Pesquisa da TOTVS aponta as prioridades de investimento tecnológico de diferentes segmentos do Agronegócio no Brasil. E nessa seara, a aplicação das tecnologias emergentes é a bola da vez.
Marcus Frediani
Um recente estudo realizado pela TOTVS, maior empresa de tecnologia do Brasil, em parceria com a H2R Insights & Trends, revelou uma tendência positiva para o incremento do uso da inovação no Agronegócio brasileiro. No entanto, o cenário também sugere a necessidade de se explorar e investir em um tipo muito específico dela: as tecnologias emergentes, que impulsionam a produtividade, a eficiência e a sustentabilidade em toda a cadeia de valor do setor no país.
Nesta entrevista exclusiva à revista Siderurgia Brasil, Fabricio Orrigo, diretor de Produtos para Agro da TOTVS, comenta os dados da pesquisa, e explica porque investir em tecnologia é o caminho certo para o crescimento do Agro brasileiro. Confira!
Siderurgia Brasil: Fabricio, qual o atual estágio da aplicação da tecnologia no Agro brasileiro?
Fabricio Orrigo: O Índice de Produtividade Tecnológica do Agro (IPT) da TOTVS, um estudo que avalia o uso e a internalização de sistemas integrados de gestão e tecnologias complementares por empresas do setor, para avaliar a maturidade tecnológica desses sistemas, a média geral do segmento ficou em 0,58 – em uma escala de 0 a 1 –, o que revela o uso moderado de tecnologias aplicadas à gestão da operação e vendas (ERP). E o levantamento mostrou que apenas 19% dos entrevistados figuram no quarto quadrante, ou seja, com IPT de 0,75 a 1, que reflete uma maior maturidade no uso de tecnologias para maior eficiência na tomada de decisão.
E o que isso quer dizer exatamente?
Bem, apesar de isso revelar um cenário incipiente, também perguntamos aos entrevistados quais tecnologias eles pretendem investir nos próximos dois a cinco anos, a fim de avaliar os direcionamentos e investimentos futuros em tecnologia e gerar o Índice de Prontidão Futura (IPF). E o IPF do setor ficou em 0,51 – em uma escala de 0 a 1 –, demonstrando uma tendência positiva na adoção de tecnologias. Essa tendência se dá, principalmente, porque o Agro sofre com uma série de fatores externos – tais como eventos climáticos, de solo e pragas, entre outros –, o que gera uma maior preocupação e, consequentemente, faz com que as empresas destinem maiores recursos a soluções que aumentam a produtividade e a precisão de forma sustentável.
Considerando especificamente tais focos como prioritários, quais são os maiores desafios associados relacionados a eles?
Para que o Agro possa alcançar um crescimento ideal, um caminho importante seria a ampliação do acesso a tecnologias avançadas, como dispositivos IoT, ferramentas de Inteligência Artificial, sistemas de controle de qualidade e técnicas de processamento. E isso tudo poderia ser viabilizado, por exemplo, por meio da oferta de linhas de crédito mais acessíveis, com condições ajustadas às necessidades do setor, como prazos mais longos de pagamento e taxas de juros mais competitivas. Além disso, políticas públicas poderiam incentivar parcerias entre empresas de tecnologia e o setor, criando hubs de inovação e aceleradoras voltadas ao desenvolvimento de soluções específicas para a agricultura.
Porém, a gente sabe também que grande parte desses inputs de inovação vem de fora, ou seja, embarcados em máquinas e equipamentos importados, que, entre outras coisas, custam bem caro. Assim, como esse processo poderia ser acelerado?
Creio que a indústria nacional que atua nesses segmentos tem desempenhado um papel importante no fornecimento de inovações tecnológicas para o setor no Brasil. E isso pode ser constatado quando se observa o fato de que a produção local tem buscado integrar novos processos e adotar tendências globais, como automação, conectividade e uso de IA em equipamentos agrícolas. Mas aí, é fato também que as tecnologias mais avançadas exigem investimentos mais robustos em pesquisa e desenvolvimento, incentivo que vemos acontecendo com maior frequência fora do país.
A manutenção de uma colaboração mais intensa e produtiva entre os fabricantes nacionais desses itens e os players internacionais não poderia ser o caminho para resolver esse problema?
Em primeiro lugar, é importante destacar que a indústria nacional já entrega produtos com altos níveis de qualidade para o Agro local. Além disso, há uma crescente tendência de colaboração entre fabricantes nacionais e internacionais, promovendo um intercâmbio de conhecimento e soluções adaptadas às condições locais, como o clima e os diferentes tipos de solo. E muitas iniciativas se enquadram nesse sentido. Um exemplo disso é o Programa Brazil Machinery Solutions, desenvolvido pela Agência Brasileira de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), em conjunto com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), que visa a promover as exportações de máquinas e equipamentos brasileiros, assim como fortalecer a imagem do país como fabricante de bens de capital mecânico com tecnologia e competitividade. Das 13 empresas selecionadas para a iniciativa em 2024, dez delas são fornecedoras de soluções para Agro.
E quanto aos outros desafios?
Entre os principais estão a sustentabilidade e as pressões ambientais – como o desmatamento e a degradação do solo –, que exigem a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, contudo também associadas ao uso de modernas tecnologias, como IoT e monitoramento via satélite. Em paralelo, as mudanças climáticas afetam diretamente a previsibilidade das safras, o que impacta o desempenho econômico do setor. E o uso de modelos preditivos e tecnologias de irrigação poderia ajudar a mitigar esses impactos. Também são dores latentes do setor logística e infraestrutura deficientes, que elevam os custos de escoamento, além da escassez de mão de obra qualificada para operar novas tecnologias, o que exige maior investimento em capacitação técnica.
Mas, de maneira objetiva, como é possível associar a pauta da sustentabilidade ao modelo de negócios do Agronegócio brasileiro, principalmente alinhando-a à questão dos investimentos voltados à inclusão das tecnologias digitais?
O investimento tecnológico no Agro é fundamental, não apenas para aumentar a produção, mas também melhorar a qualidade do que é produzido. Além disso, a aplicação de tecnologia permite uma gestão mais precisa e sustentável da injeção de capital, contribuindo assim não só para a preservação do meio ambiente, como também para a redução de custos e desperdícios, e ainda para otimizar a receita, a ampliação da produtividade e o uso de recursos de diferentes naturezas. Assim, investir em digitalização é algo que abre um leque de grandes possibilidades, além de um diferencial competitivo importante para o Agro brasileiro, tanto no mercado interno quanto no internacional. Além disso tudo, vale ressaltar que a sustentabilidade do modelo de negócios também passa pela segurança que a empresa oferece à sua cadeia produtiva. E é isso que tem feito as companhias se movimentarem para cumprir as regulamentações e legislações, como os programas de certificação oferecidos pelo governo ou por instituições reconhecidas no mercado.
Para conferir o Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) de Agro da TOTVS na íntegra, clique no link: https://produtividadetecnologica.com.br/