Assim como aconteceu em praticamente todas as atividades empresariais os números mundiais da siderurgia surpreendem positivamente no final do semestre.
Henrique Patria
A exemplo do que aconteceu no Brasil, a divulgação da Worldsteel Association, entidade que reúne 64 países produtores siderúrgicos ao redor do mundo, também mostrou acentuado crescimento da produção mundial de aço no primeiro semestre deste ano. Os números apurados apontam para um percentual de crescimento de 14,4%, com 1.003,9 bilhão de toneladas no período em relação ao ano passado. Cabe ressaltar que a comparação se dá com o ano em que muitas unidades em várias partes do mundo estiveram fechadas ou trabalharam com capacidade reduzida em função da Covid 19. Apesar de que houveram países como a China que não reduziram a produção, mesmo durante a pandemia.
Conforme temos noticiado ao longo dos últimos meses a China já superou a barreira dos 50% e no semestre produziu 563,3 milhões de toneladas, com um crescimento de 11,8% em relação ao ano anterior.
Autoridades governamentais da China vêm colocando restrições à indústria siderúrgica naquele país, visando reduzir a poluição atmosférica e tentando controlar as variações de preço da commodities. No entanto, mesmo assim, os números mostram que a siderúrgicas mantiveram ou aceleraram o ritmo no período. Especialistas dizem que a China deverá importar este ano acima de 1,2 bilhão de toneladas de minério de ferro, sendo a maior parte do Brasil.
Considerando exclusivamente o mês de junho a produção mundial foi de 167,9 milhões de toneladas ou seja +11,6% em relação ao ano passado.
Neste semestre na América do Sul, onde está computada a produção brasileira foram produzidas 22,6 milhões de toneladas com crescimento de 28,1% sobre o primeiro semestre de 2021.
No Brasil
Aqui no Brasil, segundo o Instituto Aço Brasil- IABr, no primeiro semestre foram produzidos 18.062 milhões de toneladas, com um crescimento de 24% sobre o ano passado, com 14.568 milhões de toneladas.
O que mais chamou a atenção foram as vendas internas que cresceram 43,9% e a escalada do consumo aparente que representa o consumo da produção+importação-exportação que subiu 48,9% no mesmo período. Com a alta demanda do mercado interno, inclusive com várias discussões acerca de abastecimento e de preços, as exportações recuaram em 13,7% e no mesmo período as importações aumentaram 140,6%.
O Instituto Aço Brasil reviu as suas projeções para o ano de 2021 e agora projeta que em 2021 a produção de aço bruto cresça 14% (frente estimativa anterior de +11,3%), as vendas internas avancem 18,5% (frente projeção de +12,9%) e o consumo aparente aumente 24,1% (frente estimativa de +15%).
Os dirigentes da entidade reagiram veementemente frente a demanda de algumas entidades que representam segmentos dos consumidores de aço, feitas junto ao governo brasileiro no sentido de reivindicar a redução na alíquota de importação de aço, sob o pretexto de que as siderúrgicas nacionais estavam dando preferência a exportar o produto em detrimento do mercado interno brasileiro. Mostraram e demonstraram através de vários gráficos e analises de que a produção vem crescendo e o atendimento ao mercado interno vem se acentuando na mesma proporção, não havendo qualquer justificativa para estas reivindicações.
Ainda segundo os dirigentes da entidade, na verdade o que mais preocupa é o problema do excedente mundial de aço, que naturalmente gera distorções. O enorme excedente de oferta de aço no mundo, está na ordem de 560 milhões de toneladas o que gera práticas desleais de comércio, escalada protecionista e desvios das exportações para mercados sem proteção como é o caso do Brasil e demais países da América do Sul. Vários países vêm adotando crescentemente, medidas de proteção dos seus mercados, tais como a Seção 232 nos EUA e várias salvaguardas na Europa.
Distribuição de Aço
Este segmento foi o que mais sofreu com a chegada com aço importado, pois amargou uma queda de 6,4% em comparação ao mês anterior, mas ainda assim foi superior ao vendido no mesmo mês do ano passado (+3.3%) quando a atividade estava semi paralisada pela pandemia.
Como os distribuidores mantiveram os níveis de compras nas usinas, na casa dos 347 mil toneladas, o estoque na rede subiu agora para 785,6 mil toneladas o que representa 2,6 meses de vendas.
O problema maior é o que o setor não espera melhora para os próximos meses, uma vez que com a chegada do aço importado que foi comprado no inicio do ano, por um preço inferior ao praticado hoje, a concorrência fica difícil e evidentemente o consumidor opta pelos menores custos.
Com respeito aos preços a tendência é que permaneça nos patamares atingidos, uma vez que os preços internacionais não dão mostras que devem recuar. Este quadro de preços ainda está associado à retomada cada vez mais forte da economia interna, que tem dado sinais muito positivos a ponto dos economistas e “gurus” de plantão já apostarem no crescimento do PIB brasileiro acima dos 5% a mais chegando perto dos 6% neste ano. O único fator complicador é que a inflação vem crescendo junto e ainda que esteja sob controle já começa a trazer desagradáveis lembranças aos mais velhos, sobre problemas passados que o Brasil teve com este indicador.
Nisto tudo o jogo político está sendo jogado e as reformas, principalmente a tributária que é tão esperada por onze a cada dez empresários brasileiros, parece que começa a assumir contornos interessantes e pode ser uma boa novidade no futuro mais próximo.