Especializada na fabricação de tubos trefilados de precisão, a Aços Vic continua firme em sua trajetória de oferecer aos clientes produtos diferenciados e sob medida – em todos os sentidos – para atender às suas mais diversas necessidades.

Marcus Frediani

Alta tecnologia, precisão, qualidade e inovação são e sempre foram as marcas registradas da atuação da Aços Vic ao longo de mais de suas cinco décadas de existência, período em que a empresa se transformou em referência no Brasil no fornecimento de tubos de aço trefilados, peças semiacabadas e serviços de tratamento térmico.

Perfeitamente integradas à proposta da Indústria 4.0, com sistema de gestão profissionalizada, suas modernas e amplas instalações – que totalizam perto de 12.000 metros quadrados e empregam mais de 100 colaboradores, entre as áreas de administração e produção – ficam localizada no bairro do Ipiranga, na Zona Sul da cidade de São Paulo, com fácil acesso às principais rodovias do estado quanto aos seus clientes do setor automotivo, boa parte deles concentrados na região do ABC Paulista.

Marcelo Milochi

E nelas, o gerente geral da Aços Vic, Marcelo Milochi, gentilmente recebeu a reportagem da revista Siderurgia Brasil para esta entrevista exclusiva. Confira!

Siderurgia Brasil: Marcelo, como vem sendo a evolução do mercado de tubos trefilados ao longo dos últimos anos?
Marcelo Milochi:
De forma geral, 80% da produção industrial de tubos trefilados no Brasil se destina ao setor de autopeças. E como se sabe, nos últimos cinco anos, a indústria automotiva vem enfrentando desafios significativos, não apresentando um crescimento muito forte, de natureza muito mais orgânica do que, efetivamente, alimentado pelo desenvolvimento de novos projetos. Até mesmo por conta disso, também temos observado muita substituição tecnológica nela ao longo desse período, principalmente na linha de produtos que nós aqui da Aços Vic fornecemos a esses clientes. E como o nosso é um mercado no qual a concorrência entre as cerca de 20 empresas que o compõem é acirrada, e bastante sensível à questão dos preços, passamos a buscar alternativas, tais como a exportação de nossos produtos para a Europa e para a América Latina, notadamente para a Argentina. Entretanto, tais operações não passam de 3% do nosso faturamento.

Por outro lado, o setor em vocês atuam sofre muita concorrência dos importados?
Sim, a concorrência deles é bastante relevante. Embora os itens importados normalmente não cheguem por aqui competindo com nossos tubos especificamente, ela se dá de maneira indireta, porque muitos componentes utilizados por nossa clientela já chegam prontos para eles aqui no Brasil. E, aí, a gente acaba perdendo o fornecimento. E esse impacto, infelizmente, não é pequeno: se a gente pegar de 2014 para cá, podemos dizer que a Aços Vic perdeu algo em torno de meia fábrica para os produtos importados.

E como a empresa atravessou o período mais duro da COVID-19?
Desde o início da pandemia, o mercado acabou se desabastecendo de maneira geral, tanto no Brasil quanto no mundo. E além da famosa falta de microchips, sofremos impactos relacionados ao fornecimento de insumos e matérias-primas, como foi o caso do aço. E embora a situação do fornecimento dele agora esteja mais equilibrada, estamos convivendo com o problema do aumento dos preços da liga, que já subiram 200% no período do pós-COVID. Então, ainda existe um descompasso relacionado a isso.

Quais são as especificações de produtos fabricados atualmente pela Aços Vic?
Fabricamos essencialmente tubos trefilados de precisão, com e sem costura, dentro das normas DIN EN 10305-1, DIN EN 10305-2, DIN EN 10305-4 e ASTM A 179, nos diâmetros de 10,00mm a 75,00mm, com espessura de 1,00mm a 5,50mm para perfil o redondo, em comprimentos de 3.000mm a 7.000mm, fixo e múltiplos, sempre sob encomenda. Ou seja, não temos produtos “de prateleira” ou estoque de material de mercado, pois nossos itens se destinam especificamente aos projetos de nossos clientes: eles os apresentam a nós, explicam o que precisam em termos de tipo de tubo, propriedades mecânicas e demais características e, dentro de uma proposta de venda consultiva técnica, nós entregamos o que eles querem.

E que segmentos de mercado que vocês costumam atender?
Nosso range de atendimento são as indústrias de autopeças, motopeças e motores, mas também fornecemos, só que em escala reduzida, algumas peças para linha branca – como eixos de máquinas de lavar – e para o segmento de caldearia. E além dos tubos redondos, também trabalhamos com perfis especiais quadrados, retangulares e oblongos sob consulta. E, fora isso, temos também o setor de peças, no qual a gente agrega um pouco mais de valor a elas por meio de serviços de usinagem, corte, chanfro, estampagem de materiais, além de soldas e furos.

Vocês já estão integrados à proposta da Indústria 4.0?
Estamos trabalhando para nos adequarmos gradual e integralmente a essa nova realidade. Tanto em nosso setor de redução de barras e trefilação de tubos quanto no de peças, praticamente tudo o que investimos é pensado em termos de Indústria 4.0, e em tudo aquilo que a gente pode modernizar. Já temos máquinas automáticas com ferramentas que nos permitem monitorar online se a produção de cada uma delas está dentro dos padrões estabelecidos. Simultaneamente, estamos criando células de fabricação para integrar em apenas um equipamento o que antes era feito por várias máquinas. Complementarmente, estamos também apostando ainda no retrofit de nossas máquinas.

Qual é, atualmente, a participação da Aços Vic no mercado de tubos trefilados no Brasil?
Bem, é difícil precisar um percentual, uma vez que a gente tem que fazer isso com base nas informações que conseguimos levantar do próprio mercado, ou seja, dos nossos concorrentes e dos nossos fornecedores. Então, não temos informações oficiais, mas acreditamos que o nosso market share esteja aí entre 8% e 10%, não mais do que isso, porque, como eu disse aí atrás, esse é um mercado muito pulverizado entre empresas concorrentes dos mais variados portes. Talvez, esse percentual não pareça muito, porém, como nossos produtos são muito leves, quando passamos as medidas de quilos para metro, seguramente somos um dos maiores fornecedores no segmento de tubos trefilados.

Aí atrás, você mencionou que empresa também está buscando as exportações Esse tipo de operação já é bastante significativa para vocês?
Na verdade não. Estamos engatinhando nessa área. Por conta disso, nosso volume de exportações ainda é muito baixo, e não passa de 3% do nosso faturamento. Atualmente, vendemos para alguns países da Europa e da América Latina. Mas o que barra muito essas operações é a questão do preço. E, em função disso, não conseguimos ser muito competitivos no mercado externo.

Em outras palavras, é aquela velha e recorrente questão das assimetrias de competitividade.
Exatamente. E, nesse caso, uma maior atenção por parte do governo dedicada a ela é absolutamente primordial. Mas, na verdade, o governo não precisaria nem ajudar tanto: o que ele precisa fazer é criar um ambiente para que a gente pudesse buscar possibilidades de expandirmos os nossos negócios aqui dentro mesmo no país. Se o governo ao menos nos ajudasse com as questões relacionadas à realização das reformas estruturais, que estão aí há muito tempo na pauta de todas as gestões que entram, sem, contudo, avançar, isso seria perfeito, seria o ideal.

E quais as orientações atuais da empresa no sentido de entregar diferenciais aos clientes?
Veja bem, somos uma empresa com mais de 50 anos no mercado, que conquistou grande credibilidade entre os clientes, que sabem que nossos produtos são de altíssima qualidade, e são fabricados de acordo com as mais rígidas especificações técnicas para atender plenamente às suas necessidades. Por conta disso, estamos sempre investindo na modernização de nosso parque industrial, não só mirando a conquista de níveis cada vez mais altos de competividade, mas, sobretudo, de atendimento diferenciado, dentro de uma equação perfeita de custo x benefício para os clientes, até porque sabemos que nosso mercado é muito sensível à questão dos preços.

Em termos de tendências, existe alguma que vocês estão avaliando com mais carinho e atenção?
Sim. Em termos de perspectivas macro, a gente está avaliando muito para o futuro a tendência da eletrificação dos carros, que deverá trazer novas especificidades no âmbito da produção de peças e, ainda, a eventual substituição de algumas delas que vêm sendo utilizadas atualmente na fabricação de veículos. Acreditamos muito nessa tecnologia. E embora o Brasil ainda esteja engatinhando nesse processo, enxergamos nele uma via de evolução natural, que daqui, talvez , a 15 ou 20 anos, seja uma realidade aqui no Brasil. Então, estamos agindo proativamente nos preparar para isso.

Falando do presente, que perspectivas de crescimento da empresa vocês alimentam para 2022?
Nossa previsão inicial era de crescermos por volta de 10% em cima do volume. Contudo, o 1º Semestre do ano foi muito ruim, agravado não só pela crise dos semicondutores, como também pelos impactos da Guerra da Ucrânia. E embora a gente continue convivendo com esses problemas, estamos mantendo nossas programações de produção, e acreditamos que teremos um 2º Semestre bem melhor do que o primeiro, o que, talvez, nos permitirá atingir a meta na ordem daqueles já citados10%.

E para 2023?
Bem, embora eu não possa mencionar uma cifra específica, o que posso dizer é que estamos otimistas. E o que nutre essa expectativa são alguns indicadores, como a previsão do crescimento do PIB brasileiro entre 3,2% e 3,3% para 2022, que é bem maior daquela que tínhamos no início do ano, bem como o nível de desemprego, que está caindo. Sim, os juros estão altos, o que desincentiva o crédito e continua a nos preocupar, porque boa parte dos carros e motocicletas fabricados por nossos clientes são comprados por meio de financiamentos. Mas, o que a gente espera é que tenhamos uma desaceleração nesse sentido daqui para a frente, somada à regularização da situação do desabastecimento e, tomara, ao fim do conflito entre Rússia e Ucrânia. Por conta disso, a gente espera que 2023 seja um ano bom, ou um ano melhor, que nos permita superar a meta do crescimento orgânico.