A comemoração do Dia Nacional do Aço mescla sentimentos antagônicos entre os principais players da cadeia do setor. De qualquer forma, o que vem por aí naturalmente preocupa.
Marcus Frediani
Cercada por apreensões naturais relacionadas ao momento presente, mas também por manifestações de esperança em relação ao futuro, a comemoração do Dia Nacional do Aço, em 9 de abril, foi especialmente marcada por uma mescla de tais sentimentos no seio da indústria siderúrgica brasileira.
De um lado, as preocupações do empresariado local — derivadas da contínua invasão de aços chineses no país — ganharam impulso extra com o imbróglio provocado pela escalada tarifária imposta pelo governo dos Estados Unidos às importações, o que abalou as cadeias produtivas globais.
Falando sobre o tema, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) manifestou preocupação com o tarifaço de Trump: “Com a medida anunciada, o Brasil será impactado negativamente em suas exportações para os Estados Unidos, pois seremos menos competitivos em relação à indústria local de máquinas e equipamentos”, registra a nota encaminhada pela entidade à imprensa.
Por outro lado, enquanto as negociações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos seguem em busca de minimizar esse impacto pelo diálogo, o mês de abril de 2025 trouxe boas novidades para o setor, relacionadas ao desempenho em março. Segundo o Instituto Aço Brasil, houve um crescimento de 6,6% na produção em relação a março de 2024. No mesmo mês, as vendas para o mercado interno também apresentaram bom desempenho, com um aumento significativo de 10,7%.
Ato contínuo, as exportações foram 7,8% superiores, enquanto, como dado negativo, as importações de março registraram alta de 36,5% em volume e de 21% em valor, o que também contribuiu para o aumento de 15,6% no consumo aparente de aço no Brasil. Integrando igualmente a comercialização de aços importados, o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (INDA) registrou alta de 7,1% nas vendas de aços planos em março de 2025, em comparação com o desempenho do mesmo mês do ano anterior.

ESPERANÇA NO FUTURO
Embora às velhas dificuldades venham se somando novos desafios, por ocasião da comemoração do Dia Nacional do Aço, o coro da siderurgia brasileira também se manifesta de maneira positiva, mantendo boas perspectivas para o futuro. “Mesmo diante do cenário adverso para a siderurgia nacional, especialmente pelo crescimento das importações de aço, conseguimos fechar 2024 com um aumento de 10,7% no volume total de aço comercializado. Esse desempenho foi impulsionado, principalmente, pelas linhas de vergalhão e fio-máquina, voltadas ao mercado interno, onde temos atuação consolidada e parceria próxima com nossos clientes”, destaca Leandro Vasconcelos, diretor comercial da Aço Verde do Brasil (AVB).
Ainda segundo ele, o fortalecimento do modelo de operação integrada — com logística eficiente e foco na previsibilidade das entregas — continua a permitir que a empresa mantenha a competitividade e siga contribuindo para o desenvolvimento de setores essenciais, como a construção civil, que, além de representar uma parcela importante do mercado atendido pela AVB, vem demonstrando sinais concretos de recuperação.
Outra empresa que não se deixa abater pelo atual cenário de desafios para a cadeia do aço é o Grupo Simec, que aproveitou a comemoração do Dia Nacional do Aço para reforçar seu compromisso com a produção de aço de qualidade, aliada ao cuidado com empregados, comunidades e meio ambiente. “Temos como missão produzir e fornecer aço de qualidade e de forma competitiva, gerando renda, emprego, desenvolvimento local e qualidade de vida. E tudo começa com a absorção da sucata de aço, evitando que geladeiras, aparelhos de TV e tantos outros equipamentos usados sejam descartados de forma indevida no meio ambiente”, afirma Dante Kegele, gerente de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da Simec Cariacica.
Ele acrescenta que o compromisso com a qualidade, a segurança, a saúde e as pessoas é atestado por três certificações: ISO 9001, relacionada ao Sistema de Gestão da Qualidade; ISO 14001, ligada ao Sistema de Gestão Ambiental; e ISO 45001, de Sistemas de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional.



CONFIANÇA PODE TER LIMITE
Um pouco mais cauteloso quanto ao que pode acontecer daqui para a frente, Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, pontuou em entrevista concedida à revista Veja no final de abril que o cenário é mais complexo, especialmente em função da política dos Estados Unidos, que, em sua visão, pode afetar cadeias produtivas globalizadas. Segundo ele, embora não existam “mocinhos e bandidos” no jogo do comércio mundial, a China, que hoje reclama do protecionismo americano, adota práticas de concorrência predatória.
No texto, Werneck cita como exemplo o mercado brasileiro, no qual, ao longo dos últimos anos, a fatia do aço importado do país asiático saltou de 10% para 25% do consumo interno, sendo que nem mesmo o sistema de cotas e tarifas adotado pelo governo brasileiro em 2024 conseguiu impedir essa invasão. Segundo ele, isso exigirá medidas mais duras para que o controle seja efetivo. Em sua avaliação, a concorrência desleal parte do próprio Estado chinês. Embora o CEO da Gerdau acredite que a empresa possa se beneficiar, mesmo com a manutenção desse cenário, devido à sua operação nos Estados Unidos voltada ao consumo interno, sem a necessidade de exportar, ele afirma que ainda é cedo para dimensionar os impactos da decisão dos EUA. Isso se torna ainda mais incerto quando somamos os problemas internos do Brasil, como o desmonte da reforma trabalhista e o caótico sistema tributário, que também dificultam novos projetos da companhia no país. Segundo ele, se o governo brasileiro não agir para proteger mais o mercado interno, isso poderá levar a Gerdau a revisar seu plano de investimentos no Brasil. “O futuro da indústria brasileira é muito preocupante. […] Se o Brasil continuar criando dificuldades para as empresas, vamos buscar outros lugares para investir”, afirma Gustavo Werneck, deixando um sério recado em sua entrevista à Veja.