Mais do que a simples divulgação dos números do setor de produção da indústria automotiva nacional, o que chamou a atenção foi a manifestação de preocupação demonstrada pelo presidente da entidade Luiz Carlos Moraes em relação ao futuro do Brasil. Em determinado momento ele disse “O que me preocupa é o futuro, não só da indústria, mas do Brasil, pois resta saber até quando o consumidor terá condições de continuar comprando. As concessionárias continuaram vendendo mesmo com as portas fechadas pois agora temos ferramentas virtuais de vendas e licenciamentos digitais, que nos ajudaram, mas até onde vai o folego dos compradores”.

Segundo ele há “Temos três pontos de grande preocupação”. Um deles é a situação alarmante da pandemia no país, que só deve se estabilizar a médio prazo com a aceleração da vacinação. O segundo é o conjunto dos fundamentos econômicos, ameaçado não só pela pandemia, mas também pelo excesso de ruídos políticos. Ele se referiu aos 14 milhões de desempregados e aos mais de 30 milhões de pessoas fazendo bicos ou fora de suas funções. Citou também a falta de sensibilidade do governo paulista que neste momento de pandemia subiu o ICMs dos veículos em janeiro de 12 para 13,5 % e agora em abril para 14,5%. Esta atitude vai gerar mais desemprego e diminuição da arrecadação, pois não há como conter o aumento de preços. Finalmente, temos alguns gargalos na produção, sobretudo de componentes eletrônicos, um problema global sobre o qual não temos controle e que deve perdurar ao longo do ano”. Para o dirigente, o momento é de chamar a reponsabilidade de todos as esferas de poder para um esforço de vacinação e para o controle das contas públicas, além do destravamento das pautas reformistas no Congresso Nacional, que podem ajudar a reduzir o Custo Brasil.

Falando sobre os números:
A produção no primeiro trimestre cresceu 2% em relação ao mesmo período de 2020, mas vendas caem 5,4%.
Mas o primeiro trimestre do ano fechou com desempenho frustrante nas vendas de autoveículos. As 527,9 mil unidades licenciadas representaram queda de 5,4% sobre o mesmo período de 2020. Mas o que mais preocupa é a retração de 23% em relação ao último trimestre do ano passado, freando a recuperação que vinha desde a metade do ano. Tradicionalmente, essa queda era de apenas 15%. A comparação entre março deste ano e do ano passado traz um ilusório crescimento de 15,7%, lembrando que o mercado parou quase por completo na metade de março de 2020 em função do início da pandemia do coronavírus.

Este desempenho de 2% superior ao do primeiro trimestre de 2020, em grande parte foi impulsionado pelos ótimos resultados de caminhões e comerciais leves. Apesar da paralisação de algumas fábricas na última semana do mês por falta de insumos ou feriados antecipados pelo agravamento da pandemia, várias montadoras conseguiram, num esforço logístico, completar unidades que estavam paradas nos pátios com alguma peça faltando. O melhor resultado no acumulado do trimestre foi o das exportações, de 95,8 mil unidades, volume 7,6% superior ao dos embarques do início de 2020. O estoque de veículos nas fábricas e nas concessionárias se mantém estável num patamar baixo, de 101,1 mil unidades. Também chama a atenção a relativa estabilidade do nível de empregos diretos – 104,7 mil postos entre as montadoras de autoveículos. Em um ano de pandemia, houve cerca de 2,3 mil perdas de vagas, 2,1% da força de trabalho.

Fonte Anfavea