A ArcelorMittal inaugurou a planta pioneira no Espírito Santo e no Grupo mundial, com capacidade inicial para dessalinizar 500 m³/hora de água, proporcionando maior segurança hídrica para a empresa e para o estado do Espírito Santo.
Marcus Frediani
Até o final de setembro, a maior planta de dessalinização de água do mar do Brasil vai entrar em operação na ArcelorMittal Tubarão, no Espírito Santo. O anúncio oficial da inauguração foi feito no dia 13 deste mês, em uma Coletiva de Imprensa online realizada pela companhia, contando com a participação do presidente da ArcelorMittal Brasil, Benjamin Baptista Filho, do próximo CEO ArcelorMittal Aços Planos América do Sul, Jorge Oliveira – que ocupará o cargo de Benjamin a partir de 1º de outubro, em função da aposentadoria deste –, e do vice-presidente de Operações Aços Planos, Erick Torres. A unidade de ponta é resultado de investimentos de R$ 50 milhões, e contemplará sistemas de: captação e bombeamento de água do mar, pré-tratamento com filtração, dessalinização por osmose reversa e armazenagem, e distribuição da água produzida (água dessalinizada), garantindo maior segurança hídrica para a empresa e para o estado capixaba.
A inauguração representa a bem-sucedida conclusão de um processo iniciado em 2019, quando o projeto da instalação foi apresentado pela empresa, com o objetivo de aumentar a segurança hídrica e garantir a estabilidade operacional da usina de Tubarão, a fim de colocar a unidade na vanguarda da gestão hídrica não só no Espírito Santo, como também no Brasil e no setor siderúrgico mundial. Ainda naquele ano, aliás, a iniciativa da ArcelorMittal Brasil foi destacada com o prêmio de “Projeto Inovador” durante o Congresso da International Desalination Association, nos Emirados Árabes Unidos. E já em fevereiro de 2020, o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) emitiu a licença para o início das obras, depois de passar pelas fases de elaboração do termo de referência (TR), e pelo Plano de Controle Ambiental (PCA).
PREPARADA PARA O FUTURO
Contextualizando a situação hídrica da ArcelorMittal Tubarão, Benjamin Baptista Filho destaca que a dessalinização de água não é um processo “novo” na empresa: “Noventa e seis por cento da água que utilizamos hoje na usina vêm do mar, e é usada para a refrigeração dos equipamentos de produção de aço. Os outros 4% são provenientes do Rio Santa Maria da Vitória, e constantemente executamos projetos para reduzir cada vez mais esse consumo. Por exemplo, atualmente o índice de recirculação e reaproveitamento de água doce aqui dentro já é de 97,7%”, faz questão de registrar. “Assim, a produção da nova planta de dessalinização está alinhada à estratégia da empresa frente a futuros cenários de escassez hídrica, com a água tratada nela sendo destinada para fins industriais, substituindo parte do volume consumido do rio, e permitindo maior disponibilidade do recurso para a sociedade”, complementa.
Nesse sentido, inclusive, no dia 1º de setembro deste ano, a ArcelorMittal Tubarão e o Governo do Estado do Espírito Santo assinaram um Termo de Compromisso inédito, celebrando um acordo pioneiro que prevê a compra mensal pela produtora de aço, de 540 m3/h (150 l/s) de água de reúso de esgoto sanitário para fins industriais, provenientes de efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Reúso da Companhia Espírito Santense de Saneamento (CESAN). A aquisição será feita por contrato de 25 anos, podendo ser renovado, e reduzirá ainda mais a demanda da usina por água do Rio Santa Maria da Vitória. A ação está integrada a um projeto lançado pelo governo capixaba, o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), para tratamento de esgotos sanitários para fins de reúso industrial, cujo objetivo é firmar parceria com grandes empresas para contratação de um novo sistema de tratamento em substituição ao da ETE Camburi.
Complementarmente, a empresa também tem atuado no projeto de recuperação de nascentes da Bacia do Rio Santa Maria da Vitória, junto a vários parceiros. Todas essas ações fazem parte do Plano Diretor de Águas da empresa que contempla várias iniciativas voltadas ao fortalecimento da segurança hídrica. Com isso tudo, além da contribuição à sustentabilidade e à segurança hídrica, a nova planta aumenta a autonomia da empresa para enfrentar nada improváveis cenários de escassez hídrica, garantindo a ArcelorMittal Tubarão a tão necessária estabilidade operacional.
DIFERENCIAIS IMPORTANTES
Assim, depois de dois anos de estudos de viabilidade, optou-se pelo uso da tecnologia de osmose reversa, bastante comum em países como Israel, Espanha, Estados Unidos e outros, para captação de água do mar. “Ao longo desse trabalho, nossas equipes – incluindo profissionais do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da ArcelorMittal do Brasil e da Espanha (Astúrias) – avaliaram várias alternativas tecnológicas para dessalinização, realizaram análises de qualidade da água do mar, mantiveram discussões com fornecedores de todo o mundo, promoveram testes em planta-piloto de osmose reversa em laboratório, e até visitas técnicas em plantas na Argentina e nos Estados Unidos. Tudo para definir pelo projeto mais ajustado à nossa realidade e expectativas”, explica Benjamin.
Construída em área de cerca de 6.000m², a nova unidade consumirá cerca de 3MW de energia elétrica e representa menos de 1% do total de energia gerada pela própria ArcelorMittal Tubarão, que é autossuficiente, graças aos seus sistemas de recuperação de calor dos processos de produção de aço e à cogeração de gases. E isso, de uma só tacada, resolve duas das principais dificuldades dos projetos de dessalinização, que são a disponibilidade e o alto custo da energia que estes consomem.
Além disso, a atual infraestrutura de captação de água desempenhou papel importante para viabilizar o novo projeto, uma vez que a solução de sal em água resultante da dessalinização – a salmoura – será devolvida ao mar por um canal de retorno já existente na usina, com uma temperatura ligeiramente mais alta, mas sem impactos ambientais significativos para o bioma. Além disso, diferença na salinidade da água envolvida no processo será mínima, menor inclusive do que as variações registradas naturalmente entre as estações do ano.
Outro diferencial do projeto está, ainda, na sua inteligente configuração por módulos. O primeiro terá capacidade para dessalinizar 500 m³/hora de água do mar – volume suficiente para abastecer cerca de 80 mil pessoas/dia –, com possibilidade de serem acrescentados módulos futuramente, de acordo com a necessidade da produção de aço e os bastante prováveis planos de expansão da empresa.
Complementarmente, por conta de sua tecnologia inovadora e acessível, o projeto também deverá contribuir para o desenvolvimento futuro de mão de obra especializada no país. Nesse sentido, o ainda presidente da ArcelorMittal Brasil, mesmo com os desafios impostos pela pandemia não foram suficientes para arrefecer o ritmo das obras, que foram realizadas com o reforço da criação de 220 novos postos de trabalho. “Realmente, um grande número de profissionais que, juntamente às nossas equipes, executou todo o processo dentro dos mais rígidos controles de segurança para garantir a saúde e a integridade de todos”, finaliza Benjamin.