Com contínuos investimentos em equipamentos e sistemas de Controle Ambiental desde o início de sua operação, no primeiro semestre de 2016, a CSP é hoje referência nacional e mundial de eficiência produtiva e de respeito ao meio ambiente.

Marcus Frediani

No mês em que se comemora o Dia do Meio Ambiente, a revista Siderurgia Brasil traz uma entrevista exclusiva com  Marcelo Baltazar, gerente de Meio Ambiente da Companhia Siderúrgica do Pecém. E nela, mais do que uma conversa agradável, ele dá uma verdadeira aula sobre o tema da sustentabilidade. Sem dúvida, um exemplo a ser seguido. Confira!

Siderurgia Brasil: A atenção que a Companhia Siderúrgica do Pecém dedica à questão da sustentabilidade, com atualização e desenvolvimento permanente de processos modernos e de melhoria na área, é notória nacional e internacionalmente. Por que essa preocupação é tão vital e importante para a empresa?
Marcelo Baltazar:
Uma pergunta que eu faço sempre para quem me pergunta isso é: você sabe o que mais mudou em termos de revolução ambiental nos últimos anos? Aí, a pessoa responde: ora, foram os equipamentos, as legislações e por aí vai. E quase ninguém acerta. O que mudou, de verdade, foi a mentalidade, a cabeça das pessoas. E essa conclusão é muito gratificante para mim, que estou há uns 24 anos na área ambiental. Hoje, essa realidade é muito diferente daquela que a gente tinha quando eu comecei a estudar e trabalhar nessa área. Atualmente, temos revistas e jornais especializados no tema, assim como cursos em escolas técnicas e de graduação e de pós-graduação em universidades sobre ele. Fui um dos primeiros funcionários contratados aqui na CSP – minha matrícula aqui na CSP é de Nº 14, em um universo atual de mais de 5.000 hoje em dia –, o que atesta que a companhia e seus acionistas, lá atrás, já tinham a preocupação e davam muito valor à questão da preservação e da conservação do meio ambiente. Em outras palavras, já naquele tempo eles já entendiam que o cuidado com a área ambiental era um ativo multifacetado da empresa, um canal de diálogo, que rege desde a relação dela com os bancos até com a vizinhança da usina.

Super importante a manutenção desse nível de relacionamento, principalmente com a comunidade do entorno da usina, porque estabelece bases sólidas de respeito e confiança, no âmbito da convivência mútua.
Exato! Ao longo de minha trajetória, já vi um monte de empresas serem fechadas em função da falta desses elos. As pessoas não aceitam mais a socialização dos problemas relacionados ao meio ambiente por uma ninharia de benefícios. Elas querem viver em um ambiente calmo e pacífico, com regras bem estabelecidas e delimitadas. E é por isso também que a questão de transparência na sustentabilidade está no DNA da CSP. Nossos  vizinhos sabem de tudo que está acontecendo aqui no que diz respeito ao meio ambiente. Recebemos frequentemente visitas de representantes de auditorias nacionais e internacionais, e tudo é comunicado e partilhado imediatamente com a comunidade, tanto no que diz respeito à divulgação de nossos indicadores ambientais quanto de eventuais problemas que possam acontecer, para que as pessoas saibam que estamos trabalhando para encontrar as soluções. Então, a sustentabilidade é o que nos guia para o equacionamento saudável e satisfatório dessa relação.

Manter essa relação saudável, no entanto, tende a ser um desafio constante. Como vocês estão aparelhados para vencê-lo, e quais os diferenciais da CSP em termos de equipamentos?
Costumo dizer que o setor de siderurgia é a “Disneylândia” dos sistemas de controle ambiental. Tudo que um estudante de faculdade vê na teoria nos cursos existe na prática em uma usina. Agora, quando se fala em diferenciais da CSP, posso listar vários, em diversos níveis. Em primeiro lugar, a preservação ambiental aqui dentro é um pilar, um conceito e uma variável que aplicamos em tudo aquilo que fazemos, quer seja no campo econômico, quer seja no campo da engenharia e no campo do relacionamento. Por conta disso, quando desenvolvemos o projeto de nossa usina, nos preocupamos em trazer para o estado do Ceará o estado da arte em equipamentos de produção. Por quê? Bem, eu tive um professor na faculdade que falava sempre que poluição nada mais é do que dinheiro fora do lugar. Então, a produção tem que ser eficiente, mas, obrigatoriamente, tem que respeitar o meio ambiente, até por uma questão econômica. Por essa razão, e cientes de nosso compromisso, fizemos questão de ter instalados na CSP equipamentos que estão entre os melhores do mundo em termos de controles ambientais.

Nesse sentido, um dos mais famosos destaques da usina foi a escolha, digamos, “ecologicamente correta” do local para sua instalação, assim como o cuidado que ela tem com os recursos hídricos no processo de produção. Por exemplo, ela é uma das únicas siderúrgicas no Brasil a limpar os gases de Aciaria, sem a utilização de água. Como vocês fizeram essa conexão?
Quando resolvemos implantar a CSP no Ceará, não encontramos lugar melhor em termos ambientais para instalar uma siderúrgica do que a cidade de São Gonçalo do Amarante. E isso, por vários motivos ligados à questão das emissões, porque aqui você tem uma bacia atmosférica muito boa, com um terreno plano e vento constante. Então, isso é excelente. Contudo, o Ceará é um estado que tem a particularidade, tem uma variabilidade muito grande em termos de fornecimento de água. Então, fizemos questão de trazer para a CSP os equipamentos e processos mais modernos do mundo no que tange à produção de aço e ao controle e à utilização dos recursos hídricos disponíveis. E esse do tratamento dos gases da Aciaria é um deles.

Como ele funciona?
Bem, em todo o Brasil, todos os sistemas de tratamento são feitos por recirculação via úmida, usando água, e o nosso é via seco. Em termos gerais, o funcionamento dele é o seguinte: a Aciaria gera um gás, durante o sopro de oxigênio no convertedor, chamado LDG. Esse gás é captado durante o processo, passa por um sistema de lavagem a seco, efetuando seu resfriamento e limpeza. Após o tratamento desse gás, ele será utilizado para geração de energia, já que a CSP gera toda energia que consome e vende o restante ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O sistema de limpeza a seco do gás promove redução do consumo de água e elimina a geração de lama de Aciaria. E isso facilita também a destinação dos pós que são gerados. A gente tem duplo benefício, porque, em primeiro lugar, não temos um pó úmido, que permite que a gente faça a aplicação dele no processo novamente, temos um sistema que tem uma eficiência até melhor sem utilizar água, que usa energia elétrica, mas essa energia é do nosso próprio sistema. Então eu não tenho que usar do sistema nacional. Outro sistema interessante é o de dessulfurização de gases. Normalmente, as outras siderúrgicas o dessulfuram parcialmente, e o nosso é 100%.

E qual o benefício disso para o meio ambiente?
Com gás 100% dessulfurizado as nossas emissões de SOX, de SO2, que são precursores da chuva ácida, são baixos, em percentuais muito abaixo do que a legislação pede. E a particulagem é quase zero. Então, nós nos preocupamos com consumo energético, com eficiência operacional e aí quando entramos na questão dos controles de eficiência ambiental, temos alta taxa de recirculação de água para as emissões, além dos melhores e mais robustos sistemas de abatimento do pó. Isso, sem falar na questão da sinterização, que é um problema em qualquer lugar do mundo. Hoje, a nossa opera abaixo da metade dos padrões nacional e internacional, que são bastante restritivos. A média de 2020 da CSP para o consumo de água por tonelada de aço bruto foi de 4,5 m³/tab (toneladas de aço bruto). Esse consumo está 29% abaixo dos valores de referência das outras siderúrgicas nacionais, que é de 5,8m³/tab, segundo o Instituto Aço Brasil.

Dessa forma, a emissão de água é praticamente zero.
Além de ser zero, ela sai numa qualidade muito boa para descarte. Para consumo interno, ela tem parâmetros que afetam a operação, mas que nada tem a ver com o meio ambiente. Um exemplo disso é o caso do cloreto, que, em níveis altos, pode afetar os equipamentos, mas, para o meio ambiente não faz diferença nenhuma. Agora os demais parâmetros, cianeto, ferro, todos os metais de modo geral, todos os cátions e ânions saem muito abaixo do padrão legal. Além disso, quando fazemos o descarte, não o fazemos para um rio e, sim, para uma estação de tratamento de efluente final. Ou seja, fazemos ainda um último tratamento antes do descarte.

E em termos de resíduos sólidos, como a CSP cuida da destinação deles?
Temos uma taxa de reaproveitamento de 99,7% dos nossos resíduos, porque eles são utilizados em aplicações tanto interna quanto externamente, em operações de reciclagem, reaproveitamento e reutilização. Dentro do processo de produção, temos três grandes grupos deles, que são os pós, as lamas e as escórias. Como os pós e as lamas têm a mesma característica da nossa matéria-prima, carvão, minério e cal, eles voltam ao processo de fabricação. Temos uma empresa terceirizada especializada no tratamento de pós e lamas dentro da nossa unidade, que pega esses materiais, faz um blend conforme a característica exigida, e entrega esse material para nossa unidade de sinterização, a fim de que ele possa retornar ao processo. Já as escórias de alto forno, cujo termo correto para defini-las hoje é “agregados siderúrgicos” – uma vez que esses materiais não são resíduos e, sim, agregados –, eles saem do nosso processo diretamente para serem processados em outras empresas, tais como as cimenteiras, por exemplo. Assim, dentro da nossa classificação geral, estamos tentando dar a eles a nomenclatura de “coprodutos”, porque, no final das contas, eles são matérias nobres, que não são descartadas.

No dia 29 de maio do ano passado, a CSP teve sua Licença de Operação renovada por mais seis anos pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace), o que comprova que todos os requisitos da empresa estão de acordo com as exigências das legislações ambientais. Como isso repercutiu para vocês?
Sem dúvida, isso evidenciou o empenho de nossa equipe operacional e de manutenção para que o trabalho da área atinja todos os objetivos ambientais, de saúde e segurança dos empregados e das comunidades próximas. Desde que começamos a construção da companhia, passando pelo início da operação e a estabilidade das atividades, implantamos e cumprimos todas as exigências ambientais internacionais, que são mais rigorosas do que a legislação nacional. É um valor para nós fazer o uso responsável e sustentável dos recursos naturais, além de assegurar a segurança e saúde dos nossos empregados e das pessoas que vivem na região onde estamos instalados. Com a renovação, entre outras coisas, assumimos o compromisso perante à Semace de realizarmos a permanente calibração de todos os controles ambientais e equipamentos de monitoramento, a manutenção da limpeza das drenagens, a manutenção de todos os sistemas de controle ambiental e, ainda, a manutenção de um canal de comunicação com as comunidades próximas.

Marcelo Baltazar

E, pelo que dá para entender a partir desse seu depoimento, tudo isso, que já vem sendo operacionalizado pela CSP, vai continuar a ser realizado pela empresa, por meio de novos investimentos, dentro de sua proposta de evolução constante e ininterrupta, correto?
Sem dúvida. Somos uma empresa de altíssima complexidade, de porte excepcional, que apresenta altos números econômicos, sociais de alavancagem do estado do Ceará. E trabalhar em uma empresa que é vista pelos órgãos ambientais como parceira, que quando é auditada é indicada como referência, e que com apenas um ano de operação já foi certificada na ISO 140001, traz um orgulho muito grande para a gente. Como ambientalista posso dizer, sem medo de errar, que o que fazemos por aqui pelo meio ambiente é feito em poucos lugares. Trabalhando na CSP, a gente se sente útil não só para a empresa, como também para o meio ambiente e para o Brasil, com a certeza de que estamos trilhando não só o caminho mais eficiente, mas, sobretudo, trilhando o caminho certo.