Apesar de tudo e de todos, a indústria brasileira do aço é forte e está plenamente preparada para vencer os desafios do futuro. Esta foi a principal conclusão tirada da realização do maior evento nacional da cadeia do aço.

Marcus Frediani

A edição 2021 do Congresso Aço Brasil, promovida na manhã do dia 29 de setembro, trouxe uma série de boas notícias para as mais de 1.500 pessoas – entre autoridades, empresários e especialistas do setor – que acompanharam o evento online e gratuito para debater as perspectivas e a importância do setor do aço para a economia brasileira, contando com os patrocínios das empresas ArcelorMittal, Gerdau, Ternium, Usiminas, CSP, Aperam, Vallourec, AVB, Sinobras e Villares Metals, além dos apoios de diversas entidades congêneres ao Aço Brasil, entre os quais o da revista Siderurgia Brasil.

A positividade do encontro começou a se fazer notar na fala inicial do presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil e vice-presidente da Gerdau Aços Brasil/Argentina/ Uruguai, Marcos Eduardo Faraco, dando conta de que a indústria brasileira do aço conseguiu vitórias importantíssimas ao longo do último ano. “No auge da COVID-19, as usinas operaram com apenas 40% de sua produção. Mas, felizmente, diante de medidas governamentais e dos cenários micro e macroeconômicos, o setor conseguiu rapidamente não só reverter esse quadro, mas, inclusive, ir além, ao ampliar a sua produção na comparação com o momento pré-pandemia”, enfatizou.

Em sua apresentação, Faraco ainda destacou a drástica diminuição das exportações do setor nacional do aço ao longo do período, como solução encontrada para atender ao mercado interno, pontuando ainda problemas tais como o boom planetário no preço das commodities, em níveis não observados desde o ano de 2000. Contudo, ainda segundo ele, mesmo diante de obstáculos como esse, a perspectiva para 2021 é de que o setor tenha um crescimento em torno de 14% na produção de aço bruto, em relação a 2020. Já para as vendas internas, a projeção é de alta de 19% e de 24% no consumo aparente.

“Todas as nossas expectativas seguem muito positivas. Estamos iniciando um círculo virtuoso e longo. Consideramos como prioridade a recuperação da competitividade sistêmica do setor do aço brasileiro, e isso está diretamente ligado ao Custo Brasil. É imprescindível a aprovação da reforma tributária, sendo ampla, diminuindo a cumulatividade de impostos”, fez questão de registrar.

BALANÇO POSITIVO
Participando da abertura do Congresso Aço Brasil 2021 como convidado especial, em sua intervenção virtual o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, destacou a importante participação do aço como indicador antecedente da economia brasileira na luta sem precedentes desde a II Guerra Mundial contra o inimigo invisível do novo coronavírus, com impacto direto e positivo sobre os rumos não só da indústria nacional como também da economia brasileira, que, em sua visão, tem demonstrado uma fortaleza e uma resiliência gigantesca.

“De janeiro a agosto de 2021, nossas usinas produziram mais de 24 milhões de toneladas de aço bruto, cravando um crescimento de 20,9% sobre os primeiros oito meses do ano passado. Simultaneamente, temos visto um aumento nas vendas internas e no consumo aparente de produtos siderúrgicos. E, na esteira dessa evolução em patamares mais elevados do que os anteriores à pandemia, verificamos também o crescimento do nosso PIB”, pontuou.

Nessa toada, ainda segundo Freitas, o desempenho da indústria do aço tem exercido forte estímulo para que o governo brasileiro busque expandir a passos largos o setor de infraestrutura a partir dos investimentos do setor privado, cuja expectativa é de que atinjam a marca de R$ 300 bilhões em contratos até o final de 2022.

Para ilustrar essa dinâmica, o ministro informou que já foram realizados 74 leilões de ativos realizados com sucesso, que redundaram em mais de R$ 80 bilhões em investimentos contratados pelo atual governo, que é o que mais leiloou aeroportos para a iniciativa privada (34), mais realizou certames de arrendamentos portuários (29), e mais assinou contratos de adesão para terminais privados (99), além dos leilões de ferrovias e de rodovias. E, com o início da nova jornada de leilões programada para breve, incluindo o leilão da Rodovia Presidente Dutra e de mais 16 aeroportos, entre os quais Congonhas, em São Paulo, e o Santos Dumont, no Rio de Janeiro, tal movimentação deverá ser sensivelmente amplificada.

“Olhando mais além, para 2026, muito provavelmente nós teremos um Brasil transformado em um verdadeiro canteiro de obras. E isso significa consumo de aço, geração de emprego na veia e desenvolvimento. Temos a segurança de jogar tanto investimento na rua porque sabemos que temos uma indústria do aço que vai responder a altura. Esse setor não faltou no momento mais difícil recente, e não faltará nessa nova realidade”, afirmou, bastante confiante.

REDUÇÃO DAS EMISSÕES
Na sequência, teve lugar o primeiro painel do Congresso Aço Brasil 2021, que trouxe para o debate a indústria do aço e a sustentabilidade, com a participação do jornalista e ex-deputado, Fernando Gabeira, moderando os apontamentos do sócio da Dynamo V. C. Administradora de Recursos, Fernando Pires; da diretora de Assuntos Institucionais do Instituto Aço Brasil, Cristina Yuan; do conselheiro do Instituto Aço Brasil e presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO ArcelorMittal Aços Planos América do Sul, Benjamin Baptista; e da conselheira do Instituto Aço Brasil e presidente do Conselho da Aço Verde do Brasil (AVB), Silvia Nascimento.

Durante o painel, foi lançado o position paper da indústria do aço sobre mudanças climáticas. Nele, o Instituto Aço Brasil e suas associadas reconhecem a necessidade de adoção de medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). O documento menciona que a indústria do aço contribui com cerca de 4% do total das emissões de GEE no Brasil, conforme a 4ª Comunicação Nacional do Brasil à Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). Apesar desse reduzido valor, a indústria do aço brasileira entende que é seu dever contribuir no esforço de mitigação de GEE. Nesse contexto, o documento cita medidas de apoio diante dos cenários para redução das emissões de GEE na indústria do aço. (NE: Confira a íntegra do documento no site do Aço Brasil)

Em sua fala, Fernando Pires destacou que, hoje, o mundo se encontra em um momento de enrascada ambiental. “Estamos em uma situação de emergência climática, com a necessidade de um urgente plano de ação”, pontuou, reforçando que o aço é um produto essencial para a vida das pessoas e para o bem estar das sociedades, sendo fundamental para a economia de baixo carbono. “Ele está em todo lugar e tem efeito multiplicador na economia, assim como dimensão estratégica, estando ainda associado a questões geopolíticas e de segurança nacional. Digo isso porque o aço para uma economia verde, de baixo carbono, tem grande relevância, justamente por estar em boa parte dos equipamentos que utilizamos em nosso dia a dia”, sublinhou, fazendo questão de acrescentar que o Brasil parte de uma matriz energética mais limpa, na comparação com outros players, que a foto do país hoje é bem interessante, indicando que as companhias brasileiras precisam levar em consideração os avanços tecnológicos disruptivos que estão por vir.

Contudo, ainda segundo o sócio da Dynamo, há muita lição de casa ainda a ser feita, porque a descarbonizarão da indústria passa por diversos vetores e que no caso da indústria do aço um caminho pode ser um olhar mais forte para a sucata. “Outro aspecto importante é o papel dos governos, subsidiando as novas tecnologias e tentando manter equilíbrio na competitividade”, finalizou.

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
Já Cristina Yuan, do Aço Brasil, iniciou sua apresentação destacando que cada vez mais o desempenho ambiental das empresas terá reflexo no seu desempenho econômico e pontuou que o essencial a ser verificado é que os compromissos ambientais assumidos são compromissos de países. “Cada um deve determinar a melhor forma para alcançar as metas ao melhor custo possível”, afirmou.

Cristina ainda falou de forma mais específica sobre a indústria do aço, relacionando o setor com o total de emissões verificado no País. “Vale destacar que o setor do aço brasileiro tem menos de 4% das emissões totais no País. Vamos continuar nos esforçando para diminuir as emissões, mas não podemos esquecer dos outros 96% e também da participação dos outros países nesse sentido. O esforço precisa ser global, alcançando todas as fontes de emissões”, concluiu.

Ainda acerca do tema da responsabilidade ambiental, Benjamin Baptista, presidente da ArcelorMittal iniciou sua participação no painel asseverando que para que o aço continue sendo um indutor de desenvolvimento da sociedade, a sua produção precisa evoluir. E, nesse sentido, segundo ele, é necessário compreender e absorver as mudanças na sociedade que estamos vivendo, uma vez que o aço tem um papel vital a desempenhar na economia circular de baixo carbono no futuro. “E entre todos os materiais, o aço está muito bem posicionado, pois consegue recuperar suas características originais sem perda de suas propriedades. Então, a questão não é se devemos mudar de economia linear para circular de baixo carbono, porque isso já ocorre. O ponto é que para acelerar, políticas públicas são necessárias. Temos que dialogar para que tais políticas ocorram”, destacou.

Fechando a primeira jornada de apresentações o encontro realizado no dia 29 de setembro, Silvia Nascimento, da AVB, enfatizou que a empresa comandada por ela já nasceu com o compromisso da sustentabilidade. “Nós a batizamos como Aço Verde do Brasil porque planejamos a empresa desde o primeiro momento, em 2008, para ser carbono neutro. Para tal, nossos equipamentos precisaram ser e foram efetivamente desenvolvidos partindo de premissas claras e definidas como a utilização 100% via rota carvão vegetal.” Nesse sentido, a executiva fez questão de registrar que a companhia foi a primeira do mundo a produzir aço sem utilização de combustíveis fósseis, o que continua a demandar investimentos contínuos em ações de reflorestamento. “Além disso, estamos trabalhado para nos transformarmos, muito em breve, na primeira usina siderúrgica do mundo livre de pátio de resíduos”, informou.

DESAFIOS E OPORTUNIDADES
Já o segundo painel do Congresso Aço Brasil 2021 reuniu alguns dos principais executivos da indústria do aço no Brasil para debater o futuro do setor, abordando seus principais desafios e oportunidades. Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil, foi o responsável por moderar o debate, que contou com executivos como Sergio Leite, conselheiro do Instituto Aço Brasil e diretor-presidente da Usiminas; Gustavo Werneck, conselheiro do Instituto Aço Brasil e diretor-presidente e CEO da Gerdau; Frederico Ayres Lima, conselheiro do Instituto Aço Brasil e diretor-presidente da Aperam South America; e, ainda, Marcelo Chara, conselheiro do Instituto Aço Brasil e presidente executivo da Ternium.

Marco Polo iniciou o debate com uma provocação aos participantes, ao afirmar que o ano de 2020 seria o ano da recuperação. Veio a pandemia, o importante isolamento social, e com isso uma grave crise de demanda. Acerca do comentário, Sergio Leite foi o primeiro a comentar na rodada de debate, pontuando que o setor do aço sofreu, sim, com a forte crise de demanda, mas destacou que o mercado já está plenamente abastecido e não apresenta qualquer excepcionalidade.

Reforçando esse posicionamento, Gustavo Werneck sublinhou que a indústria brasileira do aço esteve e continua preparada, com alta capacidade, para às atender as demandas do presente e as que virão no futuro. Já Frederico Ayres fez uma análise mais macro e reforçou que, na prática, PIB e desenvolvimento econômico andam juntos. “Entretanto, o dever de casa do Brasil é reduzir as assimetrias competitivas. E nesse sentido é necessário melhorar a competitividade em geral”, alertou.

Concordando com Ayres, Marcelo Chara, da Ternium, pontuou que, embora as usinas e setor nacional do aço seja competitivo, o foco do trabalho daqui para frente deve ser colocado na melhoria da competitividade sistêmica, e deu sua visão de futuro acerca do consumo da liga em todo o mundo. “A construção metálica já é uma realidade. E ela é um caminho que precisa ser analisado. Quando olhamos para a Coréia do Sul, por exemplo, a construção metálica já é uma realidade. É um grande case. E isso precisa ser estimulado no Brasil. Assim, temos que aumentar ainda mais o debate sobre esse assunto no Brasil”, conclamou.

ISONOMIA E COMPETIVIDADE
Tomando como base a questão levantada por Chara, Marco Polo colocou em debate as medidas extraordinárias de proteção adotadas por vários mercados no mundo, recebendo como comentário inicial o posicionamento de Gustavo Werneck, da Gerdau, de que se houver condição isonômica de competição, a indústria nacional está em posição de competir com qualquer país do mundo quando o assunto é aço. “O que temos que buscar internamente é a correção das assimetrias, porque tão somente a busca por salvaguardas, no meu ponto de vista, está fora de questão”, opinou o CEO da Gerdau.

Instado pelo comentário de Werneck, Frederico Ayres Lima, da Aperam South America, afirmou que, na verdade, medidas extraordinárias não são necessárias, porque o setor do aço no Brasil já é, efetivamente, competitivo, rimando com a opinião do executivo da Gerdau. “O ponto que vale analisar agora é que fazemos parte de um mercado que está se protegendo em todo o mundo. Por conta disso, as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) precisam ser seguidas e as práticas desleais precisam ser combatidas”, concluiu. E Sergio Leite, presidente da Usiminas, reforçou esse discurso ao afirmar que a indústria nacional do aço é contra qualquer tipo de protecionismo. “A conclusão que se tira, então, é que a luta tem que ser pelo estabelecimento de um comércio intenso e com práticas leais. Então, a grande reflexão que precisamos ter é que o Brasil não pode ser um país liberal em termos comerciais em um mundo protecionista”, sublinhou.

OTIMISMO NA VEIA
Partindo para a conclusão do encontro, para medir o nível de confiança e otimismo dos executivos participantes do segundo painel do Congresso Aço Brasil 2021, Marco Polo Lopes levantou alguns desafios e pontos de adversidade para a plena evolução do setor no país, tais como a inflação e os juros em alta, a crise hídrica, a crise institucional e tensão política existente nas mais diversas esferas governamentais.

“Realmente temos muitas batalhas para enfrentar. Mas o ano de 2021 apresenta bom cenário, com consumo aparente de aço superior a 24% e crescimento da economia acima de 5%. Em 2022, é claro, teremos uma desaceleração, mas estou otimista sim, até porque temos um estoque de boas decisões tomadas no campo da infraestrutura, com projetos que serão materializados nos próximos anos”, pontuou Sergio Leite, da Usiminas. Marcelo Chara, da Ternium, endossou esse discurso e afirmou que o Brasil é um país que possui um potencial extraordinário de crescimento, por conta de suas características naturais, como suas dimensões continentais e os seus mais de 200 milhões de habitantes, contando, ainda, com uma enorme rede de energia renovável.

“Continuo otimista, mas em um cenário mais desafiador. Insisto que o Brasil pode multiplicar por três o seu consumo de aço. Temos base energética e temos potencial para isso. E o primeiro motivo desse meu otimismo é a resiliência da indústria do aço. Há um ano não sabíamos se conseguiríamos manter a operação das nossas plantas e agora tudo está rodando perfeitamente bem, em ótimos níveis. Vivemos muitas crises, muitas recessões, e demonstramos ser uma indústria com rápida resposta e com colaboradores engajados e que vestem a camisa”, enfatizou, bastante animado, Frederico Ayres Lima, da Aperam South America, ganhando o apoio do comentário de Gustavo Werneck, da Gerdau, de que a indústria brasileira do aço possui enorme capacidade de transformação e grande capacidade para geração de oportunidades.