A siderurgia brasileira sempre foi considerada um setor estratégico para o Brasil e peça importante no desenvolvimento industrial do país. Uma referência a esse fato está no artigo “A siderurgia brasileira no contexto mundial”, de autoria de Maria Lucia Amarante, Luiz Mauricio da Silva Cunha e José Ricardo Martins Vieira – respectivamente, gerente setorial, economista e engenheiro da área de Siderurgia do BNDES –, publicado na Revista do BNDES de junho de 1994, portanto já no período pós-privatização.

Logo na sua introdução, o texto ressalta essa premissa: “Este trabalho relata a situação do setor siderúrgico, estratégico para nossa economia, no qual é necessário empreender-se um esforço conjunto para a busca de maior competitividade, em contexto atual de crescente internacionalização”.

Aliás, mantendo o foco na questão da competitividade, vale fazer um retrospecto comparativo sobre o que aconteceu antes e depois da privatização do setor. Na década de 1980, a siderurgia brasileira era composta por mais de 30 empresas que, por meio do controle interno de preços pelo governo, contava com grandes reservas de mercado, que normalmente consistem em conjuntos de ações feitas pelo governo para proteger um ou mais setores específicos da economia. No Brasil a lembrança mais recente é a da reserva da Informática, que restringia a entrada de empresas estrangeiras nesse mercado no Brasil, que vigorou entre 1984 e 1990, e que até hoje inspira comentários sobre o atraso ao qual o Brasil foi submetido ao longo do período.

Contudo, durante o processo de privatização e abertura da economia nos anos 1990, diante do fim do mercado protegido por tarifas, o setor siderúrgico nacional partiu para a redução e simplificação de custos, o que acabou por ensejar um verdadeiro processo de concentração no mercado, por meio de fusões e acordos bilaterais.

Neste momento, a indústria produtora de aço no Brasil clama pela criação de uma barreira provisória fiscal em forma de imposto de importação, de 25% sobre o aço que chega ao Brasil. A principal alegação é que o nosso país é o único no mundo que ainda não restringe a invasão de aço importado, principalmente aquele que vem da China, com preços que sugerem – ou, mais do que isso – configuram um dumping explícito. Mas, veja bem: o que se propõe não é a imposição de uma nova reserva de mercado, mas, sim, uma medida de contenção para proteger uma indústria estratégica contra as práticas predatórias no comércio internacional.

Esse é um assunto muito delicado que tratamos em vários conteúdos nesta edição da revista Siderurgia Brasil, tais como a matéria de cobertura do ALACERO SUMMIT 2023, e em outras bastante específicas que tratam de como podemos proteger a indústria siderúrgica brasileira do citado e famigerado dumping ao qual ela se encontra exposta, bem como aquela que fala sobre a delicada situação ante a tal cenário de contradições. A questão promete novos lances nos próximos dias, e o calor das discussões em torno do assunto deve subir a temperatura.

Além desse momentoso assunto, em nossas páginas falamos de outros temas não menos atuais, como o do meio ambiente e assuntos técnicos relacionados ao segmento tubos, além das sempre preciosas estatísticas e de diversas outras questões que estão na ordem do dia.

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Boa leitura!

Henrique Pátria
Editor-chefe – henrique@grips.com.br