Sandro Marques Raposo*
Não é novidade que a COP30, que acontecerá em Belém-PA em novembro, colocará o Brasil no centro das discussões sobre a crise climática mundial. Uma década após o Acordo de Paris, o mundo exige ações concretas para reduzir emissões e promover um modelo de desenvolvimento mais sustentável. Acompanhando especialistas e pesquisas sobre o tema, vejo a economia circular como um dos fortes pilares para transformar as cadeias produtivas e trazer benefícios tanto ambientais quanto econômicos.
Os números demonstram a força desse movimento: segundo dados da Ambipar, a adoção mais ampla da economia circular no Brasil poderia injetar R$ 11 bilhões por ano na economia, além de gerar cerca de 240 mil novos empregos até 2040. A mensagem é clara: a sustentabilidade não é só uma responsabilidade social, ela é também uma grande oportunidade de negócios. Esse sistema é ainda mais estratégico para a área industrial, pois permite a certificação de importantes parâmetros internacionais de mercado e também a redução significativa do nosso custo de produção como diferenciais competitivos.
No setor siderúrgico, a economia circular já se consolidou como um vetor estratégico para a competitividade industrial, mitigando a dependência de matérias-primas primárias e a elevada intensidade carbônica dos processos produtivos. Diante do crescimento contínuo da demanda por aço, torna-se imperativo adotar práticas que conciliem expansão produtiva com conformidade regulatória e redução do impacto ambiental.



O aço apresenta um ciclo de vida altamente eficiente, caracterizando-se como um dos materiais mais recicláveis da indústria, com reaproveitamento ilimitado sem comprometimento de suas propriedades físico-químicas. No entanto, o potencial da circularidade siderúrgica ainda pode ser ampliado por meio da maximização do uso de sucata metálica como insumo primário, reduzindo custos operacionais, emissões de CO₂ e a necessidade de extração mineral. Complementarmente, a integração de matrizes energéticas renováveis e a valorização de coprodutos siderúrgicos, como escórias e poeiras de aciaria, potencializam a eficiência da cadeia produtiva e minimizam passivos ambientais.
A implementação de modelos circulares na siderurgia transcende a perspectiva ambiental e se configura como um diferencial competitivo estruturante. Empresas que internalizam esses conceitos aprimoram sua eficiência operacional, mitigam riscos regulatórios e fortalecem sua inserção em mercados que exigem rigorosos padrões de pegada de carbono e rastreabilidade de materiais. A rastreabilidade, aliás, tornou-se um critério determinante para consumidores e investidores, reforçando a relevância do aço verde como um ativo estratégico.

A transição para uma siderurgia de base circular demanda investimentos robustos em inovação tecnológica, pesquisa e desenvolvimento, além de uma abordagem sistêmica que envolva toda a cadeia de valor. Mais do que um compromisso ambiental, a economia circular representa um imperativo econômico para garantir a perenidade e a resiliência do setor siderúrgico em um cenário global cada vez mais orientado à sustentabilidade.
Sandro Marques Raposo* Diretor de ESG e Novos Negócios da AVB- Aço Verde Brasil