Todo cuidado é pouco. Talvez esta seja a frase que melhor defina tudo aquilo que se discutiu no ALACERO SUMMIT 2023.

Marcus Frediani

Nos dias 8 e 9 de novembro, a Associação Latino-americana do Aço (ALACERO) promoveu em São Paulo, mais uma edição anual de seu ALACERO SUMMIT. O encontro reuniu mais de 700 executivos presenciais no Transamérica Expo Center, além de centenas de outros que participaram da transmissão ao vivo online, para discutir os caminhos, desafios e oportunidades do setor de aço, além de abordar o panorama geral da indústria e a influência externa no mercado regional.

Logo no início da programação do SUMMIT, Vikram Mansharamani, especialista em tendências globais, abordou no bloco “Mercados e Geopolítica” o mito da globalização e porque é que a regionalização é importante. Na sequência, Máximo Vedoya, CEO da Ternium, trouxe uma análise das oportunidades de reindustrialização para a América Latina. Por sua vez, Brian Winter, analista político para a América Latina e editor-chefe do Americas Quarterly, apresentou perspectivas sobre o futuro e o impacto na reindustrialização e no desenvolvimento econômico.

Dando continuidade aos trabalhos, foi promovido o bloco “Inovação e Indústria 4.0”, trazendo David Gutiérrez, CEO do Grupo DEACERO, para falar sobre inovação e tecnologias aplicadas à indústria e Santiago Bilinkis, empresário e tecnólogo, que ilustra como a inteligência artificial está impactando a indústria manufatureira. A sessão contou ainda com dois painéis de discussão e apresentação de cases: o primeiro sobre tecnologias e digitalização com as grandes empresas Primetals, Danieli e Russula, e o segundo com startups tecnológicas que estão fornecendo soluções para a indústria, como Agilean e Kraftblock.

SUSTENTABILIDADE E ENERGIA
Já no segundo dia do encontro, Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, trouxe à discussão o tema da “Sustentabilidade”, falando sobre como o setor siderúrgico impacta positivamente as comunidades por meio da promoção da educação, habitação, saúde e cultura. Em seguida, foram apresentados os cases específicos do setor e da cadeia de valor do Grupo Techint, ArcelorMittal, Gerdau, Vale e Whirlpool.

Por sua vez, abordando o tema da “Transição Energética”, Marcelo Martínez Mosquera, presidente do Departamento de Energia da União Industrial Argentina, ofereceu uma visão global da energia no mundo e da transição energética. Em seguida, Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO Aços Longos e Mineração LATAM, pôs em debate sua visão de como a indústria latino-americana está enfrentando esse desafio. Finalmente, sobre a mesma questão axial para a indústria siderúrgica da América Latina, a grade de atividades do ALACERO SUMMIT realizou um painel de casos relacionados às empresas de energia, entre as quais a Engie, colocando em foco como os recursos naturais constituem uma oportunidade para a região.

E em paralelo às atividades de conteúdo promovidas no auditório do Transamérica Expocenter, o ALACERO SUMMIT 2023 contou com uma exposição comercial com a presença das principais marcas, além de três espaços imersivos que proporcionaram excelentes oportunidades de networking a seus participantes.

CONSUMO APARENTE
Embora trazendo algumas (poucas) projeções positivas para o fechamento da indústria do aço da América Latina, o futuro da siderurgia da LATAM revela-se atualmente muito incerto. É o que demonstrou a exposição dos dados e estimativas feitas durante a Coletiva de Imprensa do ALACERO SUMMIT por Alejandro Wagner, diretor geral da ALACERO, e Marco Polo de Mello Lopes, do Instituto Aço Brasil – câmara anfitriã do evento –, e que não deixou ninguém ir para casa muito tranquilo.

De acordo com a apresentação, o consumo de laminados deverá aumentar 2,4% este ano, no comparativo com resultado de 2022, atingindo 71Mt, tendo, contudo, como fato impulsionador o crescimento da participação das importações extrarregionais, que, no ano passado representou 31% (21,2Mt), e deverá alcançar 34% (24Mt) em 2023, registrando um aumento de três pontos percentuais. Enquanto isso, a produção local deverá registrar queda de 7,5%, totalizando 58Mt.

Complementarmente, ainda em clima de “tempestade perfeita”, Alejandro citou que, em relação a 2022, o volume de exportações apresentará uma redução de 2,6 Mt, registrando 7,9 Mt, enquanto que o volume de importações aumentará 2,1 Mt, totalizando 26,5 Mt, números que reforçam ainda mais a existência da forte – e já citada – atividades externas à cadeia da América Latina. “De 2015 a 2023, 88% do aço consumido na América Latina veio de importações extrarregionais, devido a assimetrias competitivas que impactam a oferta local”, asseverou, manifestando compreensível preocupação no que tange à evolução do quadro atual do consumo aparente.

SEMPRE A CHINA
Com efeito, o risco iminente em relação ao comércio desleal proveniente do exterior vem tirando o sono da siderurgia latino-americana. E o principal algoz desse cenário tem um nome bem conhecido. Atualmente, a China continua a ser a principal origem do aço importado para a região, representando nada menos do que 29%. E embora exista um enorme número de ações antidumping abertas na LATAM no 1o Semestre de 2023 – 63% delas dirigidas somente contra a China –, tais ações parecem não estar surtindo efeito.

Aliás, é o que confirmam os dados coletados pela ALACERO e pela Worldsteel, que mostram que, em 2022, a quantidade média global de CO2 emitida por tonelada de aço bruto produzido foi de 1,91t, enquanto que a da China foi de 2,24t, enquanto que a da América Latina foi de 1,55t, o que representou uma queda de 7% em relação ao ano anterior.

“Em nossa região, produzimos aço com uma pegada de carbono 15% inferior à média global, e 30% inferior à da China. Porém, hoje, boa parte do aço consumido na região vem direta e indiretamente daquele país, em condições que não são de mercado justo, substituindo empregos de qualidade e afetando o meio ambiente”, reforça o diretor executivo da ALACERO.

Compartilhando a opinião de Alejandro, Marco Polo destacou que as empresas que produzem aço na América Latina estão fazendo progressos constantes ao tomar medidas que reduzem a sua pegada de carbono. “A região precisa de uma transição justa: tem vantagens em termos de recursos naturais, mas também prioridades sociais e econômicas que os países desenvolvidos já resolveram”, fez questão de registrar no encontro com a Imprensa.