Roberto Abreu*
O aço é a base do mundo moderno, mas a sua produção é uma importante fonte de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Segundo a IEA (International Energy Agency – Agência Internacional de Energia), a intensidade em carbono no setor de siderurgia, em 2021, foi de 1,39 toneladas de dióxido de carbono por tonelada de aço, o que corresponde a cerca de 7% das emissões globais de GEE do sistema de energia – igual às emissões globais de aviação, transporte marítimo e produtos químicos combinadas.
As emissões globais de carbono totalizaram 37,12 bilhões de toneladas em 2021 e, ao contabilizar as emissões indiretas, como as da mineração de ferro e do transporte de aço acabado em todo o mundo, o volume só aumenta.
Mas já existe uma alternativa: o aço verde. Análise da McKinsey sugere que a demanda na Europa por esse produto, gerado por meio de carvão vegetal, aumentará para 45 milhões a 50 milhões de toneladas métricas por ano até 2030, com o risco de um déficit de oferta de mais de dez milhões de toneladas.
De acordo com um relatório da Wood Mackenzie, o caminho para a produção do aço neutro em CO2 exigirá entre US$ 1,3 e US$ 1,4 trilhão até 2050. Esses investimentos precisarão ocorrer em toda a cadeia de produção, desde a mineração até a fabricação, passando pela captura do carbono produzido no processo. As siderúrgicas também terão que adotar a energia renovável e investir em formas de hidrogênio verde.
Mas como atingir a meta de emissões líquidas zero e ao mesmo tempo reduzir custos e adotar as práticas de ESG (Environmental, Social and Governance – Ambiente, Social e Governança)? A resposta está na automação de processos em todas as áreas, como produção, logística, vendas, financeiro e, também, monitoramento de toda a cadeia de suprimentos.
Dados consistentes em toda a cadeia de produção
Para atender aos requisitos ESG e, ao mesmo tempo, reduzir custos, é preciso obter insights sobre emissões, oferta, demanda e preços para cada entrada de material. E, para planejar a descarbonização da cadeia de suprimentos, as siderúrgicas devem primeiro entender as emissões geradas durante todo o ciclo de produção.
Uma siderúrgica não depende apenas do desempenho de seu alto-forno. É mais do que na hora de adotar tecnologias digitais, com sistemas de gestão e de monitoramento, em toda a cadeia de valor, criando um modelo de relacionamento com fornecedores, clientes e stakeholders.
Inovadoras soluções, implementadas por equipes especializadas, oferecem o monitoramento e análise de processos; avaliações de sustentabilidade de produtos e fornecedores, e gestão ambiental, financeira, qualidade, entre outras.
Como melhorar o desempenho
Muitas siderúrgicas já são líderes digitais, adotando tecnologias para reduzir o risco de falhas, e aumentar a segurança do processo e a garantia de qualidade. Mas existe um potencial para fazer maior uso da digitalização para quantificar, monitorar, registrar e avaliar processos para melhorar o desempenho e os relatórios de sustentabilidade.
As soluções digitais também podem ajudar a melhorar a produtividade, otimizando o consumo de energia, minimizando o desperdício e controlando as emissões, com cadeias de suprimentos mais ágeis.
Realizar essa mudança exigirá uma jornada digital consistente para liberar o potencial de novas tecnologias e obter economias de escala, melhorando a sustentabilidade em toda a cadeia de valor.
Construir um processo de produção mais sustentável é um investimento de longo prazo, mas que certamente trará enormes benefícios ambientais ao longo de todo o ciclo de vida do aço verde, gerando maior lucratividade para o setor de siderurgia.
*Roberto Abreu é mestre em Banco de Dados pela Universidade de Londres. Larga experiência em tecnologia da informação, sendo 17 anos em implantação do sistema SAP ERP associado à Reengenharia de Processos de Negócios. É sócio da Blend IT Consultoria e um dos responsáveis pela parceria com a SAP Brasil, também é ponto focal para o SIG Mining & Mills da Asug Brasil.