Não há como negar que vivemos um momento de transição na indústria brasileira. De um lado, boas notícias, como aumento de produção em alguns setores, a introdução da Inteligência Artificial também em alguns setores, os esforços para deixarmos de exportar somente produtos primários, e incluirmos novos itens com maior valor agregado. Porém, de outro, continuamos convivendo com a intensa chegada do aço e de outros produtos chineses ao nosso país, o que, silenciosamente, vem corroendo as estruturas da indústria brasileira e fincando cada vez mais as estacas orientais em quase todas as atividades empresariais. E some-se ainda a isso, o fato da convivência com as consequências paralelas, pois não está sendo fácil conquistarmos novos mercados internacionais nos quais a China marca presença, uma vez que ela vem, inexoravelmente, ocupando todos os espaços.
Nesta edição da revista Siderurgia Brasil, temos claras demonstrações do que apresentamos no primeiro parágrafo deste nosso editorial. Assim, nas próximas páginas, de um lado vocês lerão matérias sobre os avanços da construção em aço, e uma síntese de tudo que se ganhou em termos de terreno nestes últimos meses e anos, e também muito a introdução da inteligência e da digitalização no Agronegócio, que, de forma direta e incisiva, contribuem substancialmente para o aumento da produtividade no campo. São dois segmentos grandes consumidores de aço.
Mas, de outro lado, trazemos notícias preocupantes, como o pronunciamento emocionado do presidente do Sicetel, realizado durante o jantar comemorativo dos 90 anos da entidade, no último dia 12 de setembro, no qual ele destacou e sugeriu a formatação de um pacto de todos os brasileiros em defesa da indústria nacional e, em última análise, em defesa do próprio Brasil. Na reportagem que preparamos tomando como base o discurso de Ricardo Martins, apresentamos muitos detalhes relacionados à desorganização da política brasileira, na qual os Poderes do Estado estão longe de se entenderem, não se limitando a governar o país, mas tendendo a interferir na vida individual das pessoas e das empresas, sem falar da famigerada saga arrecadatória atualmente vigente no Brasil. Nesse sentido, trazemos ainda a entrevista com Benjamim Nazário, um dos mais tradicionais e respeitados distribuidores de aço do Brasil, que também clama pela defesa da siderurgia nacional.
E as cotas de importação do aço? Como está se comportando o mercado com relação a essa novidade que tinha como meta disciplinar a entrada da liga estrangeira. A sistemática já foi implantada, mas que surpresas reserva a possível fuga da classificação dos aços, que chegam em NBMs, e que estão fora das cotas regulamentadas, algo que, de certa forma, já era esperado, e está efetivamente acontecendo? Resta agora aguardar a atitude do governo, que prometeu barrar tais práticas, ante às assustadoras cifras da importação. Então, como será o futuro?
Na seção “Energia”, atualizamos os números com relação ao uso da energia solar, que pode ser uma das melhores alternativas ao que está por vir. Mas, infelizmente, mais uma vez, estamos jogando energia fora, por falta de infraestrutura, como linhas de transmissão e armazenamento, medidas que precisam ser tomadas pelos nossos governantes.
Recomendamos aos nossos prezados leitores não só a leitura da edição em todas as seções, que retrata tudo aquilo que acontece na siderurgia e na vida nacional, mas também – e principalmente – a fazer uma reflexão sobre como encarar todos esses desafios, que, como se vê, não são poucos.
E, mais uma vez também, agradecemos todo o carinho que vocês têm dedicado à nossa revista, colocando-nos à disposição para receber todas as suas críticas, sugestões e elogios, por meio de nossos canais de interação e comunicação.
Boa leitura!
Henrique Patria
henrique@grips.com.br