Mesmo contando com dificuldades para fechar a conta neste ano o Grupo Dagan continua acreditando que deve seguir em frente com seu planejamento.

Henrique Patria

Sem se distanciar de seus princípios que são a excelência no atendimento, qualidade dos produtos ofertados e pontualidade na entrega o Grupo Dagan, acredita na retomada dos negócios e projeta uma nova rodada de investimentos que chama de Segundo Ciclo.

No entender de José Antonio Pauleschi, CEO do Grupo Dagan, que concedeu uma entrevista exclusiva à revista Siderurgia Brasil, vivemos um momento delicado e as previsões para este ano são no mínimo comprometedoras com uma queda estimada em 20% em seu faturamento.

SIDERURGIA BRASIL: A pergunta inicial não poderia ser outra senão de como está o andamento dos negócios neste ano?
JOSÉ ANTONIO PAULESCHI:
Estamos convivendo com quedas mensais em nosso faturamento em reais e não volumes, o que nos faz projetar uma queda de cerca de 20% em nossas receitas.

A que você atribui esta queda?
Há uma queda no preço do aço no mercado internacional e o Brasil não está fora disso. Sentimos o impacto no mercado interno, pois somos “estoquistas” e em muitos casos compramos produtos por determinados valores e para acompanharmos o mercado somos obrigados a “realizar prejuízos”. A consequência é que se não fizermos isso abriremos espaços para nossos concorrentes.

Acreditamos que esteja criando uma demanda reprimida e daqui há pouco voltamos para uma situação de preços razoavelmente saudáveis onde possamos obter o retorno justo e esperado. Entendo ainda que se esta retomada demorar demais, muitas empresas revendedoras e distribuidoras, terão enormes e perigosas consequências em seus fluxos de caixa e em suas finanças.

Neste momento complicado, como você citou acima, quais são os mercados que você tem uma atuação forte e que vem dando uma resposta positiva?
Está ocorrendo um fenômeno em que muitas empresas têm deixado de lado os cuidados principalmente com a qualidade, buscando somente preços menores. Isto é muito cruel para nós que trabalhamos muito com a qualidade, pois produtos inferiores têm chegado ao mercado com preços que não dá para acompanhar. Já tivemos casos de clientes que buscaram tais alternativas e diante dos prejuízos vieram nos procurar novamente. Temos no momento uma atuação forte no setor do agronegócio principalmente no fornecimento para grandes empresas nacionais e internacionais produtoras de máquinas e implementos agrícolas. Já no setor automotivo a atuação é mais modesta, principalmente por ser um mercado muito disputado e com margens de rentabilidade muito reduzidas.

Atuamos em várias áreas metal mecânicas e na distribuição de tubos para várias necessidades. Estamos mapeando as possibilidades de exportação, mas de antemão esbarramos no “Custo Brasil” que inviabiliza a maioria das incursões no mercado externo, mas continua em nosso radar.

Uma das principais preocupações que temos notado no segmento da siderurgia é a chegada de produtos importados, principalmente vindos da China ou do Oriente. Como vê este momento?
Sem dúvida este é um problema que está afetando toda a cadeia siderúrgica no Brasil. Tivemos dois anos, após a pandemia, atípicos, quando foram praticados preços muito “fora da curva” e em que todos os empresários do setor foram beneficiados e obtiveram resultados positivos. O momento passou e hoje, como a China passa por uma crise na construção civil, há excesso de aço, que ela tem de colocar em algum lugar. Internamente como o Brasil não consegue elevar o seu consumo de aço “per capita” há muitos anos, e com a chegada maciça de aços importados, o mercado está super oferecido, com baixa demanda. Há ainda alguns produtos que tem um problema estrutural no Brasil. Os tubos sem costura por exemplo, são fabricados no Brasil, por somente uma usina que tem o monopólio e escolhe para quais distribuidores vai passar sua produção, obrigando os demais distribuidores a importar para poder participar do mercado. Entramos recentemente no mercado de tubos para petróleo e gás com os tubos API A 106 e com os tubos mecânicos ST 52, que não conseguimos adquirir no mercado interno.

E como são as suas projeções para o final deste ano de 2023 e para o ano de 2024?
Para este ano de 2023, sentimos principalmente no segundo semestre que um dos principais segmentos que atendemos que é o agronegócio está adiando seus investimentos, principalmente pela insegurança política que vivemos, com invasões de terras e destruição de centros de pesquisa não sendo enquadrados na lei. Estamos preparados para uma queda de 20%. Já para o ano de 2024 está muito difícil fazer uma projeção, mas com os juros caindo aqui no Brasil e uma possível retomada de crescimento nacional e internacional e a solução ou encaminhamento das guerras que estão acontecendo, acreditamos que teremos um ano melhor do que este.

Olhando um pouco para dentro como você está equipado, para atender uma possível retomada de mercado em 2024?
A nossa estrutura está composta de quatro divisões que são:
Divisão Indústria – Localizada em Guarulhos, no Jardim Presidente Dutra, em uma área de aproximadamente 10.000 m², dedicada ao mercado de peças tubulares e equipadas com: bancas de trefila, perfiladeira, fornos de pré-aquecimento, curvadoras equipadas com CNC, Centro de Usinagem, máquinas de Corte a Laser para tubos e outros equipamentos industriais.
Divisão Distribuição – Também em Guarulhos, no Jardim Aracília, Km 206 da Via Dutra, em área de aproximadamente 20.000 m² onde armazenamos cerca de 7.000 ton. de tubos de aços com destaque para Tubos Estruturais redondos, quadrados e retangulares, com e sem costura, Tubos de Condução com e sem costura nas normas API5L-NBR 5590/5580, O Tubos Mecânicos ST52 e os Tubolões de 18” a 24” importados.
Divisão de Tratamento de Superfície – É uma divisão onde fazemos decapagem, oleamento, fosfatização e saponificação com capacidade instalada de 800 ton./mês.
Divisão de Prestação de Serviços para Terceiros – O foco é o de mão de obra para atender a terceiros, onde realizamos serviços de perfilação, trefilação de tubos, tratamentos térmicos, corte, curvatura e dobra de tubos, corte a laser de tubos de aço e usinagem.

Para finalizar o que você está projetando para o futuro da Dagan?
Queremos concluir este “primeiro ciclo” até o final de 2024, com a implantação de uma nova divisão de Logística, com aquisição de caminhões novos, visando a prestação de serviços para o setor siderúrgico. Queremos também criar uma administradora de bens no formato de um FIDC que irá financiar a compra de nossos produtos para os clientes assim como atuar no campo de descontos de títulos para a Dagan e para terceiros.

E, pensando mais adiante, naquilo que chamamos de “segundo ciclo” temos uma área de cerca de 100.000 m² no município de Guararema, a poucos quilômetros de nossa sede que pode servir para implantarmos um polo siderúrgico. Este é um projeto em que admitimos a hipótese de contar com investidores tipo Private Equity para concluirmos a ideia.