uma delas. Por conta disso, além das propriedades mecânicas, a tolerância dimensional também é um aspecto significativo na seleção dos aços trefilados, a fim de que estes atendam às especificações dimensionais de cada peça a ser produzida, garantindo a precisão e a qualidade do produto final.
E para explicar melhor a sistemática que norteia tal escolha, o executivo da ArcelorMittal cita o exemplo dos cabos de aço, que requerem alta resistência à tração e boa ductilidade. “No caso destes, os aços de baixo a médio carbono, tratados termicamente para melhorar a resistência, são uma escolha comum. Por sua vez, como exigem alta resistência mecânica e ao desgaste, além de precisão dimensional, para a fabricação de componentes os aços de médio carbono ou aços ligados, como os aços -mola, são os mais indicados e frequentemente utilizados nesses processos”, destaca.
E OS COMPROMISSOS COM A DESCARBONIZAÇÃO?
Do ponto de vista organizacional, além observar rigorosamente toda essa gama de aspectos técnicos, para a produção de seus trefilados, a ArcelorMittal dedica uma atenção especial ao seu compromisso com a agenda da Governança ESG, a fim de enfatizar a sua posição de liderança no esforço global da descarbonização na indústria do aço. Exemplo disso foi o pioneirismo da empresa ao lançar a meta de ser carbono neutro até 2050, com um passo intermediário de reduzir as emissões em 25% até 2030.
Nesse sentido também, uma das alavancas de sua atuação é manter todas as suas unidades abastecidas com 100% de energia renovável certificada até 2030, dentro da previsão da Política Energética. “Fechamos o ano de 2023 com autogeração de 61%, e compra de 39% de energia elétrica provenientes de fornecedores com matriz de geração limpa e renovável”, informa Lucas, para justificar tal argumentação.
Adicionalmente, para a conquista da meta de redução de emissões para 2030, existe na empresa a previsão de o aumento do uso de combustíveis verdes (biomassa), e ainda de sucata, uma vez que a companhia, que é a maior produtora de aço do planeta, também é uma das líderes mundiais em reciclagem de sucata metálica, processando cerca de 30 milhões de toneladas todo ano. E isso sem falar de seus investimentos constantes voltados ao desenvolvimento de tecnologias disruptivas para produção de ferro primário e uso de offsets.
PREVISÕES DE INVESTIMENTOS
Por meio de joint venture com a Casa dos Ventos, a empresa está construindo um dos maiores parques eólicos do país, instalado na Bahia, com capacidade de produção de 553,5 MW. Com investimento de R$ 4,2 bilhões, trata-se do maior contrato corporativo de energia renovável do país, com o intuito de abastecer com energia limpa aproximadamente 40% de nosso consumo elétrico. Atestando essa proposta, a ArcelorMittal Brasil também firmou um convênio com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), para a criação do Centro CIT/SENAI de Descarbonização Industrial na capital mineira, com investimento de R$ 34 milhões.
“Complementarmente, dentro do maior programa de investimentos da história da indústria do aço no país – nada menos do que R$ 25 bilhões, que, certamente aumentarão a participação de mercado da ArcelorMittal, e garantirá a ela níveis superlativos de competitividade e de diversificação de nosso portfólio com a oferta de produtos de alto valor agregado, principalmente para o setor Automotivo –, está ainda a previsão de elevação da capacidade de produção de trefilados de sua unidade de Sabará em 35%, a partir de um investimento da ordem de R$ 144 milhões, destinados à aquisição de dois novos equipamentos automatizados para a trefilação, com os quais a companhia espera ampliar sua gama de soluções em aço para o mercado de molas, amortecedores, parafusos, fixadores, entre outros”, finaliza Lucas Bahia.
INOVAÇÃO QUE COMBINA COM TRADIÇÃO
A cultura de inovação sempre fez parte do dia a dia da ArcelorMittal, mesmo sendo parte de um segmento tradicional e conservador da economia e a empresa tem buscado, cada vez mais, fortalecer as conexões, o envolvimento de clientes e parceiros e a cocriação no ambiente de negócios.
A empresa foi a primeira empresa na América Latina a ter um processo de produção do aço integrado, fabricou os primeiros laminados com aço 100% nacional, e foi a pioneira no Brasil a produzir carvão vegetal a partir de fontes renováveis. Foi também a primeira empresa do setor a lançar um laboratório de inovação aberta no mundo – o Açolab –, que irá completar seis anos em julho de 2024, e está localizada na sua sede administrativa em Belo Horizonte/MG. Além disso, criou a primeira plataforma de e-commerce para venda de aços e consolidou sua posição de vanguarda ao estabelecer o primeiro sistema de franquias de varejo no setor siderúrgico brasileiro.
Aliás, como evolução da estratégia iniciada com a criação do Açolab, a ArcelorMittal lançou em 2021 o Açolab Ventures, o Corporate Venture Capital (CVC) da empresa. Trata-se de um fundo de investimentos próprio voltado a startups de pequenas e médias empresas inovadoras. Foram realizados investimentos em seis empresas: Agilean, Sirros, Modularis, Beenx, Vertown e Housi). E ao todo, até 2025, serão destinados mais de R$ 100 milhões, contemplando essa iniciativa voltada à inovação.