Existe ciência por trás de um brigadeiro perfeito? Se o doce é feito com medidas e ingredientes de forma que todas as unidades sejam padronizadas, podemos dizer que atendeu a princípios de qualidade, área que por sua vez está diretamente relacionada à estatística. Entretanto, poucos micro e pequenos empreendedores têm esse conhecimento e o resultado são produtos e serviços sem padronização e eventuais reclamações de clientes.

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Para contribuir com a mudança desse cenário, um estudo, realizado por Francisco Constantino Simão Júnior durante o Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT) e orientado pela professora Juliana Cobre, desenvolvido no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, mapeou os problemas das micro e pequenas empresas do setor de alimentos de Poços de Caldas (MG) e desenvolveu um material para treinamento básico em ferramentas estatísticas.

Utilizando dados das micro e pequenas empresas (MPE) do setor de alimentação de Poços de Caldas em seu projeto, Simão Júnior filtrou 565 MPE. Como nem todos os empreendimentos visitados estavam abertos ou aceitaram participar, ele teve de visitar 155 estabelecimentos para obter os 84 participantes necessários, entre eles lanchonetes, padarias, pizzarias, docerias, cafeterias e sorveterias. Nessas MPE, Simão Júnior aplicou um questionário com perguntas como, por exemplo: Qual o produto “carro-chefe” do local? Ele é fabricado sempre com os mesmos ingredientes? É produzido com receitas impressas e quantidades padronizadas? A equipe passa por treinamento? Os clientes reclamam da variação na qualidade?

Os resultados confirmaram a hipótese: os negócios que apresentam os fatores máquina, meio ambiente, mão de obra, matéria-prima, método e medição (os chamados fatores 6M de manufatura) padronizados, controlados e melhorados continuamente, num índice superior a 70%, têm menor taxa de reclamação de consumidores que os demais. Com as respostas dos entrevistados, Simão Júnior formulou um material para educação e treinamento básico em ferramentas estatísticas. Com exemplos do universo das MPE, ele compilou um passo a passo de ferramentas que permitem identificar problemas e oportunidades de melhoria, e avaliar o desempenho em processos de produção e entrega.

“As pequenas empresas não estão acostumadas a organizar os dados dos seus clientes. Não sabem, por exemplo, como direcionar a comunicação porque não conhecem as preferências do público-alvo. São conhecimentos que não deveriam estar tão distantes da sociedade em geral. Será que todo mundo precisaria fazer Administração ou Marketing para vender um cachorro-quente ou uma pizza? É um conhecimento que faz girar a economia”, conclui a professora Juliana Cobre do ICMC.

As orientações constam na dissertação de Simão Júnior, disponível na Biblioteca de Teses e Dissertações da USP (a partir da página 125), e os pesquisadores estão abertos a parcerias para publicação do material.

Fonte: ICMC-USP – E-mail: comunica.icmc@usp.br
Texto disponível no site do ICMC: www.icmc.usp.br/e/9e1da