Na leitura das páginas desta edição do Anuário Brasileiro da Siderurgia 2024, nossos leitores irão perceber que a indústria siderúrgica nacional – assim como o setor industrial brasileiro como um todo –, terão que fazer uso de toda a sua capacidade de resiliência para encarar os desafios de 2024 e dos próximos anos.

Como é nossa tradição, ao completarmos 25 anos de publicação do Anuário, entrevistamos os principais protagonistas da grande cadeia do setor, na qual não só estão envolvidas as usinas produtoras, como também os processadores e distribuidores, prestadores de serviços, produtores de equipamentos e fornecedores de suportes e/ou insumos, além de consultorias variadas. A partir dessas interlocuções, a conclusão que chegamos é a de que, para superar esta fase especialmente difícil em que nos encontramos, serão necessários esforços titânicos, bem como a ampla utilização do arsenal de ferramentas modernas e adequadas que temos à nossa disposição, a fim de que possamos extrair o maior nível de produtividade das empresas, por meio da colocação no mercado de produtos que estejam aptos a competir na atual conjuntura planetária. Claro, nessa equação existe a situação política, muito volátil e sempre imprevisível, na qual optamos por não nos aprofundar.

Na questão da produção, desnudamos todos os números que nos foram franqueados pelas diversas fontes consultadas, e mostramos que a queda real de produção de aço – quando deveria ter sido o contrário – e a parca utilização de apenas 60% da capacidade instalada das nossas usinas nos remetem e estão relacionadas a dificuldades extremas. E estas são marcadas por múltiplos e acachapantes fatores, tais como o encolhimento das empresas; a redução da ocupação de mão de obra, com o consequente rearranjo (ou, para sermos mais diretos, a dispensa de colaboradores em vários níveis profissionais qualificados); o recuo dos investimentos que estavam programados; e, ainda, pela semiparalisação das pesquisas que manteriam nossos produtos em pé de igualdade com o que está sendo produzido no exterior.

Por sua vez, do lado dos principais clientes e consumidores também existe muita desconfiança sobre como deverão ser os próximos meses. A indústria automobilística, a exemplo do que ocorreu com a siderurgia, registrou, em 2023, o recorde da chegada de carros importados, principalmente os elétricos e aqueles vindos da China, fato que fez com que a participação deles no mercado brasileiro saltasse de 3% em 2022, para 12% no ano passado. Pelo visto, a China resolveu acordar de vez o “dragão” contido em suas divisas, e passou definitivamente a atacar em todas as frentes. Basta ler o livro “O Poder da China”, de Ricardo Geromel (Editora Gente) para entender o que estou falando.

Com uma capacidade instalada de produção de 5 milhões de veículos por ano, mesmo com o crescimento da produção orbitando irrisórios 1,3%, a indústria automobilística nacional não chegou a 50% de seu potencial, uma vez que somente 2,2 milhões de unidades saíram efetivamente das fábricas brasileiras em 2023. E, na esteira disso, vem o setor de autopeças, o da indústria de ferramentas, os produtores de veículos de duas rodas, bem como a indústria ferroviária, que também continuaram trabalhando abaixo de suas metas.

E a lista de desventuras em série não para por aí. Haja vista, por exemplo, as distorções inexplicáveis que levaram ao recorde de exportação de sucata metálica brasileira, que deveria ajudar a indústria nacional a atingir suas metas de descarbonização, associada à utilização de fornos elétricos, mas, na verdade, irão apenas auxiliar outros países a atingi-las.

Como se tudo isso não bastasse, o crescimento do processo de desindustrialização que tristemente assistimos no Brasil também vem se acentuando. Em matéria especifica, com farta exibição de demonstrativos, o presidente do Sicetel/Abimetal – duas das mais fortes entidades que compõem a FIESP – demonstra que a nossa indústria caminha de maneira irrefreável na direção de seu processo de encolhimento e sucateamento.

Outro assunto que destacamos nesta edição do Anuário Brasileiro da Siderurgia diz respeito às fontes alternativas de energia. A busca pela transição energética que é uma das preocupações globais mais recorrentes em todos os fóruns nos quais se discute o futuro da Humanidade. As opções mais lógicas e amplamente disponíveis no Brasil e em muitas partes do mundo – tais como a hídrica, a energia solar e a eólica – juntam-se agora à sua geração a partir da promissora matriz do hidrogênio. Nesse sentido, há notícias concretas de que, na China, já existe um alto-forno siderúrgico alimentado por esse combustível virtualmente inesgotável.

E, em nossas páginas, dedicamos um espaço também ao tema da ESG, a famosa sigla que define as ações com foco voltado às questões nas áreas do Meio Ambiente, da Responsabilidade Social e da Governança Corporativa. Nessa matéria, damos aos nossos leitores algumas dicas de instrumentos e ferramentas que precisam ser implantadas imediatamente.

Destaque ainda nesta edição para a situação atual do mercado de metais não ferrosos. Nosso especialista internacional apresenta um quadro fiel e detalhado de como se comportou o setor, e quais deverão ser os cenários futuros que ele deverá trilhar. Finalmente, a relação de Usinas Produtoras e das Entidades Congêneres, completa a primeira parte desta publicação.

E, como já é tradição, na sequência apresentamos o nosso conhecido “Guia de Compras de Produtos e Serviços da Cadeia Siderúrgica”, trazendo a relação da maioria das empresas de todos os portes que integram a nossa cadeia produtiva, nela destacando com tarjas amarelas os nossos parceiros comerciais.

Enfim, a conclusão que chegamos é de que existe, sim, uma forma de mudarmos o quadro difícil que acabamos de comentar. E esta passa obrigatoriamente pelo desenvolvimento do mercado interno para a retomada de nossa cadeia produtiva. E, aí, tropeçamos novamente na questão política, sobre a qual abrimos espaço para nossos leitores fazerem os seus comentários.

Mas, nossa esperança e torcida são sempre para que o melhor aconteça, e que, no final de 2024, possamos comemorar os bons resultados do NOSSO BRASIL.

Muito obrigado e boa leitura!

Henrique Pátria – Editor-chefe

henrique@grips.com.br