O setor da distribuição independente de aço no Brasil está bem “redondo” quando se fala de estrutura. Em termos de processamento, recebe contínuos investimentos. Com isso, prevê chegar ao final do ano com cifra de crescimento, na contramão da tendência de queda do consumo aparente.

Marcus Frediani

Não se pode dizer que 2022 venha sendo um ano fácil para os operadores da distribuição independente de aço no Brasil. Mesmo assim, mês a mês, a compra de aços planos segue em ritmo de recuperação, na contramão da previsão anunciada pelas usinas de que o consumo aparente da liga no país deve apresentar uma significativa queda este ano.

Para falar deste e de outros importantes assuntos ligados ao setor que representa, a revista Siderurgia Brasil foi conversar com o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (INDA), Carlos Jorge Loureiro. Confira!

Siderurgia Brasil: Loureiro, como você tem analisado o movimento de avanço das usinas no sentido de montar distribuidoras próprias de aço? Esse movimento é algo que preocupa ou tem potencial para prejudicar as operações dos distribuidores independentes?
Carlos Jorge Loureiro:
A primeira observação é que isso não é nada novo. Estamos há mais de 30 anos nesse convívio, desde que as usinas passaram a atuar na distribuição a partir da privatização da Usiminas, em 1991, com movimento posterior quando a ArcelorMittal passou a controlar a antiga Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, que já tinha a Distribuição Belgo em sua estrutura. Então, isso, na verdade, não é bom, nem ruim. É o que, vamos dizer, “acontece” aqui no Brasil, seguindo mais ou menos uma dinâmica que também aconteceu em outros países. Assim, é uma situação normal. É lógico que o ideal para nós seria ter a distribuição como foi no passado, quando as usinas não participavam, basicamente porque eram usinas do governo, e não havia esse tipo de concorrência. Mas não é nada que gere sérios conflitos de interesses, ou que abarque e/ou faça com que a distribuição independente de aço acabe.

OK! Mas, concorrência é concorrência. E as usinas têm suas metas de compliance. Então, vocês estão percebendo algum tipo de queda nas vendas a partir do adensamento da citada tendência?
Em termos de resultados, a distribuição independente vem caminhando de maneira bastante satisfatória. Os balanços que ela apresentou no ano passado são robustos, com a grande maioria dos distribuidores obtendo muitos bons resultados. Assim, o problema da rentabilidade da distribuição não está muito ligado à concorrência e, sim, à oferta e procura. Quando você tem muita oferta, de certa maneira todo mundo tenta baixar seus preços para conseguir vender. E, aí, pode ser que quem tiver o melhor preço acabe levando os pedidos. Então, eu diria para você que, hoje, a distribuição independente de aço está e vai caminhando muito bem, obrigado!

De qualquer forma, você acredita que toda essa movimentação pode levar ou vir a incentivar as distribuidoras independentes a aderirem mais à operação de prestação de serviços?
R. – Sem dúvida. Eu diria para você que essa é a grande tendência. Hoje você ser um simples distribuidor – ou seja, por só comprar uma bobina, por exemplo, colocar no chão e vender – é uma atividade muito difícil, porque você precisa realmente agregar valor ou algum serviço. Você agregar simplesmente o serviço financeiro – comprar e depois revender pelo prazo –, isso hoje praticamente é algo que não tem muito sentido, a não ser no caso das empresas que atuam na distribuição de material importado, que fazem muito isso: compram e revendem o material pronto, do jeito que chega. Então, eu diria para você que, hoje, os distribuidores que estão em melhor situação normalmente agregam algum serviço, como rolo, blank. Em outras palavras, você vender um material como recebeu é muito difícil hoje. Assim, eu diria que a agregação de serviços é uma tendência interessante para a distribuição independente de aço, e é uma boa solução para as empresas desse setor conseguirem uma melhor rentabilidade.

Como se diz por aí, “a união faz a força”. E essa máxima tem um sentido todo especial para uma associação. O INDA tem realizado ações para atrair novos associados?
Esse é, definitivamente, um “trabalho de formiguinha”, de convencimento, que realizamos todos os dias, de maneira constante. Hoje, do total de players da distribuição independente de aço no Brasil, provavelmente 70% deles são associados ao INDA. E os 30% restantes, são compostos principalmente por importadoras, que, sem dúvida, também representam um segmento muito importante, dada a quantidade bem grande de aço que tem entrado de fora do Brasil ultimamente.

O que você pode dizer da atual estrutura da distribuição independente de aço? E os investimentos no setor: para onde estão sendo principalmente endereçados?
O setor está bem “redondo” quando se fala de estrutura. E, em termos de processamento, temos notado um contínuo investimento. Hoje em dia, grande parte desses recursos tem como destino ações de renovação tecnológica dos equipamentos das empresas. O empresário compra uma tesoura melhor, desenvolve algum programa de computação, e por aí vai fazer um upgrade nas suas atuais operações. E, apesar de esse ser um processo constante, não existe nenhum grande investimento a caminho.

Finalmente, em termos de resultados, qual a previsão do INDA para o fechamento de 2022 para o setor da distribuição independente de aço? Haverá crescimento? E para 2023: alguma previsão?
Eu diria que 2022 vai ser um ano com resultados menores do que aqueles registrados no ano passado. Dois mil e vinte e um foi espetacular, acredito que foi o melhor ano da distribuição. Agora, 2022 vai ser um ano mais dentro da normalidade, no qual, apesar de tudo, deveremos crescer algo em torno de 4,5% em relação ao ano passado, uma cifra, felizmente, bem diferente das projeções de consumo aparente das usinas, que deverá apresentar uma queda entre 12% e 13%.