O Brasil possui um potencial de captura de CO2 que pode chegar a quase 200 milhões de toneladas por ano, o que representa cerca de 12% do total de emissões de carbono no Brasil anualmente.

Henrique Patria

Recebemos um estudo inédito realizado pela CCS Brasil, uma organização sem fins lucrativos que estimula as atividades ligadas à Captura e Armazenamento de Carbono no país através de um processo que visa trazer um impacto sustentável positivo para a sociedade, e que reúne diversas tecnologias para a captura, transporte e armazenamento permanente do gás carbônico em formações rochosas com profundidades acima de 800 metros. A CCS Brasil promove a cooperação entre todos os entes dessa cadeia produtiva incluindo empresas financiadoras, indústrias, governo, universidades e a sociedade.

Este relatório aponta que o Brasil possui um potencial de captura de CO2 que pode chegar a quase 200 milhões de toneladas por ano, o que representa cerca de 12% do total de emissões de carbono no Brasil anualmente. “Se o país conseguir de fato colocar esses projetos de descarbonização em prática, isso o colocaria entre os líderes mundiais na captura de carbono e no combate ao aquecimento global”, explica Nathália Weber, engenheira e cofundadora da CCS Brasil.

Estes dados fazem parte do 1º Relatório Anual da CCS Brasil e também apontam setores e regiões mais emissoras e aqueles com maior potencial para a captura e armazenamento de carbono.

O documento aponta que o potencial para a redução de emissões por projetos da CCS está relacionado especialmente às atividades nos setores de energia e indústria. Apenas no Brasil esses setores emitem quase 500 milhões de toneladas de CO2 ao ano.

“Todas as indústrias que utilizam combustíveis fósseis em seu processo produtivo ou precisam de combustível de alta densidade energética e possuem mais dificuldades para diminuir as suas emissões. É o caso das siderúrgicas, cimenteiras, químicas e refinarias. Por isso, as tecnologias da CCS são reconhecidas como uma das principais ferramentas para descarbonização de processos industriais, principalmente quando se buscam alternativas para o parque industrial existente”, explica Nathália Weber.

De acordo com dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), a indústria brasileira emitiu um total de 85 milhões de toneladas de CO2 em 2021 (5,2% das emissões totais), especialmente na Região Sudeste e com maior contribuição por parte do estado de Minas Gerais. Apenas o setor de produção de metais correspondeu a quase 70% das emissões dos processos industriais.

“Já as emissões do setor de energia estão relacionadas principalmente à geração de eletricidade em termelétricas, utilização de energia na indústria e produção de combustíveis fósseis, como petróleo e derivados, gás natural e carvão mineral. Apesar de ser conhecido por ter uma matriz energética limpa, os combustíveis fósseis representaram 53% da oferta de energia do país em 2021”.

Segundo o relatório há um grande potencial de captura, com mais de 48% das oportunidades de aproveitamento de CO2. Apenas o estado de São Paulo possui um volume próximo a 40 milhões de toneladas de gás carbônico com potencial para CCS (20%).

Se considerarmos apenas o potencial para a produção de bioenergia (BECCS), as regiões Sudeste e Centro-Oeste concentram as principais fontes de bioenergia, com 87% do volume total. Nesse sentido, o estado de São Paulo também lidera o potencial de capturar mais de 15 milhões de toneladas de CO2 por meio de BECCS. 60% desse valor é oriundo de plantas de etanol.

Potencial para armazenamento de carbono
Segundo Nathália, o armazenamento geológico é a principal tecnologia de destinação do CO2 capturado para a implementação de projetos da CCS em larga escala, que ocorre por meio de processos que consistem em injeção e estocagem de CO2 de forma segura e permanente em formações geológicas adequadas. “O CO2 fica aprisionado nos poros ou fraturas das rochas em altas pressões e em grandes profundidades e pode reagir com fluidos e minerais por mecanismos químicos e físicos de modo a aumentar a estabilidade do armazenamento sem retornar à atmosfera”, destaca a especialista.

O relatório destaca que entre as principais áreas de interesse no Brasil estão as Bacias Sedimentares de Santos, Campos, Potiguar, Recôncavo, Amazonas-Solimões e Paraná. A Bacia dos Parecis foi incluída nas áreas de interesse devido ao anúncio de projeto da CCS em estudo na região. Nathália, porém, ainda explica que são necessárias mais pesquisas e campanhas para a identificação de novas áreas com potencial de armazenamento.

Outro ponto de importância ressaltado diz respeito à logística e ao transporte do CO2. “É preciso haver compatibilidade entre a fonte de emissão de CO2 e o local de armazenamento, principalmente quanto às opções de transporte de CO2 e as distâncias.