Após registrar uma alta em abril de 2022, atingindo 71.877 toneladas – alta de 43% comparada ao mês anterior –, as exportações brasileiras de sucata ferrosa, insumo usado na composição de aço pelas usinas siderúrgicas de todo o planeta, começaram a despencar, e, no mês de dezembro, encerraram o ano com queda de 60% em relação ao mesmo mês de 2021 e de 27,5% no comparativo anual. As vendas externas apresentaram instabilidade e forte declínio em alguns meses no ano de 2022, e a demanda fraca no mercado interno também não ajudou as empresas que comercializam a sucata ferrosa.

E isso, aos olhos do mercado, deixou mais do que evidente a fragilidade dos negócios no exterior em função de fatores diversos, entre os quais a guerra na Ucrânia, a paralisação de usinas e portos, ainda, redução das compras pelos países asiáticos.

PREÇOS EM BAIXA
“A crise de energia na Europa, provocada pela guerra na Ucrânia, foi determinante para reduzir as exportações. Para agravar o quadro, também no Brasil a demanda e preços da sucata se mantiveram em baixa quase o ano todo”, destaca Clineu Alvarenga, presidente do Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa), órgão de classe que representa mais de 5,6 mil recicladores que reinserem insumos na cadeia produtiva. Ainda segundo o executivo, além do conflito na Ucrânia, o aumento do ferro gusa e de outros insumos também usados na composição do aço vêm impactando o mercado mundial. “Mas já existe uma tendência de acomodação dos preços. Assim, os valores da sucata tendem a se estabilizar após um período de altas artificiais”, afirma.

Em dezembro, foram exportadas 21.553 toneladas, ante 54.170 toneladas em igual mês de 2021. De janeiro a dezembro de 2022, o total exportado alcançou 369.305 toneladas, em comparação a 509.355 toneladas no mesmo período de 2021, conforme dados divulgados pelo Ministério da Economia, Secex. Mas, de acordo com S&P Global Platts, agência americana especializada em fornecer preços-referência e benchmarks para os mercados de commodities, uma boa mudança pode estar em andamento neste início de ano, quando o quadro parece estar começando a se mostrar mais favorável para o setor. Fontes do mercado mencionaram os recentes aumentos nos preços e nas compras impulsionados pelas taxas de produção mais altas nas principais siderúrgicas locais, após paralisações para manutenção planejadas e não planejadas, ou atraso na formação de estoques. Contudo, a expectativa geral é de que os preços comecem a melhorar gradativamente.

Alvarenga lembra que os recicladores de sucatas ferrosas estão abastecendo normalmente o mercado interno, como sempre fizeram, e só exportam os volumes excedentes não adquiridos no país. “As vendas ao exterior, sempre no limite máximo de 5% da produção local, é a alternativa encontrada pelo setor há mais de uma década para garantir a manutenção da atividade, que traz inúmeros benefícios ao meio ambiente e ao país”, diz o presidente do Inesfa.