Mesmo com a pandemia causada pelo coronavirus, os metais não ferrosos registraram consistentes e significativas altas durante o ano de 2020.

Quem postergou suas compras no início de 2020, apostando que a crise econômica mundial levaria os preços dos metais não ferrosos para patamares mais baixos, certamente perdeu dinheiro. Contrariando a maioria das previsões feitas por bancos e analistas no início do ano passado sobre os efeitos da pandemia nos preços dos metais não ferrosos, todos eles registraram significativas e persistentes altas a partir de abril.

Comparando os preços no fechamento (leia-se último dia) de 2019 e de 2020, tivemos as seguintes variações: o cobre passou de US$ 6.156,00 para US$ 7.741,50 (+25,7%), o zinco passou de US$ 2.293,00/t. para US$ 2.723,50/t. (+18,8%), e o alumínio subiu 9,8%, passando de US$ 1.800,00/t. para US$ 1.978,00/t. E assim aconteceu também com o chumbo, cujas cotações aumentaram 2,5%, com o estanho 21,9% e com o níquel 18,1%. Refletindo o comportamento das cotações durante a pandemia e chegarem mais perto da data de hoje, os gráficos desta e da próxima página retratam a evolução de março/20 a fevereiro/21.

Como visto, as médias mensais começaram a subir a partir de abril ou maio e não pararam mais, “dando um nó” na cabeça de alguns analistas. Afinal, como se justifica o aumento de preços de matérias-primas, se, por conta da pandemia, não há demanda para elas? Ocorre que, da mesma maneira que diminuiu, por exemplo, a produção de veículos, houve também uma diminuição na produção minero metalúrgica, mantendo o equilíbrio entre oferta e demanda.

Além disso, setores que, tradicionalmente, são consumidores de produtos elaborados com metais não ferrosos, como, por exemplo, o de fios e cabos (que consomem principalmente cobre), registraram desempenho positivo durante as quarentenas mundo afora. Faça as contas, você que nos lê, de quantas pessoas conhece que aproveitaram para ampliar ou reformar suas casas em 2020, se é que você mesmo não o fez.

Tudo isso, junto, impulsionou o comércio não só de fios e cabos, como também o de bens de aço inox, que consome níquel, de metais sanitários que consomem cobre e zinco, e o de esquadrias, que consomem alumínio e por aí em diante.

Então, pode-se dizer que os produtores de metais não ferrosos saíram de 2020 em uma situação melhor do que quando entraram. Mas, como no mundo tudo é cíclico, é provável que esses setores que se mantiveram aquecidos durante a pandemia registrem alguma queda de desempenho em um futuro próximo. E o mesmo vale para setores que amargaram fortes reduções nas vendas e produções como, de novo, o setor automotivo. Bem diz o ditado que “após a tempestade…”. Existe uma demanda represada e, reconquistados os empregos, pagas as dívidas etc., muitas pessoas voltarão a pensar na troca de seu carro, impulsionando, certamente, as vendas e a produção de veículos, o que resultará em um aumento da demanda por diversas matérias-primas, incluindo os metais não ferrosos.

Consequentemente, não acreditamos em uma reversão do movimento de altas visto em 2020. Quando muito, haverá uma estagnação nos atuais níveis de preços.

Mas, Economia não é necessariamente uma ciência exata, pois os mercados têm seus dias (às vezes, meses) de bom e de mau humor. E muitos fatores contribuem para isso. Então, veremos: no ano que vem voltaremos a falar sobre o tema, se Deus quiser, com a economia e todos nós livres do novo coronavírus.

Por: Marcus Alberto Flocke é economista, sócio diretor da M.Flocke Consult Ltda., consultoria especializada em relações governamentais e internacionais. É também especialista em assessoria para obtenção de ex-tarifários.