Completar 90 anos de existência não é para qualquer um. O Sicetel, uma das mais representativas entidades filiadas à FIESP e relacionada a cadeia do aço, está comemorando seu aniversário de 90 anos. Há muitos motivos para comemorar, mas também muitos motivos para refletir sobre o futuro de seus associados.
Henrique Pátria
No dia 12 de setembro de 1934, foi fundado o Sindicato das Indústrias de Condutores Elétricos e Trefilação no Estado de São Paulo, a primeira denominação do Sicetel, e um dos primeiros sindicatos a se filiar à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – fundada em 1928 por Roberto Simonsen –, no momento em que o Brasil deslanchava o seu processo de industrialização.
Em 1970, o Sicetel amplia sua representação também para o setor de laminação, e altera sua razão social para Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação no Estado de São Paulo. Já em 1980, ocorre a subdivisão e ele passa a representar as empresas de trefilação e laminação de metais ferrosos em São Paulo. Após nove anos, em maio de 1989, é redefinida a sua extensão territorial agora para todo o país, já com o seu nome definitivo e atual de Sindicato Nacional das Indústrias de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos.
Após as mudanças na legislação sindical, implantadas pela lei 13.467/2017, em 5 de dezembro de 2018, o Sicetel resolve criar a Associação Brasileira da Indústria Processadora de Aço (Abimetal), atendendo a um anseio de seus associados, que procuravam uma nova forma de atuação associativa, complementarmente também abrindo as portas de sua representação a outras empresas que operavam no beneficiamento de metais ferrosos, e que, por força da legislação, não se enquadravam nos estatutos do sindicato. Em 2022, com a sua extensão territorial expandida, o Sicetel-Abimetal passou a integrar os quadros da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), e, em 2023, por meio da Abimetal, passou a integrar ainda a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o que se deu em função de sua atuação no Fórum Nacional da Indústria.
AMPLIAÇÃO DE SERVIÇOS
Após a criação da Abimetal, em 2019 foi possível a criação do Indusclube, a maior plataforma de convênios e benefícios com condições exclusivas para os associados da entidade. São convênios com mais de 20 categorias de negócios, entre os quais, farmácias, livrarias, educação e outros, por meio dos quais os associados e seus colaboradores têm oportunidades de obter vantagens em suas compras. Ato contínuo, em 2023, o Sicetel-Abimetal participam da criação do Induscoop, uma instituição financeira formada pela aliança entre a FIESP, o CIESP e o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), com o objetivo, entre vários outros, da oferta de produtos financeiros, tais como empréstimos, financiamento de capital de giro, investimentos, com taxas diferenciadas para seus associados.
Em resumo, nos dias atuais ambas as entidades têm como principal meta atender às reivindicações e os interesses dos integrantes da categoria em todos os seus níveis, através da representação junto aos Poderes Públicos e Privados em pleitos empresariais, direcionados à defesa e a favor da indústria e da categoria, bem como a difusão de conhecimentos e informações que possam ser úteis ao desenvolvimento do corpo associativo, e ainda à assinatura e à promoção de acordos, convenções entre outras formas de atuação. Em conjunto com demais associados da FIESP, um dos grandes objetivos do Sicetel-Abimetal é trabalhar na reindustrialização do Brasil, diante do fato insofismável de que os dados demonstram a perda de espaço da indústria no desenvolvimento econômico do país nos últimos anos.
O ANUÁRIO 2024
Um dos pontos altos do Jantar de Confraternização das entidades foi a apresentação do Anuário Estatístico do Sicetel, denominado “Análise do Mercado do Aço 2024”, já está na sua 13ª edição. Destacamos a seguir, algumas informações e números referentes ao desempenho das empresas associadas.
Os setores de trefilação e laminação constituem o primeiro elo da cadeia metalomecânica a jusante da indústria siderúrgica, e a montante das manufaturas de bens finais. Ele opera com tecnologias menos intensivas em P&D, mas guarda relevante potencial para futuros desenvolvimentos, em razão do uso de novas ligas e da versatilidade oferecida pela propriedade de reutilização/reciclagem do aço.
O setor lida com uma variada gama de produtos entre eles, se encontram barras e arames trefilados, perfis, tiras e fitas relaminadas e diversos derivados de arame, como arames farpados e ovalados, telas metálicas, cabos e cordoalhas, correntes industriais, elementos de fixação (pregos e grampos) e clipes.
São mais de 60 empresas associadas, que empregam mais de 35 mil trabalhadores, e foram responsáveis pela transformação estimada de 2,8 milhões de toneladas de aço no ano de 2023, com uma queda de 4,7% em relação a 2022, o segundo ano consecutivo de queda, já que, naquele período, ocorrera retração de 9%.
No segmento de longos, a participação estimada das empresas do Sicetel-Abimetal atingiu 27,6% em 2023, mantendo a participação de anos recentes. Em relação a 2016 e 2017 – anos de maior representatividade para essa categoria de produto –, registrou-se, porém, queda de 3,5 p.p. a 4,4 p.p., respectivamente. No segmento de planos, a participação foi de 5% em 2023, com estabilidade em comparação aos anos anteriores.
Diante a esses resultados, um dos aspectos que chama a atenção no Anuário é o tópico relativo às importações, no qual registramos a seguinte afirmação: “A China reina absoluta quando o tema são as importações de aço e de produtos derivados. Em valor, como em quantidades, a região asiática – leia-se China –, registra participação superior a 50% do total das importações realizadas pelas empresas locais. A Europa ocupa a segunda posição, e mostra força no envio de partes, peças e componentes estruturados em aço, representando, aproximadamente, 37,7% do valor, e 33,6% dos volumes totais. Em síntese, Ásia (China) e Europa asseguraram participação ao redor de 90% das operações de compra de produtos trefilados e laminados em 2023.”
Conclui: “Apesar de o crescimento da economia em 2023, a indústria siderúrgica brasileira não performou tão bem. As usinas siderúrgicas responderam pela produção de 32 milhões de toneladas de aço bruto no ano passado, o que representou queda de 6% em comparação ao ano anterior. Foi o menor volume dos últimos três anos, com forte impacto das importações provenientes da China. O montante produzido correspondeu a 1,7% da produção mundial, e 55% da produção latino-americana.”
A COMEMORAÇÂO DOS 90 ANOS
Com um jantar, servido no Salão Nobre da FIESP na Av. Paulista, em pleno coração de São Paulo, foi realizada a comemoração dos “90 anos do Sicetel”, que serviu não apenas para a celebração da data em si, mas para ensejar um encontro e troca de opiniões entre os principais players sobre a situação atual e o futuro do setor. Notamos a frustação entre os empresários de que não será tão cedo que veremos o “Brasil Grande”, com a indústria tomando o seu lugar como protagonista no desenvolvimento da nação.
Apesar das ótimas revelações feitas pelo Eng. Jorge Lima, secretário do Desenvolvimento do Governo do Estado de São Paulo, acerca das obras e iniciativas do governador Tarcisio de Freitas em favor da indústria paulista, o pronunciamento emocionado do presidente do Sicetel-Abimetal, Ricardo Martins pedindo mais respeito pelo setor industrial, e conclamando a todos para a realização de um pacto para um futuro melhor para o Brasil, foi o ponto alto do evento.
Martins citou que a indústria brasileira é enormemente competitiva do portão para dentro, mas não consegue vencer o famigerado “Custo Brasil”, que no ano passado drenou R$ 1,7 trilhão – ou 19,5% do PIB brasileiro, configurando a existência de um verdadeiro “manicômio tributário” ocasionado pelo peso dos impostos cumulativos, atraso nos investimentos em infraestrutura, enorme dificuldade em acessar financiamentos e, ainda, pela maior taxa de juros real do planeta.
O executivo destacou também a expectativa criada pela Reforma Tributária que foi aprovada, mas ainda não regulamentada, que, com todas as exceções que já foram injetadas na Câmara de Deputados, vai gerar um IVA no Brasil com a absurda alíquota entre 27% e 28%, que será a maior do mundo. “Assim, quando a Reforma Tributária entrar em vigor, ela servirá para muito pouco”, registrou Martins.
Destacou o fato de que se discutiu por meses a fio a construção de um novo Arcabouço Fiscal, que veio para substituir o Teto de Gastos, mas que acabou redundando em uma nova “autorização” para o governo gastar cada vez mais com o Estado. E isso é uma realidade, uma vez que, todos os dias, vemos a falta de interesse do governo em equilibrar as contas públicas. “Deve-se considerar que o governo brasileiro é esbanjador, gasta muito mais do que pode e, pior, gasta mal”. Continuou “E some-se a tudo isso o sequestro dos recursos do Executivo pelo Legislativo. Deputados e Senadores, que não foram eleitos para gerir o dinheiro da nação, se apropriaram de R$ 5 bilhões para o Fundo Eleitoral, e de R$ 49 bilhões para emendas que não necessitavam nem de comprovação”.
Martins lembrou ainda das distorções do Judiciário que se preocupa em legislar, quando não é este seu papel, causando enorme insegurança jurídica aos possíveis e cada vez mais escassos investidores estrangeiros.
O presidente do Sicetel-Abimetal ainda fez questão de tecer comentários sobre o programa “Nova Indústria Brasil” (NIB), criado pelo Governo Federal com o objetivo de promover a reindustrialização no Brasil. Contudo, Martins não demonstrou muita confiança com a efetividade da nova política. “Quando o NIB sair do papel, ele não terá forças para combater as distorções com os grandes volumes de importação de produtos que chegam ao país, principalmente da China. O Brasil, ao contrário de outros países, como os Estados Unido ou União Europeia e Reino Unido, nos quais a indústria sempre foi colocada como protagonista do desenvolvimento e da geração de riquezas, infelizmente ainda é muito lento na adoção de medidas de preservação da indústria local”. Não é possível que em um país como o nosso, não consigamos aumentar o consumo de aço, que, em 2023, não passou de 110 kg/ano por habitante, ao passo que vemos o mundo, como um todo, consumir a média per capita de 219,3Kg/ano, sendo que, na China, esse número alcança 628,3kg/ano por habitante. E, preocupante também é que, pelo terceiro ano consecutivo, a economia brasileira não vai crescer mais do que 3%, sendo que para o próximo ano, a previsão é ainda menor, orbitando os 2,4%, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central.
Diante de tantos atropelos e circusntâncias, Ricardo Martins finalizou seu discurso propondo a adoção de um pacto entre a Iniciativa Privada e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciario, no sentido de construir uma indústria forte e competitiva, por meio da criação de um ambiente de negócios mais amigável. “Para isso, é preciso uma tributação adequada, juros menores, câmbio estável, mão de obra mais qualificada e regras claras que afastem qualquer tipo de insegurança juridica. O Brasil e os brasileiros merecem isso”, encerrou, sob aplausos da plateia.