As consequências da pandemia do covid-19 começam a aparecer de forma cruel nas vidas das pessoas e das empresas.

Segundo nota divulgada pela Agência Brasil em matéria da repórter Ana Cristina Campos, o número de famílias com dívidas em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro permaneceu estável em maio em relação a abril, mas é muito alto estando situado na casa dos 66,5%. Segundo a Confederação Nacional do Comércio – CNC que realizou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), este percentual cresceu em relação a maio do ano passado.

O percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permaneceriam inadimplentes aumentou, passando de 9,9% do total em abril para 10,6% em maio. Esta é a maior proporção de famílias que permanecerão na inadimplência para um mês de maio desde o início da realização da Peic, em janeiro de 2010, e a mais elevada desde abril de 2018

O presidente da CNC, José Roberto Tadros, avalia que, apesar das medidas para enfrentar a crise provocada pelo novo coronavírus, como a injeção de liquidez na economia e a queda das taxas de juros, a maior aversão ao risco no sistema financeiro tem impedido que o crédito de fato alcançasse os consumidores.

“Apesar da pequena queda no mês, o endividamento das famílias está em proporção elevada, sendo importante também viabilizar prazos mais longos para os pagamentos das dívidas, como forma de evitar o crescimento da inadimplência nos meses à frente”, disse Tadros.

Em relação aos tipos de dívida, o cartão de crédito continua sendo o mais apontado pelos brasileiros como a principal modalidade de endividamento: 76,7%. Carnês (18%) e financiamento de veículos (11,1%) também permanecem na segunda e terceira posições, respectivamente. “O cartão de crédito, apesar de seguir em primeiro lugar nos principais tipos de dívida, vem perdendo espaço para outros tipos de dívida, em função de ser uma das modalidades mais caras de crédito. O endividamento com cartão chegou a representar 79,8% em janeiro deste ano”.

Ainda sobre o mesmo tema em outra matéria da Agência Brasil, assinada pela jornalista Alana Gandra, 58% dos brasileiros deixaram de pagar alguma divida após o isolamento social.

Em pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva mostra que depois de um mês do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus, 58% dos brasileiros deixaram de pagar alguma dívida – o que representa 91,040 milhões de pessoas. Entre aqueles que têm alguma conta em atraso, a média encontrada foi de quatro contas sem pagar. A pesquisa foi feita nos dias 14 e 15 de abril, com 1.131 pessoas de 16 anos ou mais de idade, de 72 cidades de todas as unidades da Federação.

Na avaliação do presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, a covid-19 chegou na reta final de uma das mais longas crises econômicas da história do Brasil. “Encontrou uma população sem poupança e cada vez menos amparada pelos aparatos de proteção social.”

Meirelles destaca que uma das consequências econômicas mais graves dessa pandemia é a total falta de condição, de importante parcela da população, de honrar as contas.

Segundo ele, há um predomínio de endividamento por classe social. “Quanto menor a renda, maior o endividamento relacionado às contas mais simples, relacionadas ao dia a dia”.

Somente com a retomada das atividades e a flexibilização destas dívidas, com alongamento de prazo, suspensão de juros e multas vai se conseguir normalizar a situação.