Apesentamos aqui um retrato real de como acontece a disparada dos mercados nacional e internacional do aço.
A maioria dos envolvidos na cadeia siderúrgica, e me refiro desde a extração do minério até a sua utilização como produto final, em um cenário onde estão os mineradores, as usinas, os processadores, distribuidores e revendedores de produtos siderúrgicos, e o enorme contingente de empresas prestadoras de serviços, fornecedoras de máquinas, de consultorias, de sucatas, de processos logísticos e transportes etc. estão vivendo um momento especial com amplo crescimento de seu negócio e não há do que se queixar.
No entanto se ainda sim estiverem indo mal, recomendo que é a hora de revisar suas formas de gestão e seus conceitos de como “tocar um negócio” porque, me desculpem, mas os seus métodos estão errados ou ultrapassados.
A mineração de onde sai o minério de ferro que é matéria prima básica para a fabricação do aço, apresentou nos últimos doze meses uma variação anual de crescimento de 109,44%*. O minério de ferro está cotado nos principais mercados mundiais ao redor de US$ 175.00 a tonelada, quando em abril do ano passado este numero girava em torno de US$ 80,00.
O Brasil é o maior produtor mundial de minério de ferro e segundo dados que estão em nosso portal a Vale no primeiro trimestre de 2021 apresentou um crescimento na produção de finos de minério de 14,2%. A Musa – Mineração Usiminas, outra produtora de minério de ferro, divulgou junto com o Sistema Usiminas, seu resultado oficial relativo ao 1ºT 2021 encerrando o período com uma nova máxima histórica em seu Ebitda Ajustado. (Ebitda significa Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, e é a tradução da expressão em inglês Earnings before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization). Vários analistas do mercado de capitais costumam usar o Ebitda para medir a produtividade e a eficiência do negócio. Os resultados não poderiam ser melhores.
E na produção propriamente de aço. Os números da produção não param de crescer. No acumulado a produção nacional de janeiro a março mostra um crescimento de 6,2% ou seja 8,7 milhões de toneladas frente as 8,1 milhões do ano passado.
Já no quesito do escoamento da produção, ou seja, as vendas ou a colocação do produto fabricado, só para o mercado interno foram 5,9 milhões de toneladas, representando aumento de 29% em relação ao mesmo período de 2020, enquanto o consumo aparente de produtos siderúrgicos foi de 6,7 milhões de toneladas, representando aumento de 32,8% em relação ao 1º trimestre de 2020.
Se analisarmos o mês de março em separado vamos perceber que a indústria bateu mais um recorde de desempenho pois o crescimento de 41,9 % frente ao mesmo período do ano passado é o melhor desempenho desde outubro de 2013. Também no tocante ao consumo aparente, ou seja, a venda da produção + importações – exportações o crescimento em março foi de 50,1% o que também é um recorde pois foi o maior consumo aparente desde outubro de 2013.
Aqui cabe um comentário pois esta demanda e este crescimento exponencial do consumo aparente representa que os compradores – indústrias de um modo geral – em quase todos os níveis voltaram a ativa e estão consumindo ou tentando recompor seus estoques de matérias primas. Há segmentos como o automobilístico, o de implementos agrícolas e outros que estão tendo de fazer algumas paradas forçadas pois não se está produzindo aço suficiente para suprir a demanda além da falta de outros componentes.
Os resultados financeiros não poderiam ser diferentes. No único demonstrativo que por força do Mercado de Capitais as empresas de Capital aberto são obrigadas a divulgar, que foi o do Sistema Usiminas ficamos sabendo que as vendas de 1,25 milhão de toneladas de aço, no primeiro trimestre de 2021, o maior volume registrado desde o segundo trimestre de 2015 e através do mesmo relatório que a empresa conseguiu o seu melhor Ebitda desde o inicio dos anos 2000.
E este crescimento não está acontecendo só no Brasil. Segundo a WorldSteel Association, entidade mundial que reúne cerca de 85% da produção de aço e representa usinas ao redor do mundo, a produção mundial de aço que foi de 486,9 MT nos três primeiros meses de 2021, com crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado com destaque para a Asia e Oceania onde estão a China, Australia, Índia, Japão, Paquistão e outros países com crescimento de 13,2% no período. A América do Sul teve também um ótimo desempenho com crescimento de 7,1% e a União Europeia foi um pouco melhor com 8,3%
E no final do processo estão os responsáveis pelo escoamento e capilaridade do sistema, aqueles que cuidam do processamento, distribuição e revenda de aço e que possuem suas características próprias. Segundo o que o Inda, que é a entidade que congrega a maioria dos distribuidores de aços planos do Brasil que agora em março as vendas evoluíram 4,2% em relação ao mês passado e 22,7% em relação a março de 2020. Os laminados a quente lideraram as vendas, seguido por chapas grossas o que vem confirmar o ótimo momento por que passam os fabricantes de implementos agrícolas, máquinas operatrizes, tratores e veículos pesados como caminhões que continuam liderando as vendas de veículos automotores.
As vendas estão muito aquecidas e o giro está acontecendo em uma velocidade que não se via a muito tempo de tal sorte que até agora desde o início da retomada que ocorreu há aproximadamente um ano os estoques da rede de distribuição continuam abaixo de seus níveis regulares.
A rede de distribuição com raras exceções divulga seus resultados, mas somente como parâmetro, podemos citar que a Soluções Usiminas que é uma das empresas no topo da tabela das distribuidoras e processadoras de aços, por obrigação do Mercado de Capitais têm de divulgar seus resultados ainda que dentro dos demonstrativos do Sistema Usiminas. Pois a empresa apresentou no primeiro trimestre deste ano a maior receita líquida de sua história. Foram R$ 1,7 bilhão de receita líquida nos três primeiros meses do ano, contra R$ 1,4 bilhão no 4T20. Também o Ebitda ajustado registrou a máxima histórica no primeiro trimestre deste ano, atingindo R$ 248 milhões, ante R$ 137 milhões no último trimestre do ano passado. Por similaridade podemos acreditar que as demais empresas que compõem a rede devem ter tido comportamentos parecidos com este.
Este retrato real, demonstrado matematicamente coloca em xeque aqueles que ainda não acreditam na recuperação da economia brasileira. Conforme já dizia o velho ditado “Nas crises é que surgem as oportunidades”. Nesse momento de pandemia enquanto alguns pararam para se lamentar, outros foram à luta, e estão colhendo os excelentes resultados.
Analise e defina você mesmo. Onde você se encaixa?
FONTE: Investing.com
*Henrique Pátria
Editor Chefe da revista Siderurgia Brasil