Setor de máquinas e equipamentos fecha balanço de 2020 com crescimento, perspectiva de normalização das vendas internas e, ainda, de melhora das exportações para 2021.

Boas novas. Em dezembro de 2020, a receita líquida da indústria de máquinas e equipamentos registrou movimentação de R$ 13,4 bilhões, o que representou um crescimento de 36,7% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Esse forte resultado deveu-se tanto à comparação com o fraco dezembro de 2019, como ao contínuo aumento das vendas de máquinas no mercado interno e externo. Dessa forma, a receita líquida do setor somou R$ 144,5 bilhões entre janeiro e dezembro de 2020, crescimento de 5,1% no ano. Assim, após sucessivas retrações, o ano de 2020 encerra com a sinalização de normalização das vendas internas e melhora das exportações para 2021.

De acordo com o Departamento de Competitividade, Economia e Estatística (DCEE) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), o ganho de fôlego do setor contou com o forte desempenho das vendas internas, turbinadas a partir do segundo semestre, marcado pelo aumento da atividade e pela retomada de alguns segmentos-clientes, entre os quais o de Bens de Consumo, em especial, os de máquinas para madeira, alimentos e refrigeração.

SENSÍVEL QUEDA NAS EXPORTAÇÕES
A seu turno, no acumulado do ano, as vendas externas de máquinas e equipamentos registraram a maior queda desde a crise de 2009: entre janeiro e dezembro, as exportações recuaram 23,7%. Os principais tombos nas receitas de exportação foram registrados nos segmentos de máquinas para logística e construção civil (-35%); máquinas para petróleo e energia renovável (-37,2%); e máquinas para a indústria de transformação (-22,2%).

No contraponto, apesar das fortes involuções, nos últimos meses houve melhora na margem em dezembro, mês que apresentou a primeira alta nas exportações desde o início da pandemia no país: em dólar, elas avançaram 0,9% na comparação interanual, interrompendo a longa sequência de retrações consecutivas. “Dessa forma, embora o crescimento tenha sido modesto, o resultado do último mês do ano passado sinaliza uma possível mudança de rumo das exportações em 2021”, avalia João Carlos Marchesan, presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ.
Em termos de empregabilidade, o estoque de pessoas ocupadas no setor de máquinas e equipamentos superou o de 2019. Em dezembro, o setor fechou o ano com 326,5 mil postos de trabalho, quase 24 mil empregos a mais que o observado em 2019. A forte recuperação na produção dos setores fabricantes de máquinas ferramentas, máquinas agrícolas, reservatórios metálicos e determinados componentes explicam esse aumento. A continuação das contratações dependerá da expansão da capacidade instalada nos próximos meses.

TOMBO MENOR NAS IMPORTAÇÕES
Já no que diz respeito às importações de máquinas e equipamentos, estas cresceram 11,9% em dezembro de 2020, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Essa foi a segunda alta consecutiva após sucessivas quedas entre março e outubro. Ao longo do ano passado, houve crescimento das compras de máquinas para petróleo e energia renovável (10,6%) e máquinas para infraestrutura e indústria de base (15,1%). Por outro lado, as importações retraíram fortemente nos segmentos de máquinas para agricultura (-22,2%) e máquinas para a indústria de transformação (-16,7%).

Com isso, as compras caíram menos do que o esperado na somatória do ano. Entre janeiro e dezembro de 2020, as aquisições feitas no mercado externo recuaram 5,7%, o que, na leitura da entidade, sugere que a retomada das importações deverá ser sustentável em 2021. “Mesmo com a atividade econômica em ritmo lento, as importações se concentraram em segmentos de infraestrutura. A perspectiva é de oportunidades nesses segmentos frente à expansão dos projetos de parceria público-privada neste ano que se inicia. Contudo, a expectativa é de normalização das compras externas à medida que a atividade interna ganhe tração”, afirma Marchesan, da ABIMAQ.

INVESTIMENTOS EM CAPACITAÇÃO
Acerca do tema, Paulo Castelo Branco, presidente executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (ABIMEI) faz uma ressalva importante, ao considerar que importar tecnologia, mas fazer a produção aqui no Brasil é algo importante para melhorar o cenário da indústria nacional: “Temos que ter a economia aberta para trazer tecnologia, algo que, entretanto, segue na contramão do entendimento de alguns players locais. Hoje, a gente tem a economia aberta para trazer produto final, o que significa que estamos jogando contra nós mesmos. Então, precisamos trazer o máximo de tecnologia de máquinas e equipamentos de fora, o que vai possibilitar que nossas indústrias abasteçam o mercado local, e também se transformarem em exportadoras, gerando conhecimento, arrecadação de impostos e, ainda, empregos, porque, quando trazemos o produto pronto, acabamos ‘exportando’ postos de trabalho”, analisa.

Por conta disso, uma constatação torna-se mais do que evidente: para que se produza bem em nosso país, com a tecnologia que vem do exterior, é preciso mão de obra qualificada no Brasil. E, aí, não há receitas milagrosas: “Precisamos de investimentos em ensino técnico e educação em geral entre nós. E isso, um bom plano de qualificação técnica do trabalhador brasileiro é o que não foi feito nos últimos 20 anos por aqui”, finaliza Castelo Branco.

BOM RESULTADO NO AGRO
Indiscutivelmente, a pandemia do novo coronavírus exerceu um forte impacto nos resultados do setor de máquinas e equipamentos. Porém, apesar desse fato, o agronegócio brasileiro não parou. Embora ainda prévios, os dados das vendas para o segmento devem apresentar crescimento real de 12% (descontada a inflação) e 20% nominal em 2020, em relação ao ano passado, com faturamento estimado em R$ 20,5 bilhões, de acordo com projeção da ABIMAQ. “Tivemos uma ótima safra agrícola, as exportações do agronegócio bateram recordes e a valorização do dólar em 30% propiciaram uma grande rentabilidade para os agricultores das culturas de exportação como soja, milho, café, algodão, laranja, celulose e carnes”, ressalta Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da entidade.

Por conta disso, ainda segundo Bastos, o cenário para a indústria de máquinas agrícolas para 2021 continua positivo. “O Brasil se tornou um grande fornecedor de alimentos para o mundo, principalmente para Ásia onde as áreas aráveis para cultivo estão em grande parte tomadas. No entanto, a população cresce numericamente e aumenta sua renda, demandando alimentos e o Brasil prossegue como um dos grandes fornecedores desse mercado. Baseada nessa conjuntura, a previsão para o próximo ano é de um crescimento real de 3% (descontada a inflação) e nominal de 10% nas vendas, chegando a R$ 21,9 bilhões de faturamento”, projeta o executivo.
Entretanto, para materializar tais expectativas positivas, mais do que claro é o papel fundamental do governo em tomar medidas urgentes no sentido de se organizar, a fim de permitir o crescimento sustentado da economia, de modo que a reversão da desindustrialização garanta emprego e renda para o cidadão.

“Sim, devemos ter um 2021 promissor. Mas, para isso são necessárias ações que garantam a isonomia competitiva do setor produtivo, proporcionando ampliação de sua participação no mercado doméstico e internacional. Assim, além de insistir nas reformas estruturais – principalmente, a tributária, a administrativa e a política –, devemos continuar articulando com o governo e lutando pela criação de uma política industrial condizente com a indústria brasileira de bens de capital mecânicos, que é o setor responsável pela difusão tecnológica em toda a cadeia produtiva, e que tem papel preponderante no aumento da produtividade nos setores agrícolas, de serviço e industrial. Se tudo isso for feito, teremos uma expressiva melhora do ambiente de negócios do país, além de muitos outros benefícios”, finaliza o presidente da CSMIA.

Por: Marcus Frediani

Marcus Frediani
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