As principais vantagens, os benefícios e também os desafios de sincronizar as energias limpas disponíveis para consumo.
Marcus Frediani
A crescente demanda por energia limpa e sustentável tem impulsionado o desenvolvimento e a adoção de diversas tecnologias de energia renovável. Entre elas, a solar tem se destacado por sua versatilidade e potencial de redução de custos. Porém, integrar essa matriz a outras, como a eólica, por exemplo, em formato de sistema híbrido, surge como vertente e solução mais inteligente para o melhor aproveitamento e operacionalização dessas fontes, como alternativa para driblar tenazes e desafiadores obstáculos relacionados à transmissão e distribuição de energia na ponte que liga as longas distâncias entre a geração e o efetivo consumo dela em nosso país-continente.
Nesta entrevista exclusiva para a revista Siderurgia Brasil, Rodrigo Bourscheidt, CEO da Energy+, rede de tecnologia em energias renováveis, que oferece soluções voltadas para a geração de energia distribuída dá algumas importantes pistas de como isso pode ser feito. Acompanhe!

Siderurgia Brasil: Rodrigo, no âmbito das energias renováveis como você avalia a evolução da matriz solar?
Rodrigo Bourscheidt: Ela tem sido bastante significativa e notavelmente rápida. E posso atestar isso com a minha experiência pessoal, com base nos dados da Associação Brasileira das Empresas de Energia Solar (ABSOLAR). Em 2019, quando, comecei a trabalhar nessa área, a energia solar representava 1,7% da matriz energética brasileira, e, hoje, já representa mais de 22% dela. Então, embora também se tenha observado algum crescimento na matriz eólica, nos últimos cinco anos a energia solar representou 70% do crescimento da matriz energética brasileira.
Que fatores vêm impulsionando esse crescimento?
Bem, isso se dá em função de um conjunto de fatores. Em primeiro lugar, existe a questão da viabilidade técnica. Na média, a incidência do sol no Brasil é, disparadamente, a maior do planeta, o que faz com que a geração de energia solar seja viável de Norte a Sul do país. Temos também a favor dela o fator financeiro, uma vez que, para sua implantação, a energia solar é de sete a oito vezes mais barata do que qualquer outra fonte de energia. Por exemplo, se você comparar o custo de implantação de 1 Megawatt de potência de energia solar e comparar à mesma medida de implantação de energia hidrelétrica essa diferença chega a seis vezes. E o mesmo acontece com o custo de manutenção entre os dois tipos de plantas, porque o daquela de manter uma usina solar funcionando é praticamente zero. Ou seja, a gente consegue mantê-la funcionando por pouquíssimo reinvestimento destinado à operação. Ou seja, ela é mais barata de se implantar e de se manter funcionando.
Nesse sentido, como se alinha a questão da transmissão de energia, que é crucial para a estabilidade e confiabilidade do sistema?
Com efeito, o grande gargalo da energia renovável se chama linha de transmissão. A energia renovável depende de determinadas condições específicas, ela tem certa intermitência, o que ocasiona menos flexibilidade na administração das potências do que na energia térmica. E isso, em função de algumas condições bastante específicas, principalmente àquelas ligadas à oscilação de fontes de produção na matriz energética solar e eólica ao longo do dia, por dependerem de fatores ambientais. Além, disso, o fato de a energia renovável ter que ser transportada para lugares distantes gera um enorme desafio, porque você começa a ter geração muito grande em pontos remotos, bem como um consumo muito grande nos locais onde não se consegue implantar uma usina de geração.


E como é possível solucionar isso?
Bem, fica claro que um dos maiores desafios na integração de diferentes fontes de energia renovável é a sincronização da produção e o armazenamento eficiente de energia. Tecnologias de armazenamento, como baterias de íons de lítio e sistemas de armazenamento térmico, são fundamentais para equilibrar a oferta e a demanda. O desenvolvimento de redes inteligentes, os smart grids, também facilita a gestão e distribuição de energia de forma mais eficaz. Simultaneamente, a criação de políticas públicas e incentivos para promover a integração de energias renováveis é essencial. Governos e organizações devem trabalhar em conjunto para desenvolver regulamentações que incentivem a adoção de sistemas híbridos e a modernização da infraestrutura energética, afinal essa integração entre energias limpas é um passo fundamental para alcançar um futuro energético mais sustentável e resiliente.
Em síntese, isso passa pela necessidade de sincronizar as energias renováveis disponíveis para o consumo.
Sim. Para maximizar os benefícios das energias renováveis é essencial integrar a energia solar com outras fontes, como eólica, biomassa e hidrelétrica. Isso pode oferecer diversas vantagens, como maior estabilidade da rede por mitigar a intermitência inerente a energia solar e eólica, e otimizar o uso de recursos por aproveitar os pontos fortes de cada tecnologia e usar de forma mais eficiente as fontes naturais disponíveis. E, com isso, também se consegue reduzir custos, especialmente operacionais e de manutenção.
E como poderiam ser feitas essas combinações?
Seguramente, a integração da energia solar e a eólica é uma das mais promissoras. Enquanto a produção solar é maior durante o dia, a eólica pode ser mais intensa à noite ou em dias nublados, proporcionando uma produção mais constante ao longo do tempo. Já a combinação entre a energia solar e a biomassa pode ser especialmente vantajosa em áreas rurais e agrícolas. A biomassa pode fornecer energia durante períodos de baixa produção solar, utilizando resíduos agrícolas e florestais como matéria-prima. Por fim, a integração entre a energia solar e hidrelétrica tem em sistemas solares flutuantes em reservatórios hidrelétricos uma inovação significativa. Essa combinação permite o uso eficiente de áreas de superfície de água e reduz a evaporação, além de complementar a produção de energia durante os períodos secos.
