Assim como em todas as atividades industriais os metais não ferrosos tiveram dificuldades em superar os acontecimentos mundiais em 2022 que mexeram e desequilibraram a cadeia de matérias primas mundial.

Marcus Flocke*

Foram vários acontecimentos mundiais em 2022, que influenciaram diretamente na cotação mundial dos metais não ferrosos. Os primeiros meses de 2022 foram bem complicados para a economia mundial e os setores industriais que dependem de metais não ferrosos, assim como tantos outros, foram fortemente prejudicados pelas altas nos preços de aquisição de matérias-primas.

Dois grandes fatores levaram o mundo a essa situação: de um lado, a opção russa por canhões, ao invés de manteiga(1), dando início a uma guerra inimaginável em pleno século 21; de outro, apesar de toda a comoção com as vidas perdidas em consequência do despreparo global para lidar com a pandemia de Covid-19 em 2020, foi nos primeiros meses de 2022 que se registraram números recordes de casos da doença. Nesse sentido, ainda que os maiores índices de mortes tenham ocorrido na chamada “segunda onda”, no início de 2021, a extraordinária elevação do número de casos no 1º trimestre de 2022 levou o mundo a experimentar uma falta generalizada e sem precedentes, de matérias-primas.

Com isso, todos os metais não ferrosos registraram as maiores cotações do ano de 2022 entre março e abril. O alumínio registrou uma variação de 37% entre a menor (assinalada em vermelho na tabela) e a maior (assinalada em azul na tabela) cotação do ano. Variações com amplitudes semelhantes foram observadas nos casos de todos os não ferrosos: entre a menor e a maior do ano, as cotações do chumbo variaram 21,79%, do cobre 26,45%, zinco 33,11%, níquel 43,15% e, no caso do estanho, relevantes 56,14%.

Mas, é importante registrar que, após as altas verificadas no final do 1º trimestre, as cotações de praticamente todos os metais caíram até outubro, quando então passaram a indicar leve tendência de alta novamente. Ainda assim, se compararmos as cotações médias de janeiro de 2022 com as de dezembro, quase todos os metais não ferrosos ficaram mais baratos: 20,3% no caso do alumínio, 5,6% no caso do chumbo, 14,4% no caso do cobre, 13,3% no caso do zinco e, de novo, relevantes 42,4% no caso do estanho. O único metal não ferroso que registrou aumento no preço médio mensal do final do ano, em relação ao preço médio de janeiro, foi exatamente aquele que mais afeta a indústria siderúrgica: o níquel. Nesse caso, a recuperação ocorrida a partir de outubro levou o resultado do ano a uma variação positiva de 29,2%. Positiva em valores, mas, obviamente, negativa em termos de efeito sobre os custos de fabricação de aço inoxidável.

O que esperar para 2023?

À exceção do chumbo e do níquel, acreditamos que todos os metais não ferrosos deverão apresentar uma recuperação de preços. Mas, se não tivermos nenhuma surpresa com relação à guerra na Ucrânia ou com outro fator que abale a economia mundial, essa recuperação de preços não deve ser muito significativa. No caso do níquel, como já houve uma recuperação parcial de preços no final de 2022, a tendência é que os preços se mantenham razoavelmente estáveis no decorrer do ano. Mas, de novo, dentro das atuais “condições de temperatura e pressão”. Já para o chumbo as perspectivas, nem sempre confirmadas, são sempre de queda, pois trata-se de metal que, embora importante na fabricação de alguns produtos industriais, é, cada vez mais, alvo de restrições e pressões, por parte de ambientalistas, pela redução de consumo.

Claro que previsões são sempre sujeitas a erros. Aliás, Baba Vanga(2) que o diga (se estivesse viva). No caso das cotações dos metais não ferrosos, as previsões refletem apenas uma opinião pessoal resultante de alguns anos de acompanhamento do mercado e, obviamente, não devem ser consideradas como se fossem resultantes de uma equação matemática.

1 – Referência a um clássico conflito de escolha, apresentado pelo economista Paul Samuelson, que se refere à decisão de uma economia entre produzir canhões ou manteiga. Diz a teoria de Samuelson que, quanto mais se gasta em armas, menos se pode gastar em manteiga (bens de consumo). Ver Trade-off – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org).

2 – Baba Vanga foi uma mística e fitoterapeuta búlgara. Cega desde a infância, no final dos anos 1970 e 1980, ela se tornou amplamente conhecida por suas alegadas habilidades de clarividência e precognição. As previsões da suposta clarividente, ao lado das especulações políticas e críticas ao redor do tema, continuam a aparecer na mídia em diferentes países e em diferentes línguas. Algumas foram confirmadas, outras não. Ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Baba_Vanga.

*Marcus Alberto Flocke é economista, sócio diretor da M. Flocke Consult Ltda, consultoria especializada em relações governamentais e internacionais e no desenvolvimento de projetos visando a obtenção dos benefícios ex-tarifários. www.flocke.com.br